2008/05/08

Politicamente incorrecto

Mira Amaral, gestor do novo banco BIC (de capitais angolanos) é de opinião que Bob Geldof não sabe do que fala. A razão é simples: o inglês é um cantor "pop" e não percebe nada de coisas sérias. Haja alguém que nos elucide.

2008/05/07

Politicamente correcto

Numa conferência, organizada pelo BES em Lisboa, Sir Bob Geldof (Live Aid) declarou que "Angola é gerida por criminosos".
Nem mais.

Recobro ortográfico...

Abrimos os jornais, ligamos a televisão ou a rádio, ouvimos o cidadão comum a falar e o que podemos nós constatar acerca da língua preferencial que os portugueses usam para comunicarem entre si, neste espaço a que se convencionou chamar Portugal? Usam o Português? Hardly..!
Nespresso? What else... Reuter's? Know now... Toshiba? Não, Tôsh'bâ! EDP Renováveis (EDP!)? Powered by nature... E não esqueçam que It's a Sony... E visitem La Caffé, design Restaurant e espaço Lounge (sic)...
Mas, não é só no domínio da publicidade e dessa coisa a que chamam gestão que dominam os anglicismos. Ontem mesmo, Vital Moreira (professor universitário) lançava logo no início da sua habitual crónica do Público: "Um think tank britânico de esquerda elaborou um ranking dos países da UE quanto à qualidade da "democracia quotidiana" (everyday democracy)..." Parece uma daquelas conversas do Lauro Dérmio!
Enfim, não nos faltam exemplos que me sugerem a ideia de que antes de pretender alcançar um acordo ortográfico entre os países de língua oficial portuguesa (vulgo PALOPs), Portugal deveria rever este relacionamento bizarro que tem com a sua própria língua. A discussão sobre o pretenso acordo ortográfico, os abaixo assinados e as petições... miss the point!
É que por este andar o português, dentro de algum tempo, vai-se transformar num crioulo qualquer, tipo caribenho, ou, na melhor das hipóteses, em mais uma variante do inglês. Nessa altura não valerá a pena pensar em acordo ortográfico, porque, como se sabe, os países anglófonos convivem muito bem com a sua diversidade linguística.
Valha-nos Deus! Ou deveria dizer "veilhemnús góde", em inglês...?

Obama: uma candidatura imparável?

As vitórias repartidas dos democratas americanos, nas primárias de Indiana e North Carolina, só aparentemente mantêm Hillary Clinton na corrida. É certo que a candidata ganhou Indiana, um estado considerado crucial para ambos os concorrentes, mas trata-se de uma vitória de Pirro se considerarmos que Hillary ganhou 51% dos votos contra 49% de Obama. Ao contrário, no estado de North Carolina, o candidato "arrasou" com 56%,2 contra 41,5%, da rival, correspondente a 890.695 e 657.920 votos, respectivamente. Ou seja mais de 200.000 votos de diferença!
Com esta vitória, Barak Obama aumentou a sua vantagem para mais de 150 delegados, quando faltam seis estados e cerca de 200 lugares por eleger. Uma diferença impossível de recuperar, segundo os observadores americanos.
Resta saber qual a posição dos "super-delegados" que, independentemente dos resultados das "primárias", podem votar de acordo com a sua consciência. Nesse grupo exclusivo, Hillary detém ainda a maioria, mas a tendência pode inverter-se à medida que o movimento pró-Obama vá ganhando adeptos e os "super-delegados" cheguem à conclusão que ele é o melhor candidato para derrotar McCain. Nunca a disputa foi levada tão longe.

2008/05/05

A propósito da celebração do cónego Melo na AR

Creio que esta mensagem merece ampla divulgação...
Faço-o aqui a título pessoal, na convicção de que o PR tem toda a razão. Lembremo-nos pois das novas gerações...


Mensagem de Victor Louro, antigo Deputado à Assembleia da República, ao Grupo Parlamentar PS:

Permitam lembrar Brecht: de cedência em cedência (antes, era só um operário; depois, apenas um padre; depois, era ainda só um
comunista...) acabam por nos cortar a cabeça...a nós próprios, que não éramos nada disso!
Tenho o dever cívico de vos manifestar profunda indignação pela atitude do PS na 6ª feira na Assembleia da República a propósito do voto de pesar ao cónego Melo. Mesmo que ela tenha ocorrido após a vergonha da homenagem do seu Presidente ao Dr. A. J. Jardim: temos o direito - e o dever - de não nos habituarmos !
É que Melo agiu, em 1974/75, activamente e por meios terroristas contra a democracia que dava os primeiros passos: os comunistas eram as primeiras vítimas, mas o objectivo era a própria Democracia. Por isso que é intolerável que na hora da provocação, o PS encontre um qualquer alibi para não se pôr do outro lado da barreira. A vossa abstenção é uma traição à Democracia !
Digo-vo-lo com a responsabilidade de vos ter precedido na representação popular no Parlamento. E de ser filho de um Homem que também vos precedeu, Victor de Sá, como outros perseguido durante a luta contra o fascismo, que se viu obrigado a fugir de casa, em Braga, nesse "verão quente" para não ser abatido pela camarilha do cónego que deixásteis que o Parlamento homenageasse como um democrata.
É pelo respeito que os nossos mortos nos devem merecer, aqueles que lutaram para que Portugal vivesse em liberdade, que vos manifesto a repulsa democrática por essa indignidade que alguns de vós personificásteis. Não vos queixeis do divórcio do Povo!
Esta vossa atitude teve ainda a ironia de ocorrer quando se invocam os 40 anos do Maio 68: alguns de vós estavam, como eu, do lado dos que se revoltaram contra o stato quo do poder estabelecido. E agora, que sois Poder ?
Victor Louro, antigo Deputado à Assembleia da República.

