2010/12/30

With a little help from my friends

O candidato Cavaco Silva espalhou-se ao comprido no caso BPN. É um caso que causa um evidente estrago na sua imagem, por mais poeira que queira deitar-nos para os olhos. Tudo isto é agravado pelo facto de ele ainda não ter percebido que, mesmo que não existissem  reparos formais a fazer sobre os investimentos levados a cabo (há quem já tenha manifestado fundada opinião contrária), o candidato não se vai livrar nunca da carga política que estas suas ligações carregam.
É a questão política que interessa e é nesse domínio, do manifesto potencial político explosivo desta questão, que o candidato se tem espalhado.
Demonstrando a sua proverbial inabilidade políticia, deu mesmo uma ajudinha ao PS ao levar o governo minoritário a reagir já hoje, com veemência e com toda a legitimidade, à sua declaração relativa à actual administração do BPN. Nada mau hein?!

2010/12/29

As rãs

Uma rã é colocada num vaso de água fria. Naturalmente não tem reacção, está no seu meio. A água é então aquecida de modo suficientemente lento até ferver. Não se apercebendo do aumento da temperatura —demasiadamente lento para que seja detectada a elevação da temperatura— a rã não reage e morre cozida.
Os resultados desta conhecida experiência, produzida e reproduzida no século XIX, têm sido utilizados como metáfora para descrever a dificuldade que os humanos têm em reagir a certos fenómenos de evolução muito lenta, de cujos efeitos só se apercebem quando já é tarde.
Mais do que a experiência original e o pretenso desfecho fatal, interessam-me as experiências que apontam para a falsidade das conclusões a que chegaram os experimentadores do século XIX.
Em Portugal a metáfora da rã aplica-se na forma insidiosa como o estado da economia nos tem sido descrito. Lentamente temos sido levados a pensar que as coisas estão mal. E lentamente temos sido levados a pensar que somos nós os culpados. A situação descambou e agora somos levados a acreditar que estamos cozidos. mas, quem levantou o lume?
A manobra está clara nas justificações que são dadas para introduzir medidas brutais e pretensamente cegas e está clara em algumas das medidas tomadas. Lentamente tem-nos sido transmitida a ideia que os portugueses gastam demais. Dão-se gritos de alerta porque cada português deve 500 euros. Lentamente o caldo de cultura destas "verdades" vai aquecendo e as rãs portuguesas parecem mostrar sinais de que não se apercebem disso. Mas, repare-se como dos diversos escândalos financeiros, dos diversos casos de corrupção, do abuso legal que algumas das medidas impostas prenunciam, nada resulta. E como estes escândalos são cobertos. Repare-se como em clima de restrições pesadas, de aumento brutal dos preços, de dificuldades dos bancos em aceder ao mercado interbancário, de níveis inimagináveis de crédito malparado, vemos diversas campanhas de empresas financeiras ligadas à banca, na televisão e pelo telefone, que oferecem crédito... ao consumo!!
As perguntas impõem-se então: há ou não há crise? Quem a provocou? Quem a deve pagar?
Dizia eu atrás que cientistas contemporâneos concluíram, após reproduzirem as experiências originais do século XIX, que é falso que as rãs não reajam ao aquecimento da água. Ai não que não saltam cá para fora assim que ela atinge um determinado limite de temperatura! A menos que a fuga lhes seja barrada... Os experimentadores do século XIX estavam enganados, conduziram mal as suas experiências ou extraíram delas conclusões erradas.
Pois é esta a verdadeira metáfora. Em vez de pensarmos que os portugueses vão docilmente deixar-se cozer, devíamos talvez acreditar que vão reagir. Para surpresa de muitos, estou certo.
Bom ano novo!