2007/09/07

Do Portugal profundo (3)

A acreditar na imprensa em geral - mais rápida a inglesa, mais sensacionalista a portuguesa - a "saga da pequena Maddie" parece ter atingido um "turning point" na investigação em curso. De "rapto" a "morte", passando por "negligência por homícidio", temos ouvido de tudo nestes últimos quatro meses.
As imagens desta manhã, em directo de Portimão, mostraram - pela primeira vez - uma multidão hostil e ululante manifestando-se contra a mãe da desaparecida menina. Bastou um interrogatório de 11 horas para que a opinião da opinião pública (que a publicada já tinha avançado com o julgamento) tenha mudado de posição e Kate McCann tenha passado de heroína a homicida.
Independentemente do veredicto final, ninguém poderá julgar Kate antes desta ser julgada. Este é o princípio de inocência que um estado de direito deve começar por respeitar.
Sabemos que a polícia sabe mais do que nós e não deixará impressionar-se por meia centena de "cidadãos indignados" que gostariam de crucificar, desde já, todos os suspeitos. O habitual. Provavelmente, só essa condenação os expiará da mórbida condição de "voyeurs", da qual nunca conseguiram libertar-se. Uma tradição inquisitorial, perpetuada pelo obscurantismo de séculos, em que continuamos a viver. Portugal medieval no seu estado mais bruto. Lamentável.

2007/09/06

Do Portugal profundo (2)

Ode ao "Óscar" (*)

Lá p'rós lados de Lanhelas
Vive o "Óscar do funil"
Toma conta dos carneiros
leva vida de baril...

Sentado no seu castelo
No meio da mata plantado
Dizem que é eremita
Mas é homem avisado...

Foi criado p'la Maria
Pintora de Amsterdão
Que ajudada pelo Meira
Concebeu a instalação

Agora no Alto-Minho
Volta a reza com fervor
Nasceu um novo "santinho"
Que não precisa de andor

Cuidem-se os santos zelotes
Que o "Óscar" está para durar!
Ainda vai passar à história
Com o IPPAR a ajudar...

Agosto de 2007

(*) Quadras soltas, escritas por ocasião da inauguração de uma instalação de
Maria Mendes, na aldeia de Lanhelas, em Caminha.

2007/09/02

Do Portugal profundo

Sem computador para trabalhar (ver "post" anterior) resolvi passar uma semana a "banhos". A convite de uma amiga, com casa em Caminha, optei pelo Alto-Minho. Adoro Caminha, por variadas razões: a localização privilegiada, a harmonia do centro histórico da vila, os amigos que fiz ao longo dos anos, as praias, a mata do Camarido, alguns restaurantes e a sensação de estar ao lado da Galiza, ali mesmo à mão de semear...
Por me parecer mais prático e rápido, viajei de autocarro: Não teria de fazer transbordos e havia uma paragem, em Pombal, para estender as pernas. Um total de seis horas, de acordo com o horário. Pelo sim, pelo não, tentei confirmar com a funcionária da empresa de camionagem a que horas chegava. Disse-me que, em princípio, devia ser à meia-noite e meia. Em princípio, porque na vida não há certezas. Elucidativo.
Acontece que a A1 está em obras (construção da terceira faixa) e estivemos parados uma hora e meia, algures na região de Santarém, enquanto as máquinas trabalhavam cinco quilómetros à frente da fila que, entretanto, se formou. A planeada paragem de 20 minutos transformou-se em meia-hora (para os condutores poderem jantar) e, em vez da meia noite, chegámos cerca das duas da madrugada. Jurei a mim mesmo não voltar a usar o autocarro na viagem de volta.
No regresso, optei pelo combóio. Tentei comprar bilhete de véspera, mas a bilheteira estava fechada. No dia da viagem, continuava fechada. O "chefe" de estação, de bandeira vermelha enrolada debaixo do braço, informou-me que podia adquirir o bilhete no combóio, mas foi avisando que teria de mudar em Viana. Em Viana? Sim, a ponte estava em obras, pelo que teria de passar para uma camioneta que me levaria à outra margem do Lima. Aí, retomávamos o combóio...
Com a mala às costas e no meio de um grupo de suecas (de mal a menos) que não percebiam nada do que se passava, lá atravessei a ponte de autocarro e apanhei o combóio seguinte, com meia-hora de atraso...
Obviamente, perdi a ligação com o Intercidades e tive de esperar, em Campanhã, pelo Alfa, que era mais caro e partia uma hora mais tarde. Em Santa Apolónia, ao apanhar um táxi, o taxista informa-me que não pode ir pela "baixa" porque a Praça do Comércio estava fechada ao trânsito. A primeira "grande medida" de António Costa...
Tempo total da viagem, após três combóios, um autocarro e um táxi: 7 horas, uma hora menos do que a viagem de ida em autocarro, para um percurso de cerca de 400km...
Recordei a primeira vez que estive em Caminha, em meados da década de oitenta, já lá vão 22 anos. Fui de autocarro e vim de combóio. Como agora. Demorei exactamente o mesmo tempo. A tradição ainda é o que era...