2010/08/13

Cavaco & Sócrates, os "bombeiros" de serviço

São 12.30h da manhã e Cavaco "fala" à comunicação social sobre os fogos que lavram em todo o país. Depois de endereçar as condolências às famílias dos bombeiros desaparecidos em combate (noblesse oblige) o presidente disse estar "muito mais descansado em relação às condições existentes no combate aos fogos". Às 10 da manhã eram já 20 os fogos em todo o país e, às 13h, eram 30 as "combustões" assinaladas, algumas das quais de grandes proporções...
Segue-se Sócrates, a elogiar as corporações e a realçar a melhoria de meios à disposição, sem os quais as "ignições" seriam muito mais do que em 2003. À pergunta se o estado deve expropriar os terrenos não cuidados, diverge e diz que "é um trabalho sem fim, pois é difícil convencer os proprietários a cuidarem dos seus terrenos". Perante esta "língua de pau" começa ser difícil de argumentar.
Nenhum dos jornalistas presentes, preocupados apenas com o "soundbite" do ministro Serrano na véspera, se lembrou de perguntar o óbvio: para além dos meios, o que faz o estado na prevenção EFECTIVA desta calamidade, que há uma dezena de anos passou a ser apelidada de "época de fogos"?
São conhecidas as causas naturais do aumento dos "fogos" nesta época: temperaturas mais elevadas, baixa humidade, ventos fortes, etc. Atinge Portugal e outras áreas do Mundo com as mesmas características climatéricas.
Mas existem outras causas, que vêm de longe e são conhecidas dos diversos governos há pelo menos cinquenta anos: desertificação acelerada dos meios rurais, devido à emigração nos anos sessenta e setenta (nas aldeias ficaram apenas os mais velhos que deixaram de trabalhar os campos e de limpar as matas); absentismo dos proprietários rurais, que emigraram para as cidades e deixaram de cuidar dos seus terrenos; aumento da monocultura (pinheiro bravo e eucalipto) em detrimento das árvores tradicionais portuguesas, como o castanheiro, o sobreiro e a oliveira; para além de interesses obscuros, que vão desde a especulação imobiliária, ao preço da madeira ardida e ao uso dos baldios para pastorícia (Aquilino já falava disso em "Quando os lobos uivam" de 1956). Isto, para não falar das "queimadas" supostamentee negligentes e dos pirómanos, pois claro.
De acordo com números recentes, existirão cerca de 500.000ha de floresta em Portugal. A maioria destes terrenos (85%) são de particulares e 67% são constituidos por matas de pinheiros e eucaliptos que, além de crescerem rapidamente, são de combustão fácil. Um verdadeiro barril de pólvora em tempos de seca.
Ontem mesmo, um considerado analista económico, dizia na televisão que tinha um pequeno terreno com pinheiros, mas, quando limpava a mata, custava-lhe 2000 euros, um valor equivalente ao rendimento das árvores plantadas. Como ele, muitos proprietários, existirão. Se o governo ajudasse, talvez valesse a pena...
Bom, se é esta a lógica, então porque é que os proprietários devem possuir terrenos dos quais não cuidam e para os quais exigem meios do estado quando as casas estão em perigo devido à falta de limpeza das suas matas privadas? Isto faz algum sentido?

Adenda: às 14horas, o número de incêndios ultrapassava a centena e as previsões apontam para uma média de duzentos fogos ao fim do dia...

