2011/04/16

Marinho e Pinto perdeu uma excelente ocasião para estar calado

O bastonário da Ordem dos Advogados veio apelar à abstenção. Perdeu (mais) uma excelente ocasião para estar calado e devia, na minha opinião, pedir desculpa aos Portugueses.
A abstenção e a capitulação perante o status quo não são opções válidas para os Portugueses. O estado actual do País tem a sua origem, justamente, na abstenção e na capitulação. Abstêm-se aqueles que aceitam o "arco do poder" e votam de forma acrítica nos partidos que o compõem, como se abstêm aqueles que não aceitam esse "arco da velha" mas não vão votar porque "não vale a pena". Não há diferença qualitativa entre estas duas posições. Mudar o País é participar mais, não fugir.
Estamos habituados às tiradas do doutor Marinho e Pinto. Aceitamos que enquanto bastonário da sua ordem emita opiniões publicamente sobre a sua organização e a sua área de actividade. Aceitamos até que emita opiniões sobre questões de cidadania na perspectiva técnica que é a sua. Mas, considero inaceitável que emita opiniões pessoais deste teor, encavalitado no estatuto público que detém e aproveitando como parasita os megafones que lhe estendem por causa disso. É uma atitude totalmente irresponsável.
Não fora Bastonário e a voz de Marinho e Pinto não chegava ao céu. Por isso devia usar o seu estatuto de modo responsável. Este tipo de irresponsabilidade faz também parte do conjunto de problemas de que sofre o país.
Pena não podermos votar nas eleições para bastonário da OA...

2011/04/15

Inside Job, crisis abroad...

O filme "Inside Job" já tinha abordado o tema. Parte do "job" é assegurada pelas chamadas "agências de rating", a pirataria no século XXI a que os senhores do poder se deixaram submeter e submetem os povos que representam.
Agora ficamos a conhecer os detalhes e as várias dimensões de todo este sórdido e triste episódio através das conclusões da investigação oficial. Vale a pena ler este Levin-Coburn Report On the Financial Crisis publicado anteontem.

2011/04/13

"Demitida por se recusar a inventar uma notícia"

"Demitida por se recusar a inventar uma notícia". A notícia, brutal, chega-me por via do blogue Ponto Media do António Granado. Não deixa de causar uma enorme náusea ver acontecer uma coisa destas, trinta e sete anos depois do 25 de Abril... Não foi seguramente para isto que andámos todos a batalhar. Este soube-se, mas quantos outros casos não terão ocorrido sem sequer termos tido deles conhecimento?
A verdade é que a mordaça fascistóide e a tentação totalitária não acabaram nunca verdadeiramente. Modernizaram-se e já não usam polainas ou botinha de elástico, mas existem. E nunca será demais denunciá-lo.
Um amigo meu declarava-me hoje, com orgulho, que ninguém mandava na sua consciência e que gozava, no que a ela diz respeito, de total liberdade. Sei que sim, sei a coragem que isso requer e admiro-o muito por isso. Mas quantos se podem orgulhar do mesmo? Quantos não preferem ainda a trela a troco de uma qualquer sinecura? E porque raio a tentação totalitária prevalece e a liberdade, tanto tempo depois de a termos conquistado, ainda é entre nós um facto digno de admiração? Qual a justificação para ainda termos de continuar a ter de "lutar" por ela? Porque razão continua a ser algo que evoca coragem inusitada e suscita admiração? Porque razão não se tornou, ao fim de todo este tempo, uma questão comezinha, indelével e umbilicalmente ligada à nossa vida colectiva?
Como é que poderemos aspirar vencer o défice económico antes de conseguir vencer o défice democrático?

2011/04/11

O arco e as flechas

Não percebo, com toda a franqueza, esta admiração em torno da inclusão de Fernando Nobre nas listas do PSD. Creio que só mesmo quem se quis deixar enganar terá votado nele para a presidência da república. A Presidência da República Portuguesa não é uma ONG e Fernando Nobre não demonstra, não tem!, as capacidades para ocupar um lugar destes (*). Se tivesse estofo de político, teria percebido que, no quadro de uma democracia, o que propõe é atributo de actuação de um partido. Para levar o seu desígnio em frente teria de criar um programa e um partido para o levar a sufrágio. Em alternativa, inventou esta coisa bizarra que é propôr um partido... apartidário. Uma espécie de SGPS unipessoal (**). Um disparate, destinado à derrota. Não fosse a mãozinha do clã Soares e Fernando Nobre nem ganhava a Câmara de Vila do Conde. Nobre nunca quis fazer política. Como escrevia ainda hoje o meu amigo Pedro Barroso, tudo não passa de uma "insuperável sede de protagonismo pessoal." Pelo lado de Fernando Nobre a cambalhota não deve, pois, admirar.
Já pelo lado do PSD a coisa não é tão clara. Parece estranho que o PSD, enquanto partido do "arco" se tenha disposto a acolher esta ideia de ter um presidente-partido, como candidato apartidário a presidente do orgão onde os partidos digladiam as suas teses. Confusos? Também eu!
Há nisto tudo uma estratégia suicidária que ainda não consegui perceber e, ou muito me engano, ou as asneiras não vão ficar por aqui. Passo a passo, Coelho dá tiros atrás de tiros nos pés. Em breve se revelará que a perna é mais curta que o Passos. Se alguém tinha esperança de que o PSD pudesse ser alternativa ao regabofe PS e pudesse fazer frente ao seu perturbante e ameaçador cerrar de fileiras demonstrado este fim de semana, o melhor é rever o seu raciocínio.
Com o País entalado como está, com o PCP e o BE a desperdiçarem ingenuamente uma oportunidade de ouro de pressionar o PS e estabelecer uma dinâmica de verdadeira alternativa de poder, estamos de novo entregues ao "arco". Faltam as flechas.

(*) Se o actual inquilino do Palácio de Belém tem capacidade para ocupar o lugar que ocupa é outra conversa...
(**) Verdade seja dita que o vencedor dessa eleição também inventou uma outra coisa bizarra que é a categoria de político... apolítico. E ganhou! Tudo é possível, pois, dentro do rectangulozinho lusitano.

Do surrealismo nacional

Num fim-de-semana marcado pelo congresso que mais não pretendia do que apoiar acefalamente um líder eleito por maioria albanesa, a proposta mais desconcertante acabaria por não surgir em Matosinhos, mas no Funchal, onde o líder da oposição anunciou o "trunfo maior" para as eleições em Lisboa: Fernando Nobre como primeiro nome da lista do PSD.
Pensávamos ter visto tudo e, de facto, de pouco nos admiramos já; mas esta de Nobre ser candidato pelo PSD, com a promessa de vir a ser o presidente da Assembleia Nacional caso aquele partido ganhe as eleições, não lembrava ao careca! Estamos sempre a aprender...