2011/12/17

Cesária

Devo ter ouvido falar dela, pela primeira vez, em finais dos anos oitenta, quando o conceito "world music" ainda estava por inventar. Em rigor, ela foi a primeira artista lusófona a entrar no circuito das chamadas "musiques du monde". Os franceses, sempre atentos, tiveram a percepção do seu enorme talento e ofereceram-lhe a possibilidade de gravar e distribuir os albuns que consolidaram a sua fama.
Viria a conhecê-la pessoalmente durante a primeira edição da feira Womex, realizada em 1994 na cidade de Berlim. Lembro-me que falámos longamente no "lounge" do hotel onde a maior parte dos artistas e delegados da feira estavam alojados e de me ter dito que só se sentia bem em palco, pois as pessoas estavam sempre a fazer as mesmas perguntas e que tudo era muito cansativo: as viagens, os hotéis, as entrevistas...
Nessa noite, quando actuou no auditório principal da "Casa das Culturas do Mundo" onde decorriam os "showcases" da feira, esperavam-na os mil privilegiados que conseguiram acesso ao concerto, já que a lotação da sala estava esgotada há muito. Lá me enfiei para o pé do palco (ao nível do chão) e ali ficaria sentado o tempo todo a tirar fotografias para um artigo do João Lisboa, enviado do "Expresso". Um concerto memorável, onde a "diva" cantou, descalça, durante 45 mágicos minutos. No final, a assistência, hipnotizada pela sua voz incomparável, rendeu-lhe a maior ovação da noite. O "showcase" de Cesária Évora seria considerado um dos melhores daquele ano e, no dia seguinte, toda a gente falava desta mulher que, no meio das canções, parava para beber um gole e fumar com a displicência de quem tinha todo o tempo do Mundo à sua frente. Uma actuação inesquecível.
A partir daí, a história é conhecida. Acabou hoje, após setenta anos de vida e de canções que tornaram Cabo-Verde e a sua grande música, reconhecidos em todo o Mundo. Não é coisa pouca. Imortal Cesária.

O mesmo Geppetto

Muito se falou em Pinóquio a propósito do engenheiro Sócrates. As montagens sucediam-se com a foto do então primeiro ministro a mostrar um nariz cada vez mais comprido. As imagens correram por blogs e emails. Recordar-se-ão, certamente.
Pinóquio! Marioneta de pau tosco, neto de um sujeito chamado Geppetto, sinuoso bonecreiro, manipulador de cordel.
Pois, após estes curtos meses de governação de Passos Coelho somos levados a reconhecer que há um novo nariz  que se exibe, exuberante. 
Dois narizes, um só Pinóquio, o mesmo Geppetto.

2011/12/16

Revoltante

Na sua mensagem natalícia publicada na página do Facebook, Cavaco Silva desejou aos Portugueses um ano novo "tão bom quanto possível".
"Virem-se! É o melhor que se pode arranjar. Eu nem tenho nada a ver com isto..." parece querer dizer esta triste criatura, travesti de um Presidente da República.