2007/08/03

Burka informativa

Ausente do país, na semana em que o programa foi transmitido, perdi um dos muitos momentos "zen" da nossa televisão estatal. Só ontem, num blogue concorrente, fui confrontado com as fotos: a jornalista Márcia Rodrigues (RTP2) tinha entrevistado o embaixador do Irão, em Lisboa, coberta dos pés à cabeça por um longo vestido negro, de lenço e luvas pretas (!?). Pensei, ainda, tratar-se de um novo filme do Borat, mas a cara da Márcia não enganava. Só podia ser ela, qual viúva penitente, subjugada às leis do grande profeta. Não sei se hei-de rir, se hei-de chorar. Também sei que o ridículo mata. Logo, alguma penitência deve ser cobrada. Que dizer deste quadro, digno de uma televisão terceiro mundista? Com "amigas" destas, as mulheres oprimidas pelos regimes islâmicos, podem estar descansadas: a "burka" está bem entregue.

2007/08/01

Sinais

Bem podem os "arautos da democracia" e das "liberdades adquiridas" apregoar a isenção do governo, relativamente ao direito de opinião e às perseguições políticas do PS. Hoje mesmo, a directora do Museu de Arte Antiga, Dalila Rodrigues, foi demitida por críticas à gestão orçamental dos museus portugueses. Se isto não é intolerância, o que será?

2007/07/30

Ingmar Bergman

Descobri-o nos anos sessenta, numa sessão do ABC Cine-Clube, em Lisboa. O filme era "O Sétimo Selo". Uma revelação que permaneceria na memória por largos meses. A partir de então, não perdi nenhum dos seus filmes, estreados em Portugal: "Morangos Silvestres", "A Fonte da Virgem", "Sorrisos de uma noite de Verão", "Monica e o Desejo", quase todos eles "mutilados" pela censura. Anos mais tarde, já no estrangeiro, revi toda a sua obra na Cinemateca de Amsterdão. A confirmação de um cineasta de excepção. Curiosamente, sempre que dele falava aos seus conterrâneos, diziam-me que só filmava problemas suecos...
Por diversas vezes anunciou abandonar o cinema para dedicar-se ao teatro (a sua outra grande paixão) mas regressava sempre com filmes, se possível, melhores do que os anteriores: "Cenas da Vida Conjugal", "Fanny & Alexander", "Depois do Ensaio" e esse extraordinário "Saraband", derradeiro testamento de uma obra ímpar.
Na última entrevista que dele li, falava com carinho das suas mulheres-artistas e do clã de amigos de que se rodeava na ilha de Farô, onde possuia uma casa. Sobre a morte, dizia que tinha um "pacto" com o amigo e artista fétiche Erland Josephson: "Quando um de nós estiver senil, o outro deve ajudá-lo a morrer".
Não sei como morreu. A notícia chegou hoje, neutral e fria como um Verão escandinavo. Bergman pode ter partido, mas os filmes permanecerão sempre como prova maior da sua genialidade.