2007/08/09

O nariz do salmão

Desde muito novo que tenho uma admiração especial pelo salmão. Não sei quando começou este meu fascinío, mas provavelmente foi nalgum filme sobre a natureza em que é pródiga a televisão. O ciclo de vida dos salmões e o seu regresso ao lugar de nascimento, onde chegam (já vermelhos) para acasalar e desovar, é uma das lutas mais titânicas do reino animal a que tenho assistido. Nela está condensada a metáfora da nossa sobrevivência.
Mais tarde, já adulto, tive o prazer de saboreá-los pela primeira vez quando ainda era possível comer salmão pescado em rios noruegueses. Uma experiência gastronómica inesquecível. Ainda hoje os holandeses usam a expressão "het neus van de zalm" (o nariz do salmão) como superlativo da qualidade absoluta. Por alguma razão, os gulosos ursos pardos só comem a cabeça e as ovas do peixe, apanhado à pata nos "rápidos" canadianos.
Vem esta história toda a propósito de uma notícia publicada nos principais diários portugueses. Os mais famosos "english springer" da praia da Luz, responsáveis pela descoberta de odores a cadáver no apartamento e nas vizinhanças do complexo turístico algarvio, são alimentados a salmão. E nós que nunca tinhamos pensado nisto!
Longe de mim duvidar dos métodos policiais portugueses. Mas, se apenas em dois dias (e após três meses de buscas infrutíferas) foram obtidos tais resultados, não será de considerar mudar os hábitos alimentares dos nossos pisteiros? Já temos polícias, já temos cães e, agora, até salmões em viveiros. Porque não experimentar?
Além do mais, deixávamos de necessitar de pedir os cães emprestados aos ingleses que gozam com os nossos métodos primitivos de obter confissões, como mostram as fotos da cara da mãe da Joana, também ela acusada de ter dado desaparecimento à filha.
Os cães nunca se enganam. Cá para mim, o segredo está no peixe. Dêem-lhes salmão e vão ver os resultados...

2007/08/07

A força da Lei

Aqui há tempos, não sei se se recordam, o Papa surpreendeu o mundo ao decretar o fim do limbo. Assim, por decreto, a Humanidade ficou, repentinamente, privada de um instituição milenar tão importante e estimável como era o limbo.
Ora, para que não possamos dizer que já nada nos surpreende, lemos hoje que o governo chinês proibiu o Dalai Lama de reencarnar. Sem apelo, nem agravo.
As razões que terão conduzido a esta fúria legislativa sobre matéria desta natureza escapam-me, mas se a moda continua poderemos, quiçá, esperar para breve que os anjos sejam forçados a preencher a declaração anual de IRS ou que a Santíssima Trindade seja reduzida por motivo de contenção de despesas, a uma única pessoa.
Eu sugiro ao Papa e ao governo chinês ou a quem mais se sinta tentado a legislar sobre o domínio do sagrado e do intangível, que levem tudo isto muito mais a sério e actuem de modo mais profissional. Escolham, por exemplo, a stand-up comedy! As televisões iam adorar. Teriam certamente mais público, conseguiam dar um ar mais profissional à coisa e, se calhar, ainda faziam uma coroas. Assim, isto tem ar amador e a gente ri sem pagar...