2008/11/22

A casa de espelhos

O caso BPN parece ser uma daquelas casas de espelhos onde as imagens estão sujeitas a múltiplos reflexos que criam ilusões ópticas e perturbam a percepção da realidade. Cada nova revelação, cada nova entrevista fazem surgir fragmentos de uma realidade dispersa, que nos confunde e nos suscita cada vez mais dúvidas.
Ainda um dia (esperemos que um dia destes...) a história do que foi o período cavaquista e pós-cavaquista nos terá de ser contada com grande detalhe. E ainda um dia precisamos de unir os pontos dispersos desta teia política que se foi gerando desde então.
Pelo que se vai percebendo, parece certo que se trata de um dos períodos mais sórdidos da nossa história. A gente tinha essa percepção na altura, mas parece que a coisa ultrapassou e ultrapassa a nossa imaginação. Não me estou a referir apenas aos aspectos políticos mais gritantes, nem aos inacreditáveis percursos pessoais de alguns dos personagens que saíram daquela matriz. Falo também do que se adivinha que seria o conceito de democracia --o mais íntimo e o mais sincero-- de algumas das personagens que ocuparam então cargos de relevância no seio do regime cavaquista e que continuam na cena política.
Esperemos, contudo, que esta história passada nos seja contada por alguém credível. Com ética.

2008/11/21

Falta o cheque-mate

A derrota do governo no caso da avaliação dos professores é notória. "Tenho de reconhecer que a forma como estávamos a concretizar a dimensão relativa aos resultados escolares não era confortável, nem razoável, mas excessiva, desajustada e com erros técnicos," disse a ministra. Estas apreciações vêm dar total razão aos professores. Não há outra interpretação possível para elas. E, neste sentido, independentemente das correcções que foram anunciadas e da vontade do governo em prosseguir com esta avaliação, o passo atrás constitui uma clara derrota política para a ministra.
Foi dado um estrondoso "cheque" ao governo nesta partida que disputa com os professores. Será talvez a primeira vez que o governo sai claramente ferido de um confronto que gerou.
Mas, para que o cheque seja "mate", agora, mais do que nunca, é preciso que os professores não se deixem cair na tentação de levar esta disputa para o terreno político. Se o fizerem serão derrotados sem piedade porque, primeiro, não é o seu terreno de actuação e, segundo, porque o primeiro ministro se move nele como peixe na água. Se o confronto for levado para o terreno de eleição do primeiro ministro, nem a alma se se lhes aproveita. Se mantiverem a discussão dentro de parâmetros apropriados a probabilidade de sucesso é elevada. O que não deixará de ter consequências... políticas.
No meio disto tudo, nós os observadores "civis" de toda esta disputa, continuamos à espera de uma palavra dos "agentes educativos" sobre duas questões essenciais: a qualidade do ensino e os interesses dos alunos. Quando tiverem um minuto vejam lá se pensam nestes assuntos...

2008/11/18

Seis meses

Seis meses é o tempo que a líder do PSD sugeriu hoje para um intervalo na democracia, a fim de pôr as coisas na ordem... Há seis meses nem o ex-ministro Mira Amaral imaginava, quando afirmou que Ferreira Leite era um "regresso ao passado", que o seu conceito de "passado" estaria afinal a pecar por defeito... Por este andar, nem seis meses restarão à senhora no cargo que ocupa.
Imaginam-se as conversas que a doutora Ferreira Leite terá tido com o Presidente da República quando era visita de casa...