2011/07/30

Os avelinos

Este processo do relógio de ouro de 15 000 euros, oferecido a Avelino Ferreira Torres, não choca pelo valor nem pelo destinatário da "prenda". Avelino Ferreira Torres não engana ninguém e, nesse aspecto, parece até ser o mais "inocente" em tudo isto. O que choca verdadeiramente são os avelinos que tiveram esta ideia. Tremo de pensar nesta malta que desviou dinheiro público, dinheiro nosso, pelo qual era responsável, e o empregou numa operação ilegítima, não orçamentada, sem pestanejar, como se de uma coisa perfeitamente natural, talvez mesmo inevitável, se tratasse. Tremo de pensar que depois disto, para a Justiça Portuguesa, estes avelinos não parecem dignos de mais do que um castigo light, decidido ao fim de um processo mastigado ao longo de vários anos. Uma sentença exemplar, portanto. Tremo, sobretudo, quando penso nos avelinos que votaram nestes, demonstrando com o seu voto tolerar e avalizar tudo isto
E que dizer dos avelinos todos que por aí andam, menos exuberantes, mais discretos, inimputáveis,  apoiantes ou praticantes activos do princípio "em cada relógio de ouro, um amigo?"

2011/07/29

Oslo (2)

O primeiro-ministro norueguês, Jens Stoltenberg, falou hoje numa mesquita de Oslo, naquele que foi considerado o ponto alto das cerimónias oficiais em memória das vítimas dos atentados de há uma semana.
Sem nunca mencionar o nome do terrorista que perpetrou os atentados, Stoltenberg quis mostrar ao seu povo que os muçulmanos, noruegueses ou não, estão na Noruega para ficar, pelo nada mais resta do que entenderem-se.
Se mais razões não houvesse, esta é uma lição para os fanáticos de todos os quadrantes, que justificam os seus crimes com o incitamento ao ódio que sempre os animou.
Resta uma questão dolorosa: o único helicóptero da polícia da capital estava avariado e a unidade de comandos, destacada para a ilha, chegou lá de automóvel e barco, uma hora e meia mais tarde. Num dos países mais desenvolvidos do Mundo, há coisas inexplicáveis. Os noruegueses, certamente um dos povos mais pacíficos do planeta (et pour cause), não o mereciam.

2011/07/25

Oslo

Vemos as imagens do massacre norueguês e não podemos deixar de compará-las com acontecimentos recentes que atingiram Nova-Iorque, Madrid ou Londres. Da mesma forma que ontem fomos americanos, hoje sentimo-nos noruegueses. Nada, ideologia política ou religião, pode justificar tal barbárie e desprezo pela vida humana. E portanto, mais uma vez, um acto de puro terrorismo paralisou um país e pôe em questão valores sobre os quais as nossas sociedades assentam. Sabemos, de há muito, que o Mal é universal e, nesse sentido, transversal a todas as culturas e sociedades. No entanto, e ao contrário dos atentados radicais islamistas, perpetrados contra sociedades "ocidentais" a partir de "fora", os atentados na Noruega foram executados por um nativo contra os cidadãos do seu próprio país. É uma diferença fundamental, ainda que nenhum fundamentalismo - islamista ou cristão - seja na sua essência muito diferente. Trata-se de um acto (aparentemente isolado) que não é representativo da religião cristã, da mesma forma que os actos terroristas islamistas, não devem ser confundidos com o Islão. Mas, atenção, os sinais de crescente racismo e xenofobia nos países do Norte da Europa são hoje inequívocos. O massacre de sexta-feira passada foi, no seu simbolismo, um acto pensado e executado com a frieza de um convicto nazi, de resto confirmado pela documentação a que vamos tendo acesso. Um acto isolado ou um dos muitos ovos que a serpente nacionalista e xenófoba está a chocar? Essa é a pergunta central e nada garante que países como a Noruega os possam evitar.

Terão sido de facto os mesmos?

José Sócrates foi entronizado em Março último no PS com uma significativa percentagem de 93% de votos favoráveis. Agora, passados apenas 4 meses, é a vez de António José Seguro ser eleito com uma percentagem também significativa de cerca de 70%.
O secretário geral é novo, mas a maioria que o elegeu, como hoje me chamava a atenção um amigo, é a mesma. Ora dá o poder a um, ora muda de opinião e, no espaço de 4 meses, mais coisa menos coisa, dá o poder a outro que se lhe terá oposto. E muda esta opinião sem que se tenha percebido muito bem em que matérias e com que justificação o faz, e sem que se tenha sequer percebido a matriz da qual emanam tamanhas "divergências".
Para que fosse possível aceitar o PS como um partido credível, ideologicamente sólido, politicamente responsável e capaz de constituir uma alternativa de poder séria, seriam devidas muitas explicações ao país e esperar-se-ia um momento de profunda auto-crítica.
Tendo em conta os personagens que continuam a dominar os acontecimentos, o armazém de bric-a-brac ideológico em que se transformou o PS e a capacidade de regeneração da camuflagem dos seus militantes parecem-me exercícios pelos quais vamos todos certamente ter de esperar sentados.