2009/04/24

Jonathan Vale

João Vale e Azevedo - para quem não saiba, ex-presidente do Benfica - não pára de surpreender. De Inglaterra, chega-nos a notícia que um tribunal inglês declarou falida a empresa V&A Capital Limited, gerida pelo advogado português. A notícia não teria em si nada de especial, não fosse um pequeno pormenor digno do melhor Madoff. A empresa em questão é descrita no seu "site"como "uma sociedade de investimentos de capitais privados com interesses na indústria do açúcar, adoçantes de cereais e amidos e em especial na produção e comercialização do etanol como uma nova fonte de energia não poluente". O pedido de insolvência teria sido accionado pela Finurba Corporate Finance, subsidiária do grupo português Finurba, para além de diversos credores de uma dívida calculada em 4 milhões de euros. Abigail Wright, um dos credores, diz ter acreditado em Jonathan Vale (nome que Vale e Azevedo usava nas suas relações comerciais) quando este lhe garantiu um retorno garantido de 50% ao fim de 120 dias, podendo o ganho chegar até aos 117%. Convencido da bondade da proposta, Wright investiu 50 mil libras em troca de 50 mil acções da V&A. O mesmo já tinha acontecido ao presidente do partido político Unita, Isaías Samakuva que, a troco de uma promessa de investimento em Angola, pagou 1 milhão de dólares à V&A.
Num país com o historial de Inglaterra, nomes como Robin Hood, Dick Turpin, Jack The Ripper ou Ronnie Biggs, pertencem há muito à galeria dos famosos. Um apelido como Azevedo passaria completamente despercebido. Jonathan Vale (pronunciar Veile) tem outro "pedigree". Desta forma, será certamente mais fácil frequentar os corredores palacianos. À cautela, a rainha já mandou instalar câmaras de vigilância e guardas ao redor de Buckingham Palace. Vale e Azevedo, aliás Jonathan Vale, vive em Londres...

2009/04/23

Cidadania (3)

Ontem recebi, finalmente, o meu Cartão de Cidadão. Após dois meses e meio de um processo e episódios que são dignos de uma verdadeira "República da Pera Rocha". Chegada a minha vez, e após quase três horas de espera (que aproveitei para ler Coetzee), a funcionária informa-me que o cartão tem 4 códigos (quatro!) diferentes: um para a identidade, um para a morada, um para a assinatura e outro para cancelamento do dito cartão. Imaginei-me a ter de decorar mais quatro "pincodes" diferentes, mas certamente adivinhando os meus pensamentos a simpática senhora sugeriu-me alterar os códigos para um só, fácil de memorar. Claro, respondi aliviado. Infelizmente para mim e apesar da sua boa vontade, o "servidor" estava a 10% e não processava os dados...
Hoje mesmo, recebi uma carta da Loja do Cidadão, em resposta à minha queixa sobre a lentidão e ineficiência dos serviços. Muito bem, pensei, pelo menos são rápidos a responder. Acontece que a carta estava cheia de imprecisões o que me levou a corrigir os erros e a enviar outra carta a repôr a verdade. Uma questão de rigor.
Voltei à Junta de Frequesia, para confirmar o recenseamento. Sim, estou recenseado...na Holanda! Na Holanda? Mas eu não vivo na Holanda há anos e já pedi o cartão há mais de dois meses...respondo a medo. Não há problema, dizem-me: dentro de 1 mês (um!) já estará recenseado em Portugal...
Quero acreditar que no dia 7 de Junho posso votar, mas começo a duvidar. O "sistema" foi tão aperfeiçoado que, independentemente de chamar-se "simplex", não funciona. Desta forma, não posso prometer que não voltarei ao tema. Uma "saga". De incompetência e "chocos" tecnológicos.

2009/04/22

Vítimas e silêncio

Em complemento do que escrevi no post anterior sobre o silêncio e as verdadeiras vítimas do caso Freeport, aqui vos deixo uma citação do escritor Alberto Manguel (*):
"Porque a voz das vítimas é fulcral, os opressores tentam muitas vezes silenciar as suas vítimas (...). A essência da condição de vítima --de qualquer vítima-- é a injustiça (...). A justiça não deve perseguir um sentido privado de satisfação, mas emprestar publicamente à sociedade uma noção auto-correctiva de aprendizado. Se há justiça haverá esperança, mesmo face a uma qualquer divindade caprichosa. "




(*) The Library at Night

2009/04/21

Peixe dentro e fora de água

Duas curtas notas sobre a intervenção do Primeiro Ministro de hoje na RTP.
A primeira para dizer que aquilo que escrevi aqui anteontem parece justificar-se. Fazer a crítica da governação fora do contexto exclusivamente político é um erro que vai custar caro à oposição e ao Presidente da República. O PM está totalmente à vontade dentro e fora de água. Os outros agentes políticos só têm brânquias... Fora de água morrem asfixiados em três tempos.
Fora de água estiveram também os dois entrevistadores. No final os sinais de asfixia eram aliás evidentes...
Uma segunda nota para reiterar o que escrevi sobre o caso Freeport aqui e aqui. Acrescento apenas que me choca ver um assunto desta natureza abordado como se estivéssemos, neste caso, perante um qualquer "socialite", envolvido numa qualquer frivolidade. Culpa dos jornalistas e culpa do PM que aceita embarcar neste exercício absolutamente indigno do cargo que ocupa e do povo que serve, aproveitando para fazer, ele, o papel da vítima.
Não conheço outra vítima deste caso, seja qual for o desfecho que venha a ter, que não seja o povo português.

