2009/01/20

A América de novo na ofensiva...

Não consigo encontrar uma fragilidade no discurso de Obama. Diria antes que depois dele se tornou mais fácil encontrarmos as fragilidades dos discursos dos outros líderes mundiais. 
Os líderes da UE, dos países árabes, da Rússia, dos chamados países das economias emergentes, de todos os países, amigos e inimigos da América, todos eles acomodados em discursos afinados para um diapasão que hoje se extinguiu definitivamente, vão ter de arranjar novos tópicos para a sua oratória. 
Muita gente sublinha o facto de que quando passar a crise os velhos paradigmas vão ter de mudar e o mundo não vai ser o mesmo. Já não é, pelo que ouvimos. Vamos é ver, continuando a metáfora musical, quem vai conseguir definir o novo Lá de concerto...
Como nota lateral, devo confessar que quase tive pena do Bush. A organização desta tomada de posse esqueceu-se de lhe arranjar ali um buraco por onde ele se pudesse enfiar... Teria sido mais digno.

2009/01/19

Sempre a descer...

As previsões apresentadas pela Comissão Europeia, que confirmam a análise do "The Economist" e revêem em baixa os números do Orçamento Suplementar do governo, são preocupantes: a contracção da economia não será de 0,8%, mas 1,6% (o dobro!), o "déficit" não será de 3,9%, mas de 4,6% e a taxa de desemprego não será de 8,5%, mas de 8,8%. Entretanto, os analistas vão avisando que a situação ainda pode piorar e chegarmos mesmo à deflação. Recuperação, só mesmo lá para 2011...
Concordou o governo? Nem pensar. Sócrates não tardou em desmentir os comentadores do "The Economist" (que não teriam lido bem as suas declarações) prometendo, desde logo, novos investimentos e linhas de crédito e, a "cereja em cima do bolo", o inenarrável Madaíl, anunciava a candidatura de Portugal à organização conjunta do Mundial de Futebol em 2018. Crise? Qual crise?
Este país parece-se cada vez mais com o "Titanic". Mesmo a afundar-se, a "orquestra" continua a tocar...

Hipocrisia de Estado

Há (de novo) um cessar-fogo em Gaza. Para já, boas notícias. Resta saber até quando.
As declarações de ministro israelita Ehud Olmert no Cairo, onde apelou aos palestinianos para que "compreendessem" que "eles" não eram o principal inimigo, roça a pornografia. Como é possível, depois de três semanas de consecutivos bombardeamentos que mataram 1500 pessoas e feriram outras 5000, para além da destruição aleatória de infraestruturas fundamentais como hospitais, escolas, condutas de água e de electricidade, vir falar em compreensão?
Mesmo dando de barato que metade das vítimas eram do Hamas (o principal inimigo, nas palavras de Olmert) que culpa têm os milhares de crianças, velhos e demais palestinianos que ficaram privados das mais elementares meios de subsistência para além do terror que viveram, sem poder escapar para lado nenhum?
Já toda a gente percebeu quais as razões que estiveram por detrás desta guerra preparada com meio ano de antecedência: Bush estava de saída e havia que actuar rápido; Obama ainda não é presidente e era necessário "marcar terreno" antes da sua tomada de posse; aproximam-se as eleições em Israel e o Kadima necessitava de subir nas intenções de voto e havia necessidade de reabilitar a imagem das tropas, depois da campanha do Libano (2006), que correu mal ao exército israelita. No meio da confusão, até o processo de corrupção contra Olmert, que está de saída, passaria a segundo plano...
Vinte e quatro horas depois do anunciado cessar-fogo, agora aceite por ambas as partes, tanto Israel como o Hamas cantam vitória. Em Israel, no entanto, um inquérito levado a cabo pela TV israelita mostra que 41% da população acha que foi uma vitória e, a mesma percentagem, que foi um falhanço. Aparentemente, voltámos ao "ponto de partida".
Se nada se adiantou, porquê tal incursão, que mais não fez do que aumentar o ódio já existente e alimentar uma nova geração de combatentes para a próxima guerra?