2015/07/16

A operação correu bem. O paciente morreu.

Era previsível. O parlamento grego aprovou esta madrugada, por maioria expressiva, um terceiro programa de assistência (vulgo "resgate") para evitar a bancarrota do país.
Depois de 6 meses de negociações e um referendo, onde os gregos se expressaram inequivocamente contra mais medidas de austeridade, o governo de Tsipras foi obrigado a capitular perante a intransigência dos restantes países da zona Euro, Alemanha à cabeça.
Era possível outra saída?
Sim, caso Tsipras tivesse respeitado o resultado do referendo e agisse em consequência (saída da Grécia do Euro). Nesse caso, seguir-se-ia um período de transição, com vista a preparar o país para uma nova moeda, de consequências imprevisíveis e provavelmente mais dramáticas para o povo grego. Essa foi, de resto, a explicação dada pelo primeiro-ministro grego na primeira entrevista, após a maratona de Bruxelas e, ontem, confirmada no Parlamento.
Não, caso os credores se mostrassem intransigentes e obrigassem a Grécia a aceitar um novo programa de assistência (vulgo "resgate") que, em troca de mais dinheiro, mantivesse o país na esfera da dependência económica e financeira dos alemães e franceses.
Contra todas as expectativas e apesar de duas votações inequívocas, que suportavam uma decisão de ruptura, Tsipras deu o dito por não dito e aceitou as condições impostas pelos credores.
Deve, no entanto, ser sublinhado, que a posição do primeiro-ministro grego não foi apoiada por mais de três dezenas de deputados do seu próprio partido, entre os quais o ex-ministro das finanças, Varoufakis, que dirigiu a delegação grega durante as negociações de Bruxelas. A este propósito, leiam-se os apontamentos e sugestões de Varoufakis, publicadas por estes dias, que explicam bem as razões pelas quais ele teria sido "sacrificado" durante este processo.
E os credores? Ainda que um novo "resgate" possa aliviar temporariamente a situação grega e, indirectamente, permitir à Grécia pagar parte dos juros da dívida actual, a verdade é que, com este novo programa, a dívida grega aumenta e torna-se impagável. A opinião é da insuspeita Lagarde (FMI) que sabe do que fala. É ela que propõe um "haircut" (perdão) da dívida, única forma de aliviar a Grécia da pesada herança dos últimos 40 anos de governação e que conduziram o país a este beco sem saída. Percebe-se a preocupação da directora do FMI: se a Grécia dever 100 milhões de euros, o país terá de pagá-los, mas se dever 1000 milhões, os credores nunca mais verão o dinheiro...
Resta falar da Europa e do projecto europeu: depois do que aconteceu esta semana, a UE nunca mais será a mesