2014/09/05

David Copperfield passou por aqui


Um truque do conhecido ilusionista fez desaparecer o País!
Perdeu-se a oportunidade de introduzir reformas estruturais sérias na estrutura produtiva do País e no aparelho de Estado?
Pois, de facto, perdeu-se, mas, atenção!, agora surge uma coisa chamada "Fórum Económico Mundial" — que o ministro da Economia jura a pés juntos ser referência incontornável para os investidores — que diz que não, e faz Portugal saltar, num só passe assombroso, 15 - lugares -15 na lista dos países mais competitivos do mundo. Afinal houve aumento da competitividade por causa das "reformas estruturais". Deste governo? A da Justiça não foi certamente e o Álvaro já não mora aqui.
O endividamento era o problema número um do País?
Pois era, mas Portugal decide sacar uns pózinhos, puf-puf, zás-pás!, e emitir ainda mais dívida, desta vez em condições mais vantajosas do que nunca, ou seja, excelentes para os prestamistas. A redução da dívida segue dentro de momentos.
As exportações eram o motor da "retoma"? Pois, as exportações caem porque os exportadores parecem estar a perder quota de mercado. A procura interna aparece agora como o próximo coelho que o Coelho tira da cartola.
O IEFP "dá" emprego? Pois "dá", mas parece que, em certos casos, graças ao gesto mais rápido que o olhar, os trabalhadores são colocados em empresas das quais foram despedidos. É certo que com a economia neste estado, os empresários, carregados de impostos, não têm muitas vezes condições de manter os trabalhadores. A solução encontrada é então despedirem esse trabalhadores e voltarem a admiti-los através do IEFP, pagos por todos nós. O "emprego" dura enquanto durar o subsídio. Depois voltam a sair. O "Estado mínimo" em versão ultra-liberal.
Há crise?
Pois há, mas, varinha mágica, swiig-ziiing-zoiing!, os ordenados dos gestores de topo subiram enquanto os trabalhos menos qualificados (não necessariamente os trabalhadores menos qualificados, note-se) descem. Isso mesmo era relatado ontem na imprensa. A "procura interna", pelos vistos, vai continuar a ser privilégio dos gestores de topo. A retribuição do trabalho vai continuar a descer.
E não é só o país que desaparece. A Europa, não tarda, também vai. Com a ajuda de um mágico local. Portugal subiu ao pódio europeu do desemprego estrutural?
Pois subiu, e agora parece que — certamente em guisa de remuneração compensatória — o dr. Moedas, um dos fautores desse desemprego vai tomar conta da pasta do emprego da Comissão Europeia, alargando, abrakadabra pronto, presto!, o efeito da sua magia ao resto do velho continente.
Portugal, 2014, é este o país que vê? Ou isto não passa de um imenso festival de magia? Um festival de truques produzidos por um grupo de ilusionistas capitaneado por Pedro Manuel Mamede Passos Coelho, com a assistência de Paulo de Sacadura Cabral Portas, a varinha de Aníbal António Cavaco Silva e o apoio técnico de António José Martins Seguro.

2014/09/02

Take Another Plane

A acreditar nos responsáveis da TAP, as notícias sobre avarias mecânicas que nos últimos tempos têm surgido na comunicação social, são francamente exageradas. Talvez. A verdade é que, nos últimos dois meses, foram noticiados dez incidentes com aviões da companhia que, até há bem pouco tempo, era tida como uma das mais seguras do Mundo. De resto, as estatísticas não mentem: a transportadora nacional teve apenas em acidente de grandes dimensões em toda a sua história e, por alguma razão, muitas companhias de aviação continuam a fazer a manutenção dos seus aviões em Lisboa.
Acontece que, de há anos a esta parte, a TAP - a exemplo de outras companhias de bandeira - se viu confrontada com as crises de crescimento inerentes à própria industria: se por um lado aumentou o número de rotas e dessa forma ganhou novas clientelas, por outro foi obrigada a modernizar a frota e dessa forma aumentar o passivo que, numa área de transportes cada vez mais competitiva, acabaria por levar à integração da companhia numa "aliança" internacional, como forma de evitar a privatização da mesma e de resistir ao aparecimento das companhias "low-cost", cada vez mais utilizadas por diferentes segmentos da população. Se a esta situação,  acrescentarmos a crescente insatisfação do pessoal de bordo (pilotos e hospedeiras) que nos últimos anos têm trocado a companhia portuguesa por outras companhias internacionais, bem mais interessantes em termos económicos, está explicada parte da actual crise. As exigências da troika relativamente às privatizações acelerou este processo e a venda da companhia a um magnate colombiano esteve por um triz. De resto, o processo foi apenas adiado e nada garante que no próximo ano o mesmo colombiano não volte à carga, como o próprio referiu em recente entrevista.
Também é muito possível que todas estas avarias sejam normais, e sempre tenham existido, como nos fazem crer os relações públicas da companhia. Mas, então, porque é que nunca ouvíamos falar delas e agora surgem todas as semanas nos mais variados voos? Terá a ver com uma frota reduzida e sobreutilizada, devido à falta de aviões; ou com uma "estratégia" de desvalorização da companhia com vista à sua venda pelo melhor preço? Esta é a questão levantada por muito boa gente.
Seja o que fôr, aqui fica uma sugestão aos utilizadores frequentes (como eu), que prezam a sua vida: caso se mantenham os acidentes, reportados nos últimos meses, não se acanhem, pois podem sempre levar à prática a sugestão implícita no acrónimo da companhia: tomem outro avião...