2008/03/29

"E chamam a isto democracia"

Uma notável capacidade de síntese revela João Paulo Guerra na sua crónica de hoje do Diário Económico intitulada "Ciclo". A propósito da declaração do Primeiro Ministro que garantiu no Parlamento que a crise orçamental está "ultrapassada" e que os factores que a geraram estão "resolvidos", JPG caracteriza assim o "ciclo económico" português: "ordem para apertar o cinto, uma folga com a aproximação de eleições, cinto de novo apertado."
Assim, neste país amornado, onde o efeito do aquecimento global parece ser o de nos irmos deixando embalar, "as legislaturas têm um ano para enganar incautos e três para os espremer. E chamam a isto democracia."
Espremido e mal pago, o português só parece reagir quando alguém lhe tenta tirar o telemóvel.
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2008/03/28

Uma visão do conflito no Tibete

Yi-Fu Tuan é uma geógrafo por quem tenho um enorme respeito, cuja vasta bibliografia conheço razoavelmente bem. Desde há algum tempo que mantém um site na internet que inclui uma secção chamada "Dear Colleague Letters". Já em tempos escrevi sobre ele aqui no Face.
Desta feita chamo a vossa atenção para a sua última letter que aborda a questão do diferendo entre o Tibete e a China. Uma visão especial de um americano de origem chinesa, académico de enorme gabarito e observador atento destas realidades sobre a qual vale a pena reflectir um pouco.

2008/03/27

E as Caldas aqui tão perto...

Para quem ainda duvide da descentralização cultural, aconselho a deslocar-se à antiga Lavandaria do Hospital das Caldas, onde a Companhia local - O Teatro da Rainha - leva à cena "Weisman & Cara Vermelha" (um western judaico) da autoria do dramaturgo George Tabori. Uma grande texto, de um autor relativamente pouco ensaiado em Portugal que, amiúde, nos remete para Beckett e Saul Bellow, na sua visão absurda e crítica da sociedade actual. Entre a memória (judaica) europeia e os valores (índio) americanos, os personagens movem-se num "décor" povoado por abutres que esperam uma morte anunciada: a dos valores da civilização ocidental.
A interpretação está a cargo de Fernando Mora Ramos (igualmente responsável pela encenação) para além dos excelentes Bárbara Andrez e Carlos Borges e do actor Octávio Teixeira. Os cenários/figurinos são de José Carlos Faria e a música, a condizer com a paisagem, é de Carlos "Morricone" Augusto. Este é, certamente, um bom motivo para visitar as Caldas da Rainha. Ou, como dizem os programas: agora, em últimas representações!