2014/03/12

Sustentabilidade

Não deixa de ser curioso e não pode deixar de merecer um olhar especial o facto de o Manifesto dos 70, hoje dado a conhecer, ter merecido tão amplo, violento e sincronizado coro de críticas. No noticiário, via Twiter, aqui mesmo do seu lado direito, encontrará artigos vários sobre o assunto.
O primeiro ministro já vai na segunda reacção pública num espaço de poucas horas. Ontem ainda, apressou-se a reagir, antes mesmo de o documento e os seus subscritores serem cabalmente conhecidos. Hoje voltou à carga fazendo voz com a ministra das finanças. Já ontem também, o ministro Maduro tinha vindo ajudar à missa. E hoje veio-se a saber que dois conselheiros do presidente da república tinham subscrito o manifesto, tendo sido imediatamente exonerados com enorme estrondo. Finalmente, a própria Comissão Europeia apressou-se, já hoje também, a dizer que a dívida portuguesa é afinal sustentável. Assim seria se a classe média não estivesse a chegar ao osso. É que o famoso diálogo de Colbert e Mazarin, na peça Le Diable Rouge não passa de ficção.
Registam-se as críticas, surpreendem os silêncios.
Duas conclusões parecem poder, entretanto, tirar-se de tudo isto. Primeiro, na razoabilidade das suas conclusões e simplicidade e clareza das propostas o manifesto fez mossa da grossa. Segundo, há afinal fissuras sérias no poder que agora ficaram expostas e a sangrar.
O manifesto dos 70 constitui um instrumento inegavelmente poderoso e sério e um instrumento real para ajudar a dar um rumo novo à contestação aos ditames de Bruxelas e a este desgraçado e desacreditado governo. Um instrumento que pode permitir ultrapassar os interesses e conluios de uns, as tergiversações, o voluntarismo ultrapassado e inconsequente de outros e a retórica cheia de acne de outros ainda.
Todos eles vão ser agora obrigados a sair da chamada zona de conforto. As propostas do manifesto são claras, simples e podem ter efeitos políticos amplos e devastadores. Nem uma vitória do voto em branco, se fosse viável, conseguiria ir tão longe!
O combate parece já aberto, inevitável e a sua sustentabilidade política parece demonstrada. Vamos é ver quem é que, afinal, estava à altura do confronto.

1 comentário:

Rui Mota disse...

É natural que haja críticas. As coisas óbvias são sempre as mais atordoantes. Ainda p'ra mais, com subscritores da ala direita do regime. Por isto, é que estes aprendizes de feiticeiro não esperavam. Perante tais evidências, como contrariar o "diktat" germânico? Ainda vão ser todos exonerados pela Merkel...