Lembrei-me desta frase de Manuela Ferreira Leite (que o meu amigo Fernando Mora Ramos comentou esplendidamente no Público) quando assisti ao "filme" do sequestro no BES de Campolide. Sequestro a armar em produção "hollywoodesca" que veio a calhar que nem ginjas nesta "silly season"...
A definição hoje habitualmente aceite de música electracústica (aquela música feita de blips! e ploings! com que os vanguardistas dos anos 50-60 chocavam as audiências, feita de sons que são hoje banais em qualquer discoteca, telemóvel ou caixa registadora) é "qualquer coisa que sai de um altofalante"!
Pois, por analogia, poder-se-á dizer também que qualquer coisa que sai de um ecrã é cinema. Desde a presidente do PSD, aos sequestradores do BES. Estes quiseram tentar a produção própria, depois de terem certamente assistido a muitas produções vindas dos grandes estúdios Hollywood. Para acentuar o carácter de espetáculo, até a polícia ajudou à festa deixando cair uma grande cortina (negra!), certamente para ajudar algum espectador menos atento a sinalizar o final do espetáculo...
Saindo agora do ecrã, o que resta de tudo isto? Uma comunidade brasileira que sofreu um rombo brutal na sua luta por ganhar credibilidade junto dos indígenas, um jovem que terminou a vida antes de tempo, de forma inglória, outro que luta por uma vida que não vai nunca mais ter e um polícia-atirador que vai ficar a ter sonhos maus por muito tempo, por um acto que, ao contrário dos que se vêem nos filmes, terá certamente consequências medonhas para o seu autor. Os xenófobos exultam, aos jornais, às televisões e às rádios saiu-lhes a sorte grande e lá ganharam mais uns minutos à "seasonal sillyness".
O país terá de voltar agora ao debate sobre o Pontal. É tudo, já que a outra, se bem que diga que não é actriz, se está a guardar para a rentrée.
2008/08/09
2008/08/07
Eva e a maçã
E "diante de Adão mas despegado dele, estava outro Ser a ele semelhante, mas mais esbelto, suavemente coberto de um pêlo mais sedoso, que o contemplava com olhos lustrosos e líquidos (...) E roçando, num roçar lento, num roçar muito doce, os joelhos pelados, todo aquele sedoso e tenro Ser se ofertava com uma submissão pasmada e lasciva. Era Eva... Eras tu, Mãe Venerável!"
Assim descrevia Eça o primeiro encontro entre os "pais veneráveis" da Humanidade. O que Eça omite neste seu texto é o facto de Eva ser na altura portadora da maçã.
A maçã, todos sabemos, é um fruto do demónio. Nós pobres pecadores (eu confesso-o!), sempre que a comemos experimentamos um leve rubor, um pequeno estremecimento. Um frémito subtil invade-nos...
Se for maçã reineta a sensação geral é de volúpia pura. Se for Golden Delicious, essa deixa-nos mais ou menos indiferentes. Mas, se for maçã Bravo de Esmolfe é o delírio absoluto! Com Bravo de Esmolfe eu, pessoalmente, não consigo mesmo ter mão em mim. Já a Macintosh faz sempre lembrar kilts. Pode, portanto, não fazer o nosso género, é uma questão de escolha.
A tradição católica fartou-se de nos excitar a mente com esta Eva que Eça depois descreveu no seu conto com soma profusa de pormenores. Creio que o livro do Catecismo (a Censura nunca se lembrou que o Catecismo poderia não passar afinal de literatura porn) contribuiu definitivamente para gerar esta ideia: maçã é tentação.
Imaginávamos nós então, jovens e fogosos catequistas, Eva de longos cabelos caídos, sem sequer uma parrazinha leve que lhe tapasse as partes pudibundas, avançando com movimentos coleantes sobre Adão, enleando-o subtilmente e oferecendo-lhe, sabemo-lo hoje de fonte histórica segura, a tal maçã!
E foi assim, neste contexto de associação de ideias, que à maçã se passou então, sem dúvida, a associar à noção de massagem.
Tratada que está então a questão das massagens, era natural que o intrépido Comando Marítimo do Sul se voltasse agora para a maçã, esse fruto do pecado. Era inevitável. Era necessário.
Pelo menos numa coisa devemos elogiar o Comando Marítimo do Sul nesta investida estival sobre os bons constumes: prosseguem uma política coerente.
Assim descrevia Eça o primeiro encontro entre os "pais veneráveis" da Humanidade. O que Eça omite neste seu texto é o facto de Eva ser na altura portadora da maçã.
A maçã, todos sabemos, é um fruto do demónio. Nós pobres pecadores (eu confesso-o!), sempre que a comemos experimentamos um leve rubor, um pequeno estremecimento. Um frémito subtil invade-nos...
