2011/08/19

Operação Palito

Há cerca de um mês deixei de poder enviar "emails" através da minha plataforma do "entourage" (para quem não saiba, o "entourage" é um serviço do MAC, correspondente ao "outlook" no PC). Sempre que desejava enviar ou responder a um "email", surgia um texto no écran do computador a avisar que os meus "emails" não estavam "certificados" e que necessitava de autorização para tal (!?). No entanto, sempre que clicava na tecla "send", os "mails" eram enviados. Saíam, mas nunca chegavam aos destinatários!
Só dei por isso ao fim de uns dias, quando as pessoas a quem enviava "mails" me diziam que não tinham recebido nada (!?). Ou seja, os "mails" saíam, mas caiam literalmente no "buraco negro" de que falam os astrofísicos.
Queixei-me à ZON, onde tenho a minha assinatura da Netcabo, mas, os sucessivos técnicos que me tentaram ajudar, deram-se por vencidos ao fim de algumas horas de tentativas. Aconselhado a ir a um representante MAC, pois podia tratar-se de um problema do "entourage", lá fui. Numa das lojas que visitei, o técnico alterou a configuração das contas de envio de "mails", fez dois testes à minha frente e os mails saíram e entraram no computador dele. Estava a funcionar!
Voltei a casa, recomeçei a enviar mails (agora já sem o aviso no écran) e esperei pela resposta. Como ninguém me respondia, confirmei que nada tinha mudado. Sempre que me ligava à Netcabo, deixava de poder enviar "mails" através do "entourage". Entretanto, uma das técnicas da ZON, forneceu-me um webmail temporário, através do qual posso enviar "mails", mas não pela plataforma "entourage".
Desesperado, queixei-me pela enésima vez à ZON, que me pôs em contacto com a PC-clínica um serviço de apoio informático. Deste vez, o técnico com quem falei, mandou-me desligar o "modem" e introduzir um palito vulgar num dos orifícios existentes, na parte detrás do aparelho, durante 30 segundos. Após tão delicada operação, enviou-me um "mail" e pediu para eu fazer um "reply". Assim fiz, mas ele nunca recebeu o meu "mail". Foi, presumo, para o tal buraco negro...
Ontem, fui a outra loja MAC. O técnico voltou a configurar o envio de mails e fez um teste à minha frente. Os mails saiam do meu computador e entravam no dele...estava em ordem. Pediu-me para, quando chegasse a casa, lhe enviasse um "reply" para confirmar se estava tudo OK. Assim fiz. Como ele não respondesse, telefonei-lhe. Não tinha recebido o "mail"...explicou-me que eu não sou o primeiro com este tipo de problemas, mas que a Netcabo não vai admitir que é um problema da "certificação" no servidor.
Hoje voltei a telefonar para a ZON. Mesma história, mesmos testes. Sem palito. No prazo máximo de cinco dias, entram em contacto comigo, para confirmar se o problema está resolvido...
Eu sei que estas histórias não têm interesse nenhum, mas, como estamos na "silly season", parto do princípio que fazem parte do Verão. Prometo, desde já, contar o fim desta operação, quando e se ela acabar em bem. Entretanto, e pelo sim pelo não, resolvi precaver-me e fui ao supermercado comprar uma caixa de palitos. Da marca "Elos" (redondos grandes) que, segundo o meu merceeiro, são os melhores...

2011/08/15

A classe média, esse «reservatório inesgotável»



Diálogo entre Colbert e Mazarino durante o reinado de Luís XIV ( século XVII), extraído da peça de teatro Le Diable Rouge, de Antoine Rault:



«Colbert: Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar [o contribuinte] já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é que é possível continuar a gastar quando já se está endividado até ao pescoço...

Mazarino: Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas vai-se parar à prisão. Mas o Estado... o Estado, esse, é diferente!!! Não se pode mandá-lo para a prisão. Então, o Estado continua a endividar-se... Todos os Estados o fazem!

Colbert: Ah sim? O Senhor acha isso mesmo? Contudo, precisamos de dinheiro. E como é que havemos de o obter se já criámos todos os impostos imagináveis?

Mazarino: Criam-se outros.

Colbert: Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.

Mazarino: Sim, é impossível.

Colbert: E então os ricos?

Mazarino: Os ricos também não. Eles não gastariam mais. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres.

Colbert: Então como havemos de fazer?

Mazarino: Colbert! Tu pensas como um queijo, como o penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente entre os ricos e os pobres: os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tirámos. É um reservatório inesgotável.»

