2014/09/26

Um murro com força!

Vivemos num mundo de aparências. O primeiro ministro Passos Coelho diz-se inocente e remediado. Poderá parecer a alguns que sim. A mim parece-me, sobretudo, incompetente para exercer o seu cargo.

Da sua intervenção hoje na AR podemos tirar duas conclusões principais.

1- O segredo fiscal foi violado. Passos Coelho, na sua qualidade de coitadinho não pode fazer nada. "A ideia de que existam declarações que eu não apresentei sequer aqui ao parlamento e a que senhores jornalistas tenham tido acesso, a acontecer, representa uma violação do Estado de direito", disse inlamado. Afirmou-se a este propósito surpreendido, assegurou-se indignado, aparentou desconforto, mas podem os Portugueses ficar descansados, ele não irá tomar medidas para punir os violadores. Não pode. Não quer. Não sabe, aprentemente, como fazê-lo.
Restou-lhe e bastou-lhe queixar-se na AR. Quando se esperariam medidas, somos surpreendidos com queixas. Onde fica o guichet das reclamações dos primeiros ministros? Que secção da Loja do Cidadão as acolherá? Deverá o primeiro ministro pedir o Livro de Reclamações? Queixar-se ao Provedor de Justiça?

2- A Tecnoforma, empresa onde comprovadamente trabalhou, foi a principal financiadora de um tal Centro Português para a Cooperação. Este Centro de propósitos enigmáticos, que funcionava nas instalações da própria Tecnoforma. No meio do enigma, ficamos a saber que Passos Coelho foi mesmo, segundo aqui se afirma, o principal executante e "leader" desta ideia de um dos administradores da empresa.

Depois de ter começado a exercer o seu cargo de deputado, em regime de exclusividade, colaborou confessadamente com o referido Centro. Não terá recebido remuneração alguma como resultado dessa sua colaboração. Apenas terá sido ressarcido das despesas que, enquanto conselheiro em regime pro bono, efectuou ao serviço desse Centro. Não sabemos que despesas, qual o montante nem há documentação oficial que comprove o que quer que seja de toda esta embrulhada. Na aparência, parece que estamos perante um Centro, no mínimo, fiscalmente periférico.

Nem ficou, sobretudo, claro por que razão, a que título (para quê?!) um deputado da Nação deixa a Tecnoforma e passa a colaborar tão afanosamente com um Centro Português para a Cooperação, surgido da iniciativa exclusiva da empresa onde trabalhou até ser eleito e impulsionado por ele próprio. É um novo conceito fiscal: trabalho exo-exclusivo em regime de ressarcimento.

Tal como ao primeiro ministro Passos Coelho, parece então restar-nos ficar surpreendidos, assegurar que estamos indignados e ficarmos todos descansados porque nada irá ser feito para distorcer factos tão torcidos.

Ou então, se não queremos continuar a deixar que façam de nós parvos, parece que teremos todos de dar um valente murro colectivo na mesa.