Manicómio

Tomara eu ser como a panela de pressão! Ter uma válvula que andasse naquele rodopiar, largando a pressão em excesso e mantendo as coisas lá dentro em equilíbrio operacional... Mas, não! Não tenho válvula, desculpem. Neste final de semana extra longo fomos bombardeados com uma operação gigantesca de recolha de alimentos, de bancos alimentares e de organizações variadas para praticar o desporto favorito da sociedade bem portuguesa: a caridade! A fazer fé nos relatórios e reportagens dos jornais e televisões, o país está em derrocada total! Que seria de nós sem a "caridadezinha"!!?
Voltámos (ou talvez nunca tenhamos de lá saído) à canção do Barata Moura...
Faz-me uma enorme confusão esta coisa de as pessoas demonstrarem um engenho brutal para organizar operações e estruturas extremamente complexas destinadas a suprir falhas estruturais da sociedade (e até ter sucesso com isso!), conseguirem juntar até um número significativo de gente para o efeito, mas revelarem-se totalmente incapazes de se entenderem e organizarem-se como país, de modo a que tenhamos todos uma vida que respeite os "mínimos", mais justa, digna e sem favores. Tantos milhares de "voluntários" que acodem ao apelo caritativo, mas não conseguem acordar num projecto para este sacana deste país!!
E faz-me também uma enorme confusão este retrato que os portugueses parecem estar a fazer de si próprios: um povo esquelético e angustiado, que deambula perdido pelo território árido, esgravatando sem esperança as terras secas em busca de umas magras sementes para se alimentar, enquanto, ao mesmo tempo na vida real e por esses centros urbanos fora, vai enchendo os carrinhos dos supermercados, cruzando incessantemente os centros comerciais, pulando de loja em loja, dessas de "marca" que enxameiam por todo lado, enchendo a transbordar a noite nas discotecas e formando filas intermináveis de carros à hora de ponta, mesmo com a gasolina caríssima!
O Alto Comissário para os refugiados, que é português, como sabemos, terá certamente razão para vir fazer uma missão especial a Portugal... Preparem os hospitais de campanha! Mandem vir as missões humanitárias!!
Hoje as notícias dão-nos conta de um relatório da OCDE que indica que a emigração aumentou em Portugal 50%! Acto de resistência ontem, a emigração continua a ser uma maneira de lidar com a insanidade deste país. Hoje, se calhar, perante as novas realidades do país (democracia, integração europeia, euro) a motivação destes portugueses será um pouco diferente. O melhor, pensarão decerto estes novos emigrantes, é pirar-me deste manicómio...

2008/05/04

Ainda a propósito da juventude e política

Dois artigos sobre a questão da juventude e o 25 de Abril que merecem algum comentário. Tiago Tribolet de Abreu (TTA) escreveu no Público (08/05/01) um artigo intitulado "A geração de Abril ou os velhos do Restelo que se seguem" e hoje Daniel Sampaio (DS) escreve, também no Público, um outro chamado "Vendedores de ilusões."
Escrevo estas notinhas no seguimento do que eu próprio escrevi há dias sobre o tema.
O primeiro articulista "atira-se" ao que chama a "geração de Abril" e zurze forte e feio a geração que tinha 20-30 anos em 74. O segundo fala dos discursos pronunciados na AR pelo deputado José Moura Soeiro e pelo PR.
Devo confessar que o artigo de TTA me apanhou em cheio! Serei sem dúvida um dos visados no artigo, porque estava justamente na casa dos 20-30 anos em 74. E partilho os reparos que ele faz a esta geração que é a minha. Quanto ao artigo de DS, também me tocaram bastante as palavras do deputado Soeiro. O que "desempata" então isto é o discurso do PR. Não partilho de todo os elogios --como aliás deixei claro no meu post sobre este assunto-- que são feitos ao PR por ter abordado esta matéria no seu discurso na Assembleia.
Como disse no meu post "parece mesmo que o cidadão que ocupa actualmente o cargo de Presidente da República não contribuiu generosamente, enquanto primeiro ministro" para o desinteresse da juventudo pela política que hoje aponta com a solenidade de uma intervenção na AR.
Mas, não é só afinal o PR que chuta para canto. No fim de contas até o percebo. O pior é que olhando para a sociedade portuguesa hoje, ó Tiago Abreu e ó José Soeiro!, continuo a ler nas vossas palavras a auto-desresponsabilização, o atirar as culpas para o parceiro, o mesmo queixume e a mesma lógica do "pronto a vestir". Continuamos a observar um estado quase doentio de inanidade e uma languidez patológica. E nisto, Tiago Abreu e José Soeiro, não há generation gap! Estamos todos no mesmo barco. Na hora de ser coerente falhámos e falhamos, vocês e nós... Observo os mesmos padrões de comportamento nos "vintistas" de hoje e nos "vintistas" de ontem. Na minha geração ainda houve muita resistência e demonstração de coragem. A vossa resiste a quê?
Se é verdade que há um défice patético de modernidade nos cinquentenários e sexagenários de hoje (já eram "antigos", muitos deles, há trinta anos, acreditem...), há um enorme défice de coragem e de sentido de responsabilidade nos "vintistas" de hoje. Sacodem a água do capote para os "vintistas" de ontem, como gerações sucessivas de portugueses têm feito para as gerações precedentes desde há séculos...
Estou farto de ouvir o mesmo discurso! Estão à espera de quê? Que o futuro vos seja dado por aqueles que vocês criticam? Por este andar a "espécie" velho do Restelo já tem descendentes anunciados...