2009/11/06

Goodfellas

A acreditar na notícia que esta semana faz manchete nos principais orgãos de informação, estamos perante mais um caso de corrupção em que o nosso país parece ter-se especializado nas últimas décadas. Nada que nos deva espantar. Há corrupção em todo o Mundo e Portugal não é excepção. De resto, os "amaciadores" da opinião pública já vieram sossegar-nos uma vez que, até prova em contrário, todos os suspeitos são inocentes. Onde é que eu já ouvi isto?
Acontece que alguns dos indiciados, neste recente crime de "tráfico de influências", são exactamente os mesmos cuja nefasta influência no tráfego da Fundação que dirigiam, levou à sua demissão do governo. Estávamos em 2001 e, desde então, muitos carros devem ter passado pelas estradas portuguesas. Alguns, ainda lá devem andar, outros deixaram de circular e foram abatidos ao activo, ou mais prosaicamente, deram entrada em depósitos de sucata. Um bom negócio, a sucata. Juntamente com o tratamento de lixos tóxicos e orgânicos, um apetecível "nicho de mercado", para utilizar o jargão dos nossos economistas da Universidade Independente.
Algumas travessias do deserto e oito anos mais tarde, eis que os mesmos nomes reaparecem, agora ligados a um sucateiro de Aveiro que, para além de carcassas de automóveis, também negociava em carris de ferro. A coisa ia de vento em popa e, não fora uma investigação policial da PJ e algumas gravações telefónicas comprometedoras, estava para durar. Agora parece que um dos "alegados" intermediários ("brokers" no jargão siciliano) queria uma percentagem que, dizem as más línguas, seria apenas de 10.000 euros. É a nossa sina. Pequeninos, até no pedir. Se ao menos fosse uma quantia que se visse! Razão tinha o Scorsese, tudo bons rapazes...

2009/11/03

Womex 2009

Cumprindo a tradição, realizou-se na Dinamarca mais uma WOMEX (WorldMusicExhibition) a maior feira de "músicas do mundo" do planeta. Um conceito de feira rotativa, que teve início na cidade de Berlim em meados dos anos noventa e que, desde então, não tem parado de crescer. Em Copenhaga, cidade que acolheu a 15ª edição da WOMEX, estiveram este ano mais de 3000 delegados, entre produtores, agentes, programadores, discográficas, artistas e conferencistas. Uma verdadeira Babel, onde durante quatro dias é avaliado o "estado da arte" e se encontram velhos amigos.
Entre as novidades deste ano, destaque para as excelentes facilidades oferecidas (recinto da feira e complexo de concertos) onde durante o dia e a noite decorreram as principais actividades: negócios e conferências no Bella Centrum (um complexo de congressos nos arredores da cidade) e "showcases" no Kopenhagen Koncerthuset, a jóia da coroa das salas europeias.
Contrariamente a algumas das feiras anteriores, a música escutada este ano pareceu-nos bastante boa, para o que terá contribuido a magnífica estrutura recentemente inaugurada: um "cubo azul" de cinco pisos, com outros tantos auditórios, onde decorriam todos os "showcases", incluindo os "off-womex", estes uma selecção de grupos não convidados. De todas as salas, o auditório principal (studio 1) é a última palavra do design escandinavo, com mais de 2000 lugares numa concha assimétrica construida em madeira. É difícil encontrar uma sala com melhor visibilidade e acústica por essa Europa fora e tudo o que lá ouvimos e vimos nos pareceu transcendente. O recorte vocal e instrumental é impressionante e qualquer deslize é ampliado ao máximo. Para a qualidade do som (uma pecha na maior parte das edições anteriores) muito contribuiu o professionalismo da equipa do Roskilde Festival, contratada para o efeito.
Entre a boa música escutada destacamos, no primeiro dia, The Great Nordic Band, um ensemble ad-hoc constituido por solistas escandinavos, que abriu a feira com um repertório algo "mainstream", mas tecnicamente impecável, seguido de Les Yeux Noirs, uma banda belga de repertório cigano e balcânico; Ale Moller Band e o seu novo projecto, onde pontuam músicos do Senegal, Grécia, Suécia, México e Canadá e a Orquesta Chekara Flamenco, um projecto de música árabe-andaluz que incluia ainda a excelente bailarina Choni. O segundo dia, iniciou-se com o acordeonista brasileiro Renato Borghetti, um solista de grande dimensão, para além do grupo chinês Hanggai, que faria uma das melhores actuações destes "showcases" e os portugueses Deolinda, que "agarraram" a assistência com a sua música sui-generis e as traduções de uma Ana Bacalhau em grande forma. No "off-womex", realce para o ensemble hindu-canadiano da cantora indiana Kiran Ahluwalia, numa fusão de música oriental e ocidental bem conseguida.
Finalmente, a terceira noite, que acabou por incluir os melhores "showcases": a Orchestra Popolare Italiana, o último projecto do megalómano Ambrosio Sparagna, numa colorida viagem musical pelos principais géneros tradicionais daquele país; as polifonias corsas dos Barbara Fortuna em excelentes harmonias vocais; os ciganos hungaros de Parno Graszt, naquele que foi um dos mais participativos concertos da noite e as vozes celestiais do Eva Quartet, provavelmente a melhor prova de que a perfeição vocal existe e vive na Bulgária.
Nesta Womex, a mais participada de sempre, deve ser destacada a presença de 25 delegados portugueses, entre os quais a associação "chapéu de chuva" MUSICA PT, que agrupa cerca de 20 empresas e artistas do sector.
Para o ano há mais. De novo em Copenhaga, no mesmo local e certamente na mais espectacular sala de concertos da Europa.
Lá voltaremos.