2010/08/12

A "época" dos fogos

Portugal está a arder e não se vê fim à vista. Talvez quando não houver mais floresta, e, ao fogo, faltar o material de combustão que alimenta os telejornais todos os anos por esta época. A "época", pasme-se, passou a fazer parte do léxico comum, como o Verão, ou a nova temporada do futebol. Já tinhamos a "silly season", que começa algures em Julho; a "rentrée", que se anuncia para Setembro; a época "balnear" e, de há uns anos a esta parte, a "época dos fogos", algures entre Julho e Setembro, que é quando os turistas nos visitam e os emigrantes descem ao país real. Assim, à falta de animação regional, arranjam-se todos os anos uns fogos para animar a "época". Alguém deve estar a ganhar com este negócio, pois não se percebe que um país depauperado e onde ainda existe uma das maiores manchas florestais da Europa (provavelmente o seu maior património natural) deixe queimar todos os anos centenas de milhares de hectares em dois meses apenas. Como é isto possível?
Todos sabemos que as alterações climáticas existem, que as temperaturas estão a aumentar e que a região mediterrânica é propícia a fogos. Também sabemos que os fogos não são um fenómeno específico de Portugal e que acontecem em países e regiões bem mais ricas e preparadas para combatê-los, como a Califórnia, a Austrália e, este ano, até a própria Russia. Tudo isto é verdade, no entanto...
...De acordo com a maioria dos especialistas nesta matéria, não há praticamente fogos de combustão espontânea e 97% dos casos terão origem humana, seja por acção criminosa, seja por negligência. Se, no primeiro caso, é difícil detectar o culpado em plena acto; no segundo, muito pode ser feito e não se compreende que a sensibilização e a prevenção não consigam ser mais eficazes.
Veja-se o caso do aumento e melhoramento dos materiais postos à disposição dos bombeiros desde 2003, o "ano de todos os fogos". Mais viaturas, mais aviões, mais helicópteros, mais coordenação e até um plano para minorar o flagelo. Ajudou? Aparentemente sim, tem havido menos fogos e menos áreas ardidas nos últimos anos. Mas, bastou um Inverno de chuva intensa, que fez aumentar a vegetação e o potencial perigo de combustão em tempo seco, para que tudo voltasse ao princípio.
Estamos a assistir a um dos piores verões da última década e ainda Agosto não chegou a meio...que fazer, pois?
Ao longo das últimas semanas, dezenas de comentadores (entre os quais o patético ministro do MAI) vêm-nos dizer o óbvio: que o clima está a mudar, que as temperaturas estão a aumentar, que há material suficiente e que os bombeiros são uns seres abnegados. Retive três intervenções: a do presidente da Liga Nacional de Bombeiros, a da presidente da Quercus e a do presidente da Cãmara de S. Pedro do Sul. Todos eles confirmaram a avaliação do ministro, mas acrescentaram algo mais do que a "panaceia" habitual. É preciso atacar o mal a montante, a saber:
Um novo ordenamento do território; um cadastro exaustivo da floresta; a alternância de arvores tradicionais, como o castanheiro e o sobreiro, com o eucalipto e o pinheiro, a limpeza da mata no tempo próprio; a obrigação dos proprietários limparem os seus terrenos; uma política de prevenção de proximidade que envolva poderes locais, bombeiros e populações, que são quem melhor conhecem o terreno e a forma mais eficaz de combater os incêndios.
É difícil? É. É impossível? Não. É necessário? Absolutamente. Então, porque é que não se faz?

2010/08/11

Mama did take my Kodachrome away!

Até parece que custa dizê-lo, mas o último rolo de película Kodachrome --mesmo o último!-- foi usado pelo fotojornalista Steve McCurry. A Eastman Kodak anunciou o fim do fabrico desta película que foi a escolha de tantos fotógrafos e inspirou Paul Simon a escrever a sua canção intitulada, justamente, "Kodachrome".
Depois da Polaroid, foi agora a vez deste outro ícone da fotografia desaparecer.


Kodachrome
You gave us those nice bright colors
You gave us the greens of summers
Made you think all the world's a sunny day, oh yeah!

O Kodachrome era sobretudo um processo único de fabrico que permitia a produção de um filme de que resultavam imagens mais estáveis ao longo do tempo e com cores mais vivas. Estes poderão ser os  factores que ditaram a longevidade desta película.
Que o "digital", finalmente, conseguiu desfazer.
A película fotográfica não vai acabar para já, mas com o desaparecimento do Kodachrome é uma era especial que chega mesmo ao fim. Esta é a era do pixel. Como dizia o outro, "habituem-se!"
Por mim, mais pixel, menos pixel, com Kodachrome ou sem Kodachrome, vou procurar continuar a pensar que o mundo é um "sunny day".

Manobras do "aparelho"

Narciso Miranda, o "vice-rei do Norte", foi expulso do Partido Socialista. Ele e mais 200 militantes de base, que apoiaram a sua lista nas últimas eleições autárquicas de Matosinhos.
Aparentemente, a razão invocada pelo PS, ao qual Narciso Miranda já pertence desde 1974, assenta numa interpretação dos estatutos que impede um militante de concorrer contra listas do seu próprio partido.
Ora, de acordo com a versão de ex-presidente de Matosinhos, a federação do Norte, onde ele e os militantes expulsos estavam enquadrados, não os deixou apresentar listas para escolherem os candidatos locais. Daí, a necessidade de uma lista alternativa nas eleições autárquicas de 2009.
Vem de longe a animosidade, de um certo PS, ao ex-presidente de Matosinhos. Entre outras razões, pelo seu envolvimento no célebre caso da Lota, que terminaria com a morte prematura de Sousa Franco. Acontece que, para além de Miranda, mais gente esteve envolvida nesse deplorável momento da democracia portuguesa, entre os quais o seu principal oponente em Matosinhos, hoje assessor de António Costa na Câmara de Lisboa...
Miranda (com ou sem razão) é um homem ferido na sua honra e não hesita em acusar a geração actual de dirigentes sem profissão que vegetam no partido, sem ideais, para além do poder pelo poder.
Como bem analisou Adelino Maltês, já vimos este filme noutras épocas e noutros partidos, ao longo da história portuguesa recente. Estamos a assistir ao fim de um ciclo que não vai acabar amanhã, mas vai levar alguns, talvez dezenas, de anos...
Que Narciso, um homem do "aparelho" há 37 anos, não tenha ainda compreendido isto e apelide os camaradas de "estalinistas", é difícil de acreditar. E se o homem for mesmo socialista?

2010/08/09

"O ensino do Português"


Entrevista no Jornal das Nove de Mário Crespo a Maria do Carmo Vieira, professora, a propósito de um livro de sua autoria, agora publicado chamado "O ensino do Português". Vou ver se consigo apanhar o link e partilhá-lo aqui convosco. Entretanto, há uma outra intervenção dela numa edição do Plano Inclinado e pode ver aqui uma outra entrevista.
Esta dada a M. Crespo é uma entrevista sem tiques da moda, com silêncios significativos, de verdadeira reflexão, uma mulher certamente apaixonada e totalmente comprometida com aquilo que faz. Não saber escrever correctamente o Português implica não pensar bemos alunos foram passando nestes anos sem saberem nadapor causa do facilitismo estamos a criar alunos que se vão tornar vítimas da sua própria ignorância, eis algumas ideias fortes, provocações lançadas à nossa consciência por esta mulher de aparência frágil, exuberante discreta, desinibida, sem complexos e sem papas na língua. Vale a pena ver esta entrevista. Um momento raro de televisão.

Ladyzhensky

Não deixa de ter o seu quê de ironia... Enquanto a Rússia sofre uma onda de calor extremo que leva a que a média diária de mortes tenha duplicado durante este período, um russo foi procurar na Finlândia o calor que, certamente, ainda lhe faltava em casa e morreu, sábado passado, vítima de queimaduras graves... numa competição de sauna.
A dita, soi-disant, "competição" chama-se "Campeonato Mundial de Sauna" e consiste em permanecer, o máximo de tempo possível, numa sauna aquecida a 110 º C.
O mais estranho é que a "competição" atraiu cerca de 1,000 espectadores e ao lado de Vladimir Ladyzhensky --o nome do "herói" agora desaparecido-- estavam outros 130 "atletas", especialistas neste desporto de cozer ao vapor.