2013/06/13

200 gramas de selos

A estação de correios do meu bairro, inaugurada com pompa e circunstância há 15 anos, encerrou no passado dia 1 de Junho. Era uma estação de correios pequena, mas moderna e funcional, onde 3 empregadas exerciam diariamente as suas funções, sempre com agrado dos utentes, entre os quais eu. Apesar de tratar de muitos assuntos pela NET, continuo a ser um cliente dos correios tradicionais, onde envio cartas, encomendas, pago contas e levanto correspondência registada em meu nome. Em média, utilizo os serviços de correio uma vez por semana. Como eu, milhares de clientes, novos e velhos, portugueses e estrangeiros, pensionistas, letrados e iletrados que não possuem contas bancárias e ali pagam as suas contas e levantam as suas reformas. A “minha” estação de correios foi modernizada há 15 anos, precisamente porque havia aumento da procura e as antigas instalações, a funcionarem no mesmo espaço da Junta de Freguesia, já não satisfaziam as necessidades da população que, entretanto, tinha crescido exponencialmente.. À época, os moradores do bairro organizaram-se, fizeram uma petição ao presidente da Junta e este conseguiu que uma nova estação fosse aberta, num edifício alugado para o efeito. Abriu inicialmente com dois funcionários e, posteriormente, o número de funcionários foi aumentado para três, também graças a uma petição. Toda a gente satisfeita com a estação que, aparentemente, dava lucro, pois não consta que uma estação que tinha uma procura constante e, para além dos serviços habituais, vendia toda a espécie de artigos, desde “best-sellers” a CD’s, bonés ou porta-chaves, não fosse rentável.
No dia 29 de Maio, estive lá pela última vez a enviar uma carta para o estrangeiro e, como já circulava o boato de que a estação poderia fechar, perguntei a uma das funcionárias se esse rumor se confirmava. Respondeu-me que não sabia, pois não havia ordens internas explícitas sobre o encerramento deste posto em particular. Isto, dois dias antes do seu encerramento!
Era esta informação verdadeira? Se não, porque mentiu a funcionária? Se sim, como é possível os serviços nem sequer informarem os seus próprios funcionários do que iria passar-se?
Na passada segunda-feira confirmaram-se os meus piores receios. As montras da estação estavam cobertas com papel pardo e um edital avisava que, a partir desse dia, os clientes tinham de dirigir-se a um supermercado do bairro para enviar as suas cartas.
Lá fui, esta semana, experimentar os “novos” serviços. Como receava, tudo piorou. Num balcão improvisado, ao lado da empregada da papelaria, no meio de material escolar, jornais, revistas e perfumes, estava um empregado (em pé) a ser instruído por uma das ex-funcionárias da estação que tinha encerrado. Perguntei-lhe se ela, agora, vendia perfumes, ao que me respondeu que só estava a ensinar o empregado do supermercado a pesar e selar a correspondência. De facto, pesar maçãs, ou cartas, qual é a diferença? Pedi-lhe 200 gramas de selos, para não andar sempre a comprar...

2013/06/10

Em cima de um tapete, a correr 1500 metros...


Na passagem de mais um “10 de Junho”, a televisão oferece-nos a reportagem do costume. Desta vez a partir da cidade de Elvas, um cenário ideal agora que a UNESCO reconheceu as suas fortificações como parte integrante do património construído da humanidade.
Infelizmente, as melhores fortalezas não chegam para esconder a miséria social existente dentro dos seus muros, como outras reportagens da mesma televisão nos têm lembrado periodicamente. Em apenas dois anos, a autarquia viu-se obrigada a duplicar o número de refeições oferecidas às escolas da cidade, única forma de alimentar, já não só todas as crianças malnutridas, como as suas próprias famílias, muitas delas sem emprego e apoios sociais, numa das regiões mais desertificadas e pobres do pais. Ou seja, parte significativa da população de Elvas é hoje obrigada a recorrer à assistência social, prestada pela Câmara, para poder sobreviver. Uma realidade que foi lembrada no discurso do presidente da autarquia, Roldão de Almeida, ainda na cerimónia que antecedeu o dia de hoje.
E que disse o Presidente da República de significante neste seu discurso de “10 de Junho”? O mesmo de sempre, mas para pior. Falou da pátria (que tem as costas largas), dos sacrifícios das forças militares (que compreendem o momento que a nação atravessa), da dependência do estrangeiro (não é a primeira vez) e do regresso à agricultura (como panaceia para todos os males).
Não fora a mudança de cidade e personagens nestas cerimónias, que pouca alteração conheceram nos rituais desde os “dias da Raça” salazarentos, e julgávamos não ter mudado de regime. O cenário muda todos os anos, é verdade, mas os discursos continuam bafientos e grande parte dos agraciados com medalhas não se recomendam, como de resto não eram recomendáveis os condecorados do tempo da ditadura.
Cá fora, o ambiente não foi melhor e, se alguma novidade houve, essa foi a contestação de uma parte dos populares que assistiam à chegada dos governantes. Também aí, nada de especial a assinalar, tal o número de protestos com que os representantes do governo são amiúde recebidos fora de Lisboa.
Uma tristeza, este “Dia da nacionalidade, de Camões e das Comunidades”, onde tudo é ensaiado previamente, segundo um guião que nunca conseguiu mobilizar verdadeiramente o povo português.
Num ciclo marcado pela maior crise dos últimos 40 anos, não ouvimos quaisquer referências de Cavaco ao desemprego, à emigração forçada de milhares de jovens, à diminuição de salários e pensões, ou à miséria gritante de milhões de portugueses, nomeadamente no Alentejo, onde se encontrava.
Em vez disso, ouvimos um apelo patético para o regresso à agricultura e a apologia do desporto, dando como exemplo o seu treino diário de 1500 metros em cima do tapete. Ou seja, o presidente farta-se de correr sem sair do mesmo sítio...
Não me lembraria de melhor metáfora para o pais.