2011/10/07

Ainda a Apple

Ler tudo aquilo que tem sido publicado sobre a morte de Steve Jobs e sobre a sua obra na Apple, não deixa de me dar, em certos casos, uma imensa vontade de rir.
Lembro-me quando em 1983 (creio que terá sido nessa altura, não o posso confirmar com precisão) eu e o meu querido amigo Pedro M. Freitas nos deslocámos a uma loja que ficava ali para as bandas da Av. João Crisóstomo para ver uma novidade que me descreviam como "bombástica". Era o Apple Lisa. Lembro-me do Pedro ter imediatamente começado a sonhar com as possibilidades que um computador deste tipo oferecia para as suas arquitecturas e eu imaginava futuros sonoros que, não muito tempo depois, se começaram a poder concretizar de uma forma sólida e acessível, graças à Apple. O sonho era possível para mim e para o Pedro. Continuamos irmanados nesse sonho.
Lembro-me também que nos tempos que se seguiram, muita desta gente que hoje tece loas a Steve Jobs, criticava a Apple por produzir computadores que pareciam brinquedos caros, com voz fininha, penugem e a cheirar a puberdade, ao contrário dos "compatíveis" que falavam grosso, tinham barba rija e pelos no peito. Usar computadores a sério era usar "Pc's" e homem que era homem usava DOS. Em vão a gente tentava explicar que alguns dos "defeitos" da Apple acabavam por ser virtudes. O sistema operativo era inovador (a metáfora, computers as theatre...), bastante mais blindado, mais fácil de usar, mais intuitivo e o facto de só correr nos Macs era uma vantagem porque tornava a sua operação mais fluida e menos sujeito às incompatabilidades de que sofriam os "compatíveis". O utilizador de Pc's olhava para nós com ar de comiseração e lá seguia na dele, enquanto nós seguíamos na nossa.
Até que um dia chegou uma coisa chamada "windows"... Uma vergonha tão grande que, segundo creio, foi retirado do mercado após uma primeira tentativa de o comercializar. Só lá para uma versão mais adiantada a Microsoft teve a lata de o voltar a colocar no mercado. Os valentes utilizadores do DOS exultavam com a possibilidade de fazer agora coisas que os utilizadores dos Mac's faziam há anos. Como utilizar um rato, por exemplo... Lembro-me das sessões de tortura que foram as primeiras tentativas de usar um rato num PC.
O "windows" era uma cópia descarada, mal enjorcada e retardada do Mac OS original, que já levava, nesta altura, um avanço ainda maior, proporcionado por muitas versões e aperfeiçoamentos que o foram tornando cada vez mais fácil de usar e eficiente. Só o preconceito impediu durante anos que determinadas aplicações informáticas comuns corressem no sistema operativo Macintosh. O preconceito ou o medo de que funcionassem melhor, como se veio depois a confirmar.
A verdade é que, eu pessoalmente, em quase 30 anos de utilização de produtos da Apple, nunca tive um vírus, um "crash", ou um problema de incompatibilidades ou dificuldades de instalação de periféricos, para além dos que me foram causados por "nabice" minha ou incompetência da EDP... O melhor sistema operativo, as melhores e mais inovadoras aplicações sempre foram as dos Macs. Para já não falar na sua beleza e na sua sempre exigente e comprovada correcção ergonómica.
Um outro aspecto que não tem sido suficientemente valorizado é que a inovação do conceito Apple criou ferramentas que inspiraram novas actividades e revolucionaram outras. Os Macs "inventaram" o desktop publishing. O mundo da multimédia e o seu potencial como nova ferramenta pedagógica e de escrita, estavam já presentes num simples processador de texto como o MacWrite e no, certamente já esquecido,  mas importantíssimo HyperCard. O tão badalado iPad é um longínquo herdeiro desta aplicação comercializada em 1987. Até as análises de DNA só eram possíveis em plataformas Apple.
E nem vale a pena falar no espantoso NeXT.
No princípio poucos compreendiam a visão de Jobs, o desígnio da Apple e o rumo que ele queria imprimir à companhia. Os primeiros produtos da Apple não foram propriamente estrondosos sucessos comerciais. Mas, a lógica da marca foi-se tornado clara, os cépticos foram-se muito lentamente rendendo e a Apple acabou por chegar à posição dominante que é a sua hoje. São todos estes, velhos utilizadores e outros recém convertidos, que agora lamentam o desaparecimento do homem que inspirou tudo isto.
Mas, creio que é forçoso reconhecê-lo, a Apple perdeu. Nesta querela  entre a lógica de uma informática ubiquitária, útil, para todos, e uma informática secreta, para informáticos e generais... ganharam os generais. A Apple perdeu tempo, recursos e energias e perdemos,  também, todos nós, com isso. A lógica sem compromissos da Apple foi durante muito tempo subjugada pela lógica badalhoca da Microsoft.
Hoje a situação inverteu-se. Mas, hoje também há quem pergunte para onde vai a América, agora que a inovação mora noutras paragens e os seus líderes empresariais e trabalhadores mais criativos desaparecem, ou migram para novas paragens, e a sua capacidade de inovação parece desvanecer-se no tsunami do caos económico. Talvez a estéril querela entre estes dois conceitos de aplicação de uma área em que os EUA dominaram —sem rival à altura, mas na tal lógica da badalhoquice— ajude a explicar um pouco a situação que por lá se vive hoje. A Apple acabou por ganhar, mas talvez tarde demais para que o seu país de origem possa colher dividendos sérios.
Mas, que dá vontade de rir ver muita desta gente a fazer o panegírico de um personagem que verdadeiramente nunca compreenderam (imaginem o dr. Cavaco!!) e continuam a não compreender, lá isso dá...

