2012/12/14

Bullying: você defendê-lo-ia?


É uma prática que parece merecer reprovação generalizada. Até os meninos da JSD colocaram um cartaz, aqui à porta da escola da minha terra, a condenar o bullying.
Reproduzo da Wikipédia: "bullying: termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (do inglês bully, tiranete ou valentão) ou grupo de indivíduos causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder."
O bullying é uma prática abjecta que saiu dos seus locais habituais, das escolas e dos locais de trabalho. Agora é prática política. Nem mais nem menos: o governo pratica bullying contra o povo português.
Se o leitor procurar entender o que é o fenómeno do bullying, se estudar as suas características, tal como são definidas pelos peritos que estudam este assunto, se analisar as justificações para a sua punição exemplar vai perceber a razão pela qual digo isto, está lá tudo.
O governo instituiu o povo português como vítima para os seus insultos; acusa a vítima de ter pouco préstimo; ataca-a fisicamente; ataca e interfere com a sua propriedade; espalha rumores negativos a seu respeito; deprecia a vítima sem motivo; obriga a que esta faça o que ela não quer, ameaçando-a para que siga as suas ordens; coloca a vítima em situação problemática com alguém (normalmente uma autoridade), forçando uma acção disciplinar contra a vítima por algo que não cometeu ou foi por si exagerado; faz comentários depreciativos sobre a vítima, sobre as suas características e carácter; isola a vítima socialmente; exerce chantagem; profere sobre ela afirmações depreciativas; faz com que a vítima passe vergonhas em frente dos outros, etc..
Em suma, institui um clima agressivo e de medo permanente, forçando a vítima (nós todos!) a seguir os seus pérfidos desígnios, numa relação desigual de poder.
Não se fique apenas pela leitura das minhas palavras, procure informar-se a fundo sobre o assunto. Se está a ler este texto, tem acesso aos meios para saber mais sobre o tema.
Tendo o comportamento deste governo como pano de fundo, faça a comparação. Recorde-se do discurso do governo, passe em revista os meios e expedientes usados para instituir este discurso e tire as suas conclusões.
Lembre-se de que o bullying é objecto de legislação que criminaliza o acto. Diga lá então se haverá ou não motivo para julgar este governo por esse crime?
O governo Passos Coelho não passa de um bando de bullies a exigir correctivo urgente.

2012/12/10

O melhor filme do ano?



Chama-se “Amor” (Amour) e foi realizado pelo austríaco Michael Haneke. Já ganhou, só este ano,  a Palma de Ouro de Cannes e, na semana passada, o prémio do melhor filme europeu, o da melhor realização e o dos melhores actores (Jean-Louis Trintignant e Emannuelle Riva). É candidato ao Óscar para o melhor filme estrangeiro em Hollywood e...está em exibição num cinema perto de si.
Por isso, e não é pouco, se viu, já percebeu do que se trata; senão, corra a vê-lo, pois este é um filme que não pode mesmo perder. Mais, se tiver de ver apenas um filme este ano, “Amor” é a escolha certa.
Porque é que eu escrevo isto?
Bom, se calhar, porque gostei tanto do filme, que o recomendo a todos que leiam este texto. Depois, porque entre os cineastas europeus, Haneke, há muito que ocupa um lugar especial na minha galeria de cineastas-autores, aqueles que fazem o “seu” cinema, sem aderirem às modas “mainstream”.
È difícil não gostar dos filmes de Michael Haneke. Eu não me lembro de nenhum. Desde  “Benny’s vídeo”, um dos seus primeiros trabalhos, passando por “71 Fragmentos de uma Cronologia do Acaso”, “Funny Games”, “Código Desconhecido”, “A Pianista”, “Tempo do Lobo”, “Caché” (por muitos considerado a sua obra-prima) e “Laço Branco”, que venho acompanhando o seu percurso e, em todos os seus filmes, sem excepção, a redescoberta de uma faceta diferente, numa superação constante daquela que é tida como a sua visão critica e implacável das relações nas sociedades modernas. Por isso, é difícil ficar-lhe indiferente. Em todos os seus filmes, sentimos a mesma sensação de desconforto e, ao mesmo tempo, o fascínio de querer ver tudo até ao fim, pois sabemos que, no fim, sairemos recompensados. Não pelas explicações (os filmes de Haneke não são simples e muito menos apresentam soluções), mas pelo que eles nos dão a ver e de que não ousamos falar. E portanto, tudo que ele nos dá a ver, existe e está em cada um de nós.
“Amor” reconta, na sua simplicidade, a relação de um casal de idosos que se amam, na vida e na morte. Assistimos, durante mais de duas horas, à degeneração física e psíquica da personagem feminina (fabulosa Emmanuele Riva) que sofre um AVC do qual nunca mais recupera, até ao fim previsível, no qual é assistida pelo marido (comovente Trintignant). Não há uma palavra a mais num diálogo, por vezes cómico, por vezes austero, em “coupages” cirúrgicas, dentro de um apartamento em Paris, transformado pelo realizador de acordo com a sua casa paterna de Viena. Uma lição sobre o fim da vida, num filme maior que a vida. Como escrevia um critico esta semana: “É que daquela casa - e daquele filme - ninguém sai vivo”. Eu saí, também porque vos queria contar esta experiência.