2008/10/30

Controleiros da era digital

As empresas Google, Microsoft, Yahoo, a France Télécom e a Vodafone planeiam, juntamente com grupos de direitos humanos, introduzir um "código global de conduta na internet que proteja a liberdade de expressão e a privacidade contra a intervenção dos governos." Este grupo inicial procura alargar a base de participação.
Esta iniciativa faz parte da Global Network Initiative que se destina, segundo o New York Times, a "evitar ou minimizar o impacte das restrições governamentais na liberdade de expressão." Pese embora o facto de algumas organizações terem já criticado este esforço, descrevendo-o como "pouco mais do que uma afirmação geral de princípios, sem nenhum mecanismo que assegure o cumprimento das regras", a verdade é que este é um tema a que não será nunca demais prestar toda a atenção. Afecta-nos a todos e vai-se tornar cada vez mais importante. Todas as iniciativas destinadas a debater e demonstrar a importância deste assunto são, pois, bem vindas.
O big brother anda aí há muito tempo. Por vezes veste-se de democrata, mas, hoje com ontem, o que pretende é cortar-nos o pio. Digital ou analógico o big brother gosta de ter a última (quiçá, a única!) palavra. O outro lado do hacking pode ser igualmente sórdido.
E há por aí muitos aspirantes a controleiro. Em Portugal, a tentação é mesmo nódoa que cai no melhor pano...

2008/10/26

E contudo...

Quando se faz uma balanço da actuação do Primeiro Ministro, do Presidente da República, dos partidos da oposição e das restantes forças sociais (designadamente os sindicatos) nesta legislatura, ficamos com uma certeza: ninguém consegue segurar Sócrates.
Estão todos à altura uns dos outros, ninguém está à altura do País, mas o Primeiro Ministro consegue reduzir a um grande zero qualquer tentativa de contrariar a sua política. Ele continua a ditar (como se diz em "politiquês"), com uma aparentemente enorme convicção, a agenda política.
A longa entrevista dada ao DN/TSF, a resposta da oposição e a actuação das restantes forças sociais deixam prever que não vai surgir alternativa credível a este governo. E mais: forçam mesmo o recrudescimento da sua popularidade, de tal maneira a reacção da oposição se revela pífia.
Do lado do PSD, já se percebeu perfeitamente que a dupla Cavaco/Ferreira Leite não tem pedalada para Sócrates. Tê-lo-ão subestimado e terão julgado que os seus tiros no pé iriam ser suficientes para o obrigar a coxear. Enganaram-se. Quanto mais directas e indirectas Cavaco e Ferreira Leite lançam nesta sua estratégia claramente concertada, mais nítida se revela a sua total incapacidade para o (este) jogo político. É verdadeiramente patético.
Do lado da restante oposição o panorama é, de igual modo, totalmente confrangedor. Faz lembrar aqueles jogos de futebol em que uma equipa que ganha vai trocando a bola a meio campo, controlando inteiramente o jogo, mas concedendo ocasionalmente a iniciativa ao adversário para o apanhar num contra-ataque mortífero.
Se isto é a oposição, estarão a pensar decerto muitos portugueses, se é isto que têm para contrapor, mais vale ficar na mesma... Chega a fazer pena a maneira como têm sido sistematicamente comidos.
No que toca às forças sindicais, parece-me a mim que estão longe de constituir ameaça. Sobra-lhes em carga ideológica o que lhes falta em capacidade de intervenção. A actuação no terreno é desastrosa. Que é feito dos assanhados professores de há uns meses? E os furiosos polícias? E os abespinhados funcionários públicos? Os médicos? Os juízes? Gastaram os cartuxos todos e agora nem à fisga... Os sindicatos não podem fazer o papel dos partidos da oposição. É tão ridículo como é ridícula a tentativa de alguns partidos da oposição, em tempos recentes, de fazerem sindicalismo de ocasião.
E contudo... estamos fartos de Sócrates e das sua políticas. E contudo, assistimos, furiosos, a esta degradação contínua das condições de vida e dos padrões de funcionamento deste País. E contudo, as nossas perspectivas de futuro, sentimo-lo claramente, estão abaixo da cota de alerta.
E contudo... muitos dos que assim pensam, irão, face ao panorama real que desfila perante os nossos olhos, continuar decerto a depositar na urna o votozinho no senhor engenheiro.
Dificilmente me parece possível contrariar esta tendência. As eleições de 2009 ameaçam mesmo constituir uma parada de vitória...