2014/08/18

Duas semanas noutra cidade


É uma das cidades mais populares da Europa (2.5 milhões de turistas por ano) e continua a crescer. Falamos de Amsterdão, que acabamos de (re)visitar, na enésima visita feita a esta cidade, que não pára de nos surpreender,  apesar (et pour cause) de décadas ali vividas.
Ainda que Agosto não seja o mês mais indicado para o fazer - a cidade esvazia-se de habitantes e enche-se de hordas de turistas que ocupam literalmente o centro histórico - o Verão é, por definição, a melhor estação do ano para visitar esta urbe do Norte da Europa, onde a imprevisibilidade climatérica é um factor de risco a ponderar. Como bem sabem os naturais, o clima pode mudar três vezes ao dia e andar de calções e sandálias não dispensa o chapéu de chuva, pois as trovoadas e aguaceiros são, nesta altura do ano, frequentes.
Sem programa pré-estabelecido, a opção, desta vez, foram lugares ou programas menos populares, que turistas clássicos (mais interessados em Rembrandt, Van Gogh ou Anne Frank) não costumam visitar. Em boa hora o fizemos, pois o que vimos compensou largamente as expectativas, tanto do ponto de vista qualitativo como do ponto de vista da tranquilidade dos museus escolhidos. 
Desde logo, a celebrada Huis Marseille/Museum voor Fotografie, que ocupa duas antigas casas senhoriais do Keizersgracht, um dos principais canais do centro de Amsterdão. Diversas exposições seminais de fotógrafos tão diferentes como Taco Anema (Portraits de Conselhos Directivos de Organismos Municipais), Guido Guidi (fotografias hiper-realistas de uma Itália desconhecida) e Martin Roemers, Frans Beerens e Marrigje de Maar (sobre a China actual), que confirmam a qualidade e os critérios de bom gosto deste verdadeiro templo de fotografia contemporânea.
Outra visita gratificante foi a do Cobra Museum of Modern Art, situado em Amstelveen, zona nobre a sul da cidade, que alberga permanentemente a antiga colecção do Stedelijke Museum (Appel, Constant, Jorn, Corneille, Alechinsky) e onde se encontra, temporariamente, uma selecção da Guggenheim Collection, constituida por 51 trabalhos de 44 artistas do famoso museu nova-iorquino, com trabalhos de artistas como Pollock, Rothko, Willem de Kooning, Louise Bourgelos, José Geurrero e Vieira da Silva. Obras marcantes da arte contemporânea, no período compreendido entre 1949 e 1960.
Inesquecível, seria também a visita à cinemateca da cidade, o futurista edifício "Eye" onde, para além das habituais sessões (4 salas em permanência), visitámos o programa dedicado a David Cronenberg, que inclui a projecção de todos os seus filmes, uma exposição, com painéis explicativos e interactivos, adereços (cápsula do filme "A Mosca", os monstros de "Naked Lunch" e "eXistenZ", ou os trajes de "M.Butterfly" e "Eastern Promises"), completada com diversas entrevistas ao realizador, que passam em modo contínuo numa sala decorada como bar, onde não falta o famoso monstro de "Naked Lunch". Imperdível.
Finalmente, e ainda no campo das exposições, "De Krim - Goud en Geheimen van de Zwarte Zee" (A Crimeia - Ouro e Segredos do Mar Negro), que pode ser vista no Museu Arqueológico da Universidade de Amsterdão, o Allard Pierson Museum. Uma pequena, mas informativa exposição sobre esta península ucraniana, recentemente declarada território russo, onde nas últimas décadas foram feitas escavações arqueológicas e descobertos verdadeiros tesouros em cemitérios de povos tão diversos como os Chyntios, os Godos e os Hunos que ocuparam a região. Porque a Crimeia foi um ponto de passagem entre a Europa e a Ásia, devido à famosa "Rota da Seda", também ali foram recuperadas as primeiras caixas lacadas chinesas conhecidas no Ocidente. Uma revelação, agora que a região é notícia pelas piores razões, e uma curiosidade: a exposição, que deveria ter terminado em Julho, foi prolongada, pois a administração do museu holandês não sabe a quem há-de entregar o acervo exposto, uma vez que este é originário de 5 museus diferentes, uns de Kiev e outros da Crimeia...     

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