2011/08/12

Brandir ou brandura?

No mesmo dia em que ficamos a saber que vamos ter de pagar mais imposto se queremos acender os candeeiros para não andar aos tropeções à noite pela casa ou ligar o computador para trabalhar (tudo, claro!, em nome da compatibilização do valor do IVA com o que se pratica noutros países da UE), veio a público que o tal desvio de 1,1% do défice se deve, como foi apontado explicitamente pela troika, sobretudo, aos escândalos do buraco negro do BPN e do regabofe orçamental da Região Autónoma da Madeira.
Não seria tempo de as autoridades competentes brandirem as armas de que dispõem para apurar responsabilidades? Não seria tempo de prestar contas? Tribunal de Contas, MP, CSM, para que servem ao certo? Ninguém contribui para aliviar a factura? Será que o Governo está convencido que pode continuar a tapar buracos (no sentido literal e metafórico do termo) agravando indefinidamente a vida dos portugueses? Até quando dá para esticar a corda?
Ou vão os portugueses ficar, como sempre, pelo debate na generalidade no hemiciclo dos cafés, pela piadola imbecil na próxima edição do "Inimigo Público", enfim, pela reacção popular branda do costume?

2011/08/09

Reino Unido: a lei vista de fora por dentro

Dirigindo-se aos responsáveis pelos motins que estão a ocorrer em várias cidades inglesas, David Cameron classificou estes actos como "criminalidade pura e simples que tem de ser combatida e desencorajada." Uma vez que o número de detidos já se aproxima dos 500, pode-se concluir que, tal como aqui escrevi no caso da Síria,  no Reino Unido existe um anormalmente elevado e inexplicavelmente significativo índice de criminalidade.
Como puderam Cameron e os seus antecessores deixar a criminalidade atingir tais níveis no seu país? É, também neste caso, uma pergunta que fica no ar. Como pode Cameron pensar em combater e desencorajar estes "crimes" dissociando-os da crise que o país atravessa, tripudiando sobre a difícil situação económica de camadas significativas da população e esquecendo as medidas —muitas já implementadas no seu consulado— que vieram agravar ainda mais as, já de si, difíceis condições de vida de toda esta gente que agora se amotina? Quem é que acredita que um fenómeno desta natureza e amplitude se resume a "criminalidade pura e simples", como lhe chamou Cameron, ou "crime organizado" como sugeria um imbecil qualquer, português, alto dirigente de um observatório não-sei-quê, desses, que observam não se sabe bem o quê...?
Ainda vamos assistir, no meio do prometido combate aos amotinados das cidades inglesas, à tomada de  medidas do tipo a que chamo de Santa-Bárbara-quando-troveja. Tal como Bashar al-Assad, Cameron ainda se vai lembrar um dia destes de aliviar a canga para tentar sair de tudo isto como dominador de um fogo que ele próprio ajudou a atear.

2011/08/07

Síria: a lei vista de fora por dentro

"É dever do Estado agir perante os fora-da-lei," disse Bashar al-Assad para justificar a repressão sobre o povo sírio. Uma vez que o número de mortos, segundo activistas dos direitos humanos, ultrapassa os dois milhares, como resultado desta acção do Estado sírio, pode-se concluir que a Síria é um país onde existe um anormalmente elevado e inexplicavelmente significativo índice de criminalidade.
Como pôde Bashar al-Assad deixar esta criminalidade atingir tais níveis no seu país? É uma pergunta que fica no ar.
Não deixa também de causar alguma perplexidade que a actividade destes fora-da-lei tenha levado o presidente sírio —ao fim de tanto tempo, porquê agora?— a decidir mudar o regime fazendo-o enveredar pela via do multi-partidarismo...