Vai ler o Tratado, pá!

O debate dos "P'rós & Contras" de ontem, dedicado às eleições europeias, foi uma ocasião perdida de elucidar os espectadores sobre algo que a todos diz respeito, mas que só alguns "iniciados" parecem saber. Duas horas e meia de chorrilhos e peixeirada, como há muito tempo não víamos em painéis televisivos. Sempre à espera de um momento de lucidez, e porque as alternativas não eram muitas, resisti a desligar o televisor. Como era de esperar e, salvo raras excepções, a maioria dos participantes levou o debate para a política interna, já que as "europeias" são vistas como um teste a Sócrates. E, se a "inexperiência" de Nuno Melo e Paulo Rangel nestas andanças não é de estranhar, a prestação de Moreira, muito pouco vital, é um mau prenúncio para a campanha. O candidato do PS é manifestamente um erro de "casting" e não será de admirar se a sua participação vier a saldar-se por uma derrota clamorosa, o que muito boa gente já previu. Dos outros candidatos (Ilda Figueiredo e Miguel Portas) ambos veteranos de Estrasburgo, o discurso conhecido, ainda que o último tentasse, por mais de uma vez, recentrar o debate no que verdadeiramente interessa: a Europa. Perante tanta demagogia, e à falta de melhor argumentação, seria dele a melhor tirada da noite: "Vai ler o Tratado, pá!". Se calhar é o que nós todos devíamos fazer. Mas, quem é que vai querer ler um Tratado, sobre o qual não podemos votar?

2009/04/19

... e nós a ver!

Há tempos escrevi aqui que pelo caminho que as coisas estavam a tomar, as eleições legislativas deste ano ameaçavam transformar-se numa parada de vitória para o Primeiro Ministro. A menos que ocorra uma catástrofe de grau 10, os meus receios encontram cada vez mais justificações.
Um dos motivos que me levou a escrever o que escrevi foi verificar que, olhando para a forma como o Presidente da República decidiu fazer frente ao Primeiro Ministro, ao seu estilo desastrado e inócuo, somos levados a suspeitar que este se deveria estar a rebolar de gozo com tanta facilidade. É gritante a falta de jeito revelada pelo PR e abismal a diferença de performance entre os dois para um combate que foi, justamente, levado pelo PR para terrenos onde ele se mostra --quase somos levados a concluir...-- de um amadorismo confrangedor.
Ontem, os orgãos de informação fizeram um grande alarido à volta de declarações do PR proferidas numa qualquer conferência pública. Grande puxão de orelhas dado ao governo e aos empresários por Cavaco Silva, nunca se viu nada assim, disseram...
Ontem ainda, o Ministro das Finanças achou a posição do PR "saudável", e hoje o Primeiro Ministro já veio dizer que o País não precisa de uma "política de recados"... O que é um facto. Numa frase, dita assim em tom quase inocente, a magistratura de influência, versão Cavaco Silva 2009, escaqueirou-se com estrondo.
Estou cheio de curiosidade em seguir os próximos capítulos desta novela que promete, mas cheira-me que alguém vai saír da contenda bastante mal tratado.
Para que haja equilíbrio de poderes é preciso que se saiba exercer o poder. O País, o tal que não precisa, de facto, de uma "política de recados", esse continua na mesma, à espera de saber qual é então a política necessária, porque a verdade é que, tirando os recados de um lado e de outro, pouco mais resta.

"Uma frase com graça"

Pronto! Durou pouco a "trégua" pascal... O Cardeal Patriarca confirma-se como mais papista que o Papa, ou talvez como bombeiro incendiário, o que é bem pior.
Em declarações recentes, a propósito da questão do preservativo e da SIDA, D. José Policarpo vem defender o Papa, tentando explicar-nos que aquilo que o que Bento XVI disse não foi aquilo que a gente ouviu. E que a ideia que temos sobre a posição absolutamente retrógrada, inconcebível e totalmente deplorável da Igreja sobre esta questão é uma fantasia e não é o que está, lá bem no fundo, na origem do comentário do Papa. 
Na mesma declaração recente a que aludi antes, D. José Policarpo aproveita para dizer que o comentário totalmente despropositado que fez em relação aos casamentos entre praticantes de confissões religiosas diferentes teria sido dito "com graça". Não vejo onde está a piada, mas suspeito que a defesa que agora faz do Papa e da sua posição relativamente ao preservativo também não passará então de uma "boutade" a atirar para o humorístico. Afirmar a este propósito que o preservativo é "falível" é, com efeito, um momento de humor...