2007/12/08

Karlheinz Stockhausen (1928-2007)

Acabo de saber que o compositor Karlheinz Stockhausen faleceu no passado dia 5 de Dezembro na sua casa em Kuerten-Kettenberg. Houve outros compositores deste período que tiveram grande influência no meu trabalho, mas, juntamente com Iannis Xenakis, John Cage e Luciano Berio, Stockhausen foi o compositor cuja obra mantive e mantenho sempre à cabeceira, que marcou muito o meu próprio percurso musical.
Recordo o absoluto fascínio que rodeou a descoberta da sua música.
Recordo o impacte que teve a minha primeira audição de, entre muitas outras obras suas, Gesang der Jünglinge, Momente, Kreuzspiel, Gruppen, Carré, Kontakte, Kurzwellen, Prozession, dos Klavierstücken, Mikrophonie (I e II), de Hymnen, de Stimmung ou de Trans.
A propósito destas três últimas obras, recordo outros tantos momentos recentes em que tive a oportunidade de as ouvir aqui em Lisboa. Uma magnífica versão de Stimmung foi produzida pelo Sing Circle, no âmbito do Festival Música Viva em Outubro de 2006. Hymnen, na versão banda magnética foi executada em Novembro de 2005, com a presença do próprio compositor. Algum tempo antes tínhamos tido a oportunidade de ouvir a versão com orquestra, dirigida por Pedro Amaral. Mais recentemente, Trans teve estreia em Portugal também sob a direcção de Pedro Amaral.
Controverso, arrojado, único, inovador, Stockhausen foi tudo isto. Mas como acabará ele por ser recordado pela história da música?

2007/12/07

Circo Darfur

O circo chegou à cidade. Depois do "Soleil", que voltará em Abril, foi agora a vez do "Kadhafi", que já não víamos há alguns anos. Lá mais para o Natal, e como manda a tradição, será a vez do "Grande Circo de Pequim". Lisboa está na moda e tendas não faltam. É o que se chama uma cidade cosmopolita. A "comunicação social", excitadíssima, dá grandes planos da "tenda" de S. Julião da Barra à procura da "cacha" que faz vender jornais. Na televisão, os números não são menos impressionantes: mais de 50 chefes de estado, outros tantos primeiro-ministros e ministros do estrangeiro, 22 hotéis e 5.000 refeições diárias. Custos: 10 milhões de euros, não previstos no Orçamento de Estado. Brown não vem, mas veio Mugabe, que vende muito mais jornais. Coitado do Eduardo dos Santos, cuja notoriedade como ditador é ainda inferior à do Robert. Ainda por cima vai para um hotel de cinco estrelas, bem menos exótico do que uma tenda onde servem chá de menta.
Sobre os direitos humanos, pouca gente fala. O Zé Manel de Bruxelas ainda tentou "puxar pelos galões", ao lembrar que tinha apoiado os movimentos de libertação africanos, mas a vertigem circense quer espectáculo e está-se a marimbar para os direitos humanos. A crise humanitária no Sudão não faz parte da agenda de trabalhos. Já que não há pão, ao menos haja circo. E circo vai haver. Pelo menos durante o fim-de-semana, lá para os lados do Parque das Nações. Cá fora, entre "outdoors" que lembram o Darfur, o repórter de serviço pergunta a um cidadão anónimo: "Já ouviu falar do Darfur?". O homem responde afirmativamente. "Sabe o que é?". "Sei. Não é aquele grande armazém francês, que vende roupas e coisas assim?".