2011/10/06

Steve Jobs

Uso produtos da Apple desde 1984. Quando Jobs saiu da Apple "passei" pela NeXT, para depois "voltar" com ele à Apple. Os Macs, iPhones, etc, fazem parte de um contínuo de ferramentas que culmina no iPad (de cujo impacte ainda nos estamos todos a refazer...) e marcaram indelevelmente o meu quotidiano. Fizeram e farão sempre parte significativa desse quotidiano. A Apple é um fenómeno único, muito mais que um mero fabricante de "computadores" ou de produtos de "consumo". Um fenómeno digno da nossa reflexão, produto do fenómeno Steve Jobs.
Sempre pensei em Jobs como uma espécie de "membro da família". E sigo-lhe desde há muito o conselho...

2011/10/05

Fuck You! (carta aberta à EDP)

Os factos:
No dia 3 de Outubro último, tocaram à porta, estava eu a trabalhar em casa. Era um funcionário da EDP com uma ordem para cortar a energia eléctrica. Perguntei-lhe se tinha a certeza de ser o endereço certo, pois não tinha recebido qualquer comunicação, e ele confirmou o meu nome. Sem perceber o que se estava a passar (uma vez que a EDP tinha autorização para transferir os 22 euros mensais que gasto em energia), pedi-lhe que esperasse um momento para eu esclarecer o que se passava. Sem me dar tempo a telefonar, subiu a escada e desligou o quadro (!?). Fiquei sem energia e sem poder telefonar, pois possuo apenas um telefone fixo. Dirigi-me à vizinha de cima e usei o seu telefone para averiguar o que se passava. Depois de contar a minha história à telefonista que me atendeu, ela passou a chamada a uma funcionária de relações públicas. Esta explicou-me que os serviços tinham tentado fazer uma transferência da quantia mensal, para a qual tinham a minha autorização e que, nessa data, eu não teria saldo suficiente na conta (!?). Posteriormente, ter-me-iam enviado uma carta (que nunca recebi!) com uma data-limite para regularizar a situação. Desconhecedor da infração e sem poder, por isso, reagir, não paguei em tempo-útil. Daí o corte da energia.
Acontece que tenho sempre dinheiro na conta que a EDP tinha (já não tem!) autorização para movimentar. Nunca fui contactado directamente para solucionar a situação. Burocraticamente, não procuraram solucionar a situação através de um telefonema (tenho atendedor automático) ou um simples Mail, cujo endereço possuem. O funcionário que veio repôr a ligação, disse-me que até por 2 euros de dívida cortam a energia aos clientes...Pior, terei de pagar a nova ligação (quanto?) sem que tenha, para isso, sido ouvido ou achado. Grande negócio: cada vez que refazem uma ligação ganham duas vezes o aluguer. Isto, apesar dos moradores desta casa (os meus pais desde 1943 e eu, desde 1996) nunca termos falhado um pagamento em 68 anos.
Duas hipóteses:
A carta com o aviso de pagamento nunca foi entregue (estou a averiguar junto dos correios) ou, pura e simplesmente, extraviou-se. Vá lá saber-se porquê...
Duas certezas:
A EDP deixou de ter autorização para mexer na minha conta e eu vou mudar de empresa fornecedora de electricidade. Se é isso que queriam, far-lhes-ei a vontade.
De mim, a empresa presidida pelo Sr. Mexia, não vê nem mais um tostão. Como diria um conhecido comendador madeirense:"fáquiu!".

2011/10/03

Má consciência

Há vinte e quatro horas que os noticiários e principais orgãos de comunicação social noticiam que a PJ e a PSP estão de prevenção com vista a detectar e impedir possíveis contestações sociais violentas (!?) no seguimento das últimas medidas anunciadas pelo governo...
Não se percebe tanta preocupação. Ainda hoje um comentador televisivo veio, pela enésima vez, reafirmar que somos um povo de "brandos costumes" não sendo de esperar reacções violentas. Nós somos um "povo de comer e calar", nas suas próprias palavras. "Não somos iguais aos gregos", dizia o homem com ar muito convencido.
Não sei onde é que estes iluminados foram buscar tais certezas.
Não está provado que os portugueses são "mansos" (leia-se a nossa história), nem ninguém pode avaliar o que os gregos estão a passar. Eu, se fosse grego, reagia do mesmo modo. É intolerável exigir a uma população inteira, que foi alvo da gânancia e promessas da sua classe dirigente, que pague por uma crise da qual não é responsável. Mesmo admitindo que os "gregos" consumiam mais do que produziam (de resto, o mesmo se passa em relação aos portugueses), é impossível a qualquer povo resistir a estas medidas completamente desproporcionadas que não têm em conta as necessidades básicas da população e arrastam para a miséria absoluta milhões de cidadãos indefesos.
Só me ocorrem duas explicações para tal frenesim controlador da polícia: ou as forças de ordem querem, com este aviso, amedrontar os potenciais contestatários; ou estão com medo de que algo incontrolável possa acontecer. Como na Grécia, na Grã-Bretanha e (pasmem só) nos EUA onde os "indignados" ocupam há duas semanas a Wall Street.
De uma coisa, estou certo: os governantes têm a (má)consciência do que estão a fazer e sabem que estas medidas não vão resolver o problema estrutural português. Por isso, refugiam-se em ameaças veladas. As ameaças de quem se sente fraco.