À deriva

Nunca o marxismo, na sua tendência grouchista, foi tão pertinente. No registo do pensamento marxista-grouchista há, recordar-se-ão, aquele célebre telegrama enviado à direcção do exclusivíssimo Friar's Club de Beverly Hills, em que Groucho Marx pede a demissão porque, justificava ele, "não quero pertencer a um clube que me aceita como membro."

O ministro das finanças alemão diz-se contra o que ele chama de "apoio ilimitado" aos países afectados pela crise da dívida soberana. Diz-se também contra as chamadas eurobonds. A França ajuda à missa. Em contraponto, parecem existir sectores do governo alemão que admitem as eurobonds. A Itália aperta o cinto. A Espanha tenta acertar na fivela. Em Inglaterra surgem vozes preocupadas. Os efeitos da propagação da crise da dívida irão certamente repercurtir-se seriamente neste país. As reformas operadas em Inglaterra, mesmo com esta fora da zona euro, correm o sério risco de esbarrar contra a evolução da crise da moeda única. A Inglaterra está, por tabela, em risco de ter de calçar os motins e deslizar por aí fora.

O desafio para a Europa não está na forma de lidar com a dívida dos Estados Unidos, mas na inabilidade da Europa "Desunida" para resolver a sua própria crise. Ninguém parece estar a salvo, o perigo de desagregação é iminente. Mesmo assim, ninguém parece conseguir entender-se. A imagem que fica é a de uma Europa totalmente à deriva. Entretanto, George Soros e outras vozes sugerem que a Grécia e Portugal deviam sair da zona euro.

A Europa aceitou Portugal, Grécia e Irlanda como membros dos seu Friar's Club. Está porventura na hora de levar a tese marxista-grouchista mais longe: estes países não deveriam permanecer num clube que os aceitou como membros. Sair agora seria, para nós, um acto de higiene elementar. Uma espécie de triunfo dos "pigs".

A saída provocaria, estou certo, um debate sério, externo e interno, em claro contraste com a falta de debate sobre a entrada e sobre o pecado original da falta de democracia do projecto europeu. A saída permitiria ouvir os europeus sobre o que pensam sobre a Europa, sobre o euro, sobre os alargamentos passados e futuros (se é que pensam alguma coisa), sobre a sua noção de "comunidade". A saída levaria, estou certo, a reflectir  sobre o modo como vai sobreviver a Desunião Europeia, agora que o poder mora lá longe, agora que é mais claro o modo como a Europa alicerçou a sua riqueza, agora que a América tem mais com que se preocupar, agora que a vantagem cultural europeia se esvaiu.

Silly Season

Com o país a banhos, e na melhor tradição envergonhada dos políticos portugueses (que esperam sempre pelo Verão para anunciar medidas gravosas para a população) voltámos ao tempo das "não-notícias". Há quem lhe chame "silly season" (estação parva) por falta de matéria noticiosa, mas a realidade não dá descanso aos optimistas. Por mais que o primeiro-ministro repita no Pontal (o ponto alto da parvoíce partidária) que o governo está a reduzir o "estado gordo", a verdade é que não se vêem "cortes", mas apenas aumentos: no imposto sobre o 13º mês, no preço dos transportes, no gás e na electricidade, na saúde e na educação. Ou seja, nos bens de consumo essenciais e que mais directamente afectam os consumidores. O governo, como de resto todos os anteriores, tenta aumentar as receitas através dos impostos (sempre a maneira mais fácil) e não reduz as despesas (entre outras, do tal aparelho do estado que não se cansa de apelidar de "gordo"). Pior, nomeia para a direcção do banco do estado (CGD) os "boys" do costume, a ganharem ordenados ofensivos para a maioria dos trabalhadores deste país, enquanto o conselho de estado é literalmente invadido por ex-secretários gerais do PSD e o inenarrável Lopes é convidado para dirigir a Misericórdia de Lisboa...
Não contente com o desvario liberal que anuncia privatizações a eito (EDP, PT, Galp, Brisa, RTP) proclama que não vai ficar por aqui: quer ir mais além do que as medidas exigidas pela Troika (!?), única forma de sairmos do ciclo de recessão em que nos encontramos...
Dado que não se vêem quaisquer medidas de fundo que contrariem esta recessão (que é real) e muito menos uma estratégia de crescimento económico que possibilite a tal recuperação, pergunta-se como é que a economia portuguesa pode crescer se não há programa de emprego que o permita?
Não por acaso, depois de ter anunciado todas estas medidas, Coelho apelou à calma e à conciliação nacional, certamente temendo uma revolta genuina de todos aqueles que diariamente são alvo desta colossal idiotice. O homem é parvo e quer fazer de nós parvos.