Se for maçã reineta a sensação geral é de volúpia pura. Se for Golden Delicious, essa deixa-nos mais ou menos indiferentes. Mas, se for maçã Bravo de Esmolfe é o delírio absoluto! Com Bravo de Esmolfe eu, pessoalmente, não consigo mesmo ter mão em mim. Já a Macintosh faz sempre lembrar kilts. Pode, portanto, não fazer o nosso género, é uma questão de escolha.
A tradição católica fartou-se de nos excitar a mente com esta Eva que Eça depois descreveu no seu conto com soma profusa de pormenores. Creio que o livro do Catecismo (a Censura nunca se lembrou que o Catecismo poderia não passar afinal de literatura porn) contribuiu definitivamente para gerar esta ideia: maçã é tentação.
Imaginávamos nós então, jovens e fogosos catequistas, Eva de longos cabelos caídos, sem sequer uma parrazinha leve que lhe tapasse as partes pudibundas, avançando com movimentos coleantes sobre Adão, enleando-o subtilmente e oferecendo-lhe, sabemo-lo hoje de fonte histórica segura, a tal maçã!
E foi assim, neste contexto de associação de ideias, que à maçã se passou então, sem dúvida, a associar à noção de massagem.
Tratada que está então a questão das massagens, era natural que o intrépido Comando Marítimo do Sul se voltasse agora para a maçã, esse fruto do pecado. Era inevitável. Era necessário.
Pelo menos numa coisa devemos elogiar o Comando Marítimo do Sul nesta investida estival sobre os bons constumes: prosseguem uma política coerente.
2008/08/06
Débil era o melro!
Segundo reza o Público, o Secretário de Estado da Juventude e Desportos terá afirmado, a propósito da representação olímpica nacional que "Para um país como Portugal, os Jogos Olímpicos são uma tremenda aventura. Porquê? Porque nós somos o país que somos: 10 milhões de habitantes, uma economia débil, uma formação técnica débil, poucos técnicos qualificados, poucos jovens na prática desportiva e somos um país pequeno na Europa, a que pertencemos. E no mundo, então, somos um país muito pequeno." Então não?!
Somos débeis mas conseguimos ter secretários de estado que revelam não estar sequer à altura do retrato traçado... Isso é que é a tremenda aventura deste país!
Somos débeis mas conseguimos ter secretários de estado que revelam não estar sequer à altura do retrato traçado... Isso é que é a tremenda aventura deste país!
2008/08/05
Elites Portuguesas
O recente discurso do presidente da república, para o qual os portugueses foram convocados em "prime-time", revelou-se uma desilusão para a maioria, mas algo de substancial para a oposição. Engraçadas mesmo, são as opiniões de algumas figuras do "establishment" político que, da esquerda à direita, foram unânimes em realçar o cunho jurídico-constitucional da intervenção de Cavaco. Enquanto para uns (Lobo-Xavier na "Quadratura do Círculo") o presidente fez bem, pois esta é uma matéria que os portugueses não entendem(?!); para outros (Mário Soares no "Diário de Notícias") o presidente fez mal, porque os portugueses não perceberam e estão mais preocupados com coisas comezinhas como o desemprego, o custo de vida e a corrupção...
Já anteriormente, o "engenheiro" Sócrates tinha faltado à sua promessa eleitoral e resolvido desistir do referendo sobre o tratado de Lisboa. O argumento, na altura usado, foi o texto ser demasiado complexo para a compreensão do português comum. Porque só os especialistas o podiam compreender, bastava o Parlamento aprová-lo.
Independentemente da importância da intervenção de Cavaco, que está no seu direito constitucional de intervir sobre matérias que considere relevantes, uma coisa parece comum a esta classe política portuguesa: um profundo desprezo pelos cidadãos portugueses, meros figurantes de um sistema que perpetua as "castas" políticas no poder. Com elites destas, será que alguém ainda acredita nos políticos que nos governam?
Já anteriormente, o "engenheiro" Sócrates tinha faltado à sua promessa eleitoral e resolvido desistir do referendo sobre o tratado de Lisboa. O argumento, na altura usado, foi o texto ser demasiado complexo para a compreensão do português comum. Porque só os especialistas o podiam compreender, bastava o Parlamento aprová-lo.
Independentemente da importância da intervenção de Cavaco, que está no seu direito constitucional de intervir sobre matérias que considere relevantes, uma coisa parece comum a esta classe política portuguesa: um profundo desprezo pelos cidadãos portugueses, meros figurantes de um sistema que perpetua as "castas" políticas no poder. Com elites destas, será que alguém ainda acredita nos políticos que nos governam?
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