2007/05/25

Matar moscas com mísseis

Aqui há uns anos uma canção chamada "Tourada" venceu o Festival da Canção RTP. Estávamos em período pré-25 de Abril. A canção falava de peões de brega "cuja profissão não pega." Este verso motivou um comunicado irado de um até então desconhecido "Sindicato dos Toureiros". Num período em que os sindicatos eram calados à força, o comunicado deste "sindicato", com largas e conhecidas tradições na luta sindical (!), motivou ampla campanha e mereceu grande cobertura dos jornais. De tão ridícula a situação foi alvo, num primeiro tempo, de uma enorme chacota, para logo a seguir ter merecidamente caído num total esquecimento. Naquele tempo as pessoas estavam mesmo mais atentas e aparentavam ter uma maior noção do ridículo.
Não sei porquê, lembrei-me de tudo isto a propósito dos actuais casos das declarações do ministro Lino ou dos comentários do professor Charrua...
O certo é que enquanto a malta anda toda distraída com estas momentosas e graves questões e assiste à mobilização por parte dos partidos de toda a artilharia pesada de que dispõem para lidar com este assunto, o governo acaba de fazer aprovar, de forma discreta e invocando habilmente larga soma de motivos virtuosos, uma proposta para criação de uma base de dados de ADN. Que me lembre esta questão, gravíssima, não mereceu nunca qualquer espécie de debate, nem foi nunca discutida na imprensa.
Os portugueses conhecem hoje bem o deserto do Poceirão e o Charrua da DREN, mas desconhecem inteiramente as consequências que para si e para os seus descendentes pode ter este projecto da base de dados de ADN e os problemas que gerou noutros países. As seguradoras e as famacêuticas (como pagar os 719 milhões que o Estado lhes deve...?), essas, já devem estar, entretanto, a esfregar as mãos de contentes.
ADN... mmm, mas que raio é isso? Um novo partido? Uma marca de desodorizante? Ou será a sigla da empresa de desinfecção que nos vai livrar de toda a poluição social...?
Ó Mendes! Ó Sousa! Ó Chico! Tragam aí mais mísseis!!!

2007/05/24

jamais

Há ministros que, se não existissem, tinham de ser inventados. Por exemplo, Manuel Pinho, Isabel Pires de Lima, Jaime Silva e, tantos outros, também de outros governos, de quem já nem me lembro o nome...Mário Lino, pertence certamente a esta galeria de carácteres notáveis. Que seria do "Contra Informação" ou do "Inimigo Público", sem eles?
As últimas declarações do ministro das obras públicas, sobre a localização do novo aeroporto, são de espantar! Não sei se hei-de rir, se hei-de chorar...
Viajante assíduo de avião e, por isso, de aeroportos, fico sempre espantado com as opiniões definitivas dos nossos governantes sobre tal matéria: desde os delirantes louvores à Portela, que já não pode crescer para lado nenhum e representa um perigo acrescido em termos ambientais e acidentes aéreos imprevisíveis; até à OTA (custe o que custar) porque já não há tempo a perder (para quem?), todos os argumentos parecem válidos. No Sul, é que não! Porquê? Porque todos os especialistas (todos?) dizem que no Sul, "jamais" (em francês).
Ora, como sabemos, "jamais" em francês, tem muito mais força do que jamais (nunca, em tempo nenhum, principalmente), em português. É difícil combater este argumento linguístico.
E porque é que o aeroporto não pode ser a Sul do Tejo (quereria o ministro dizer Alentejo)?. Porque lá, nada medra. Veja-se a agricultura: não tiveram os alentejanos de vender os "montes" aos lisboetas e emigrar para Lisboa? Veja-se o Alqueva: não foi lá construído o maior lago artificial da Europa para regadio e afinal só lá andam barcos? Veja-se o porto de Sines: não é que, entretanto, acabaram os petroleiros de grande calado? Veja-se a base de Beja: então não é que só lá podem trabalhar chineses?. Aquela terra está amaldiçoada, Ali, nada dá. Nunca. "Jamais" (em francês).
Eu não sei se a OTA é pior ou melhor local para construir um aeroporto. O senso comum diz-me que não. Mas de uma coisa eu desconfio: é da pressa em construir o aeroporto na OTA. Hoje, até o presidente do partido no governo veio dizer que um aeroporto na margem Sul era um perigo, pois se os terroristas dinamitassem uma das pontes sobre o Tejo, o aeroporto ficava isolado do Mundo. Extraordinário!
Lê-se, ouve-se e não se acredita. Alguém era capaz de comprar um carro em segunda-mão a esta gente? Eu, jamais...

citação do dia

Com agradecimentos a A Causa Foi Modificada
«Se o PSD tivesse um mínimo de vergonha na cara e algum vestígio de respeito pelos eleitores de Lisboa que nele votaram nas passadas eleições, reuniria toda a direcção política para uma conferência de imprensa às oito da noite, e anunciaria a decisão de se abster de apresentar um candidato às próximas eleições autárquicas, pedia desculpas aos lisboetas pelo sucedido nos últimos não sei bem quantos anos e prometia gastar os próximos a pensar numa estratégia e num candidato de qualidade para Lisboa.»

2007/05/23

Espantosa Itália

Espantosa Itália, sempre no limiar da ingovernabilidade, porém sempre recomposta. Universo político de que não estão nunca ausentes jogos florentinos de poder com tons de "commedia dell'arte". É a Itália que se traduz muitas vezes ainda na expressiva fórmula do velho dirigente socialista Pietro Nenni (1891-1980) : país onde "tutto vive, niente funziona". Ora, nesta espantosa e única Itália, o "Partito Democratico" em constituição, no qual convergem personalidades do centro-direita e do centro-esquerda, toma como modelo o partido homónimo estado-unidense e pretende-se de inspiração kennedyana (seja lá o que isso for nos dias de hoje...). E o comité constituinte, que conduzirá este embrião de partido até 14 de Outubro, data da realização da assembleia contituinte, integra nada mais nada menos que 45 membros. É já apelidado, pois, de "il comitatone". Pressagiam algumas más- línguas, como o mordaz humorista Michele Serra, do "La Repubblica", que o primeiro congresso da novel organização será - evidentemente - o da respectiva dissolução. Veremos ("staremo a vedere") ...

os pequenos sinais

O processo disciplinar recentemente imposto a um professor, por alegada anedota sobre o primeiro-ministro, é em si uma anedota, mas revela outra coisa mais grave: a intolerância persecutória de uma coordenadora do ensino, no seguimento de uma denúncia, à boa maneira dos "bufos" do antigo regime.
Não devemos admirar-nos. Depois da proposta-lei, sobre avaliações na função pública, que aceita denúncias de mau desempenho, como critério de avaliação, tudo pode acontecer. A começar pela denúncia dos colegas que querem ver-se livres dos competidores mais competentes na sua área. Sei do que falo e por isso o denuncio.
Curioso (ou talvez não) é estas leis serem propostas pelo Partido Socialista. Não é a primeira vez e, creio, não será a última. Começou, ainda num passado não muito distante, por uma proposta da (então) deputada Jamila Madeira que sugeria a criação de um bilhete de identidade que incluisse dados do ADN do portador (tão nova e já tão perversa!). Seguiu-se a famigerada "Lei de Escutas", proposta por António Costa que (oh, ironia do destino!) lhe havia de cair em cima. Já mais recentemente, a criação do "Cartão Único" (5 em 1), apresentado pelo "iluminado Sócrates", como o suprasumo do facilitismo tecnológico. A recente lei de avaliação da função pública é, até ver, a "cereja em cima do bolo".
No campo cultural, a "coisa" fia mais fino, mas o dirigismo e o provincianismo estão lá também: nomeação de Carlos Fragateiro para o D. Maria II, despedimento de Pinamonti no S. Carlos, compra em "comodato" (gosto desta palavra) da mais do que discutível colecção do "comendador" Berardo, que será sempre o seu dono e ainda receberá dinheiro do MC para actualizá-la, etc...
São pequenos sinais e, provavelmente, apenas coincidências. Mas como eu não acredito em bruxas, há que estar atento. Como dizia o poeta russo: "ontem foram os comunistas, hoje os estrangeiros, amanhã serás tu. Nessa altura, será tarde, pois ninguém te ajudará".

Novo tipo de roubo


Está em preparação, segundo dizem os jornais hoje, um novo tipo de roubo nas caixas multibanco. Desta feita, porém, em vez da habitual ameaça com a seringa ou da extracção da caixa de multibanco com um tractor, o método e o autor são diferentes. Agora são os próprios bancos que pretendem cobrar operações que são executadas pelos seus clientes, usando uma rede --que é propriedade de um consórcio que envolve todos os bancos--, criada como alternativa aos dispendiosos balcões. Em vez de uma agência, com funcionários, mobiliário, equipamento, papel, etc, somos brindados com um PC ligado em rede, à chuva ou ao sol, sem interior design, nem uma plantinha para decoração. E este PC que nos colocam à disposição nem sequer dá para jogar um Solitaire enquanto trabalhamos...
Podemos facilmente imaginar que, se esta rede não existisse, os bancos se veriam forçados a admitir os funcionários necessários para levar a cabo essas operações que agora somos nós que executamos, a dar-lhes formação e a aumentar as suas infraestruturas proporcionalmente.
Não quero acreditar que isto seja verdade, mas se for vou voltar ao cheque, ao talão de depósito, etc. E vou voltar a frequentar novamente os bancos por dá cá aquela palha, podem disso ter a certeza. Ah! e se algum funcionário me quiser vir explicar como posso executar a mesma operação no multibanco peço o Livro de Reclamações!
Resta saber o que pensa sobre tudo isto o senhor primeiro ministro, que se mostrou no passado tão sensível em relação a estas questões do direito dos consumidores...