2011/01/12

Embandeirar em arco e em flecha

Não deixa de ser curioso observar as reacções dos candidatos à presidência ao leilão de obrigações de hoje. Alegre declara-se satisfeito, Cavaco diz que não devemos embandeirar em arco. De facto, pensava eu, se a estratégia de combate à "crise" correr bem e o governo levar a melhor nessa sua estratégia o que fica da argumentação do candidato Cavaco que justifique a sua recandidatura?
Não sei se já repararam, mas toda a estratégia deste homem assenta no falhanço do governo, no aprofundamento da crise e no afundanço final de Portugal. A tal "reserva" é isto: enquanto espera que tudo vá ao fundo ele "reserva-se" o direito de aparecer como o salvador da pátria. Onde é que já se ouviu isto?
Se falhar o tal afundanço não resta nada do "pensamento político" do candidato. Cavaco parece um verdadeiro abutre olhando a crise à espera de lhe chupar as carnes.
Aqui há uns anos, nos tempos em que Cavaco era primeiro ministro, alguém (se não me engano, o Miguel Urbano Rodrigues) distinguia nele traços de ditador. Na altura, para alguns, essa leitura foi classificada como apressada e exagerada. Creio que está hoje mais que provada a sua justeza. Cavaco embandeira em flecha.

2011/01/11

A quadratura do círculo

Vejo a televisão e sou confrontado com duas notícias, aparentemente, antagónicas:
Enquanto Sócrates, acompanhado do ministro de finanças, anuncia em directo a redução do "déficit" para 7,3% (cumprindo, assim, os objectivos do Orçamento para 2010), a mesma estação televisiva passa em roda-pé a notícia de que o Banco de Portugal prevê uma recessão da economia portuguesa em 2011, com recuo de 1,3% do PIB e um crescimento (negativo) de 0,6% em 2012.
Ou seja, apesar da relativa melhoria do "déficit" no ano transacto, a economia não crescerá o suficiente em 2011, nem em 2012. Isto quer dizer que haverá menos emprego, menor consumo e mais desemprego. Logo, maior recessão. Podemos, pois, antecipar maior "déficit" no ano corrente, a menos que sejam contraídos novos empréstimos no estrangeiro.
Ora, como sabemos, os empréstimos dependem, entre outras coisas, das notações das famigeradas "agências" que, em última análise, acabam por influenciar a taxa de juro a aplicar pelos credores internacionais. Os juros aplicados a Portugal rondam os 7,3% nos dias que correm.
Gostaria que alguém me explicasse como vai ser isto possível. Por outras palavras, como é que o governo português, com estes indicadores, poderá a prazo evitar a entrada do FEE e do FMI em Portugal, coisa que os nossos governantes teimam em negar?

2011/01/10

Orgulho

Cavaco Silva foi ministro das finanças em 1980, presidente do Conselho Nacional do Plano em 1981, primeiro ministro de 1985 até 1995 e é presidente da república desde 2005. É, segundo se diz, o político actual com mais anos de vida pública no activo.
José Mourinho não precisou de tantos anos para mostrar serviço na sua área. Falando na sua língua, declarou-se hoje singelamente um "orgulhoso português", perante uma plateia internacional que premiou com um significativo galardão os resultados excepcionais que obteve graças às suas capacidades técnicas, de estratégia e de liderança da sua equipa.
Ao dizer-se "orgulhosamente português" Mourinho tem consciência de que nos revemos (eu revejo-me!) nos seus êxitos e neles encontramos um elemento mobilizador.
Cavaco não tem, na sua área e ao seu nível de actuação, resultados de que se possa vangloriar ao fim de tantos anos de exercício dos mais altos cargos públicos, a sua estratégia continua a ser sair de Boliqueime e a sua equipa é o que se sabe. Ao fim de todo este tempo, isolado e acossado, Cavaco consola-se com o seu auto-proclamado título de "reserva da nação" quando, na verdade, pôs a nação na reserva.
Dir-me-ão, treinador de futebol é treinador de futebol e político é político. Mas, por maioria de razão, deixo-vos então a pergunta: depois de tantos anos de actuação, ao mais alto nível, o que fica da acção de Cavaco que nos faça sentir "orgulhosamente portugueses" e que elementos mobilizadores contém? O que diz tudo isto dele? E de nós?

Mourinho, o melhor

Nem todos os "rankings" dos portugueses são maus, como se viu hoje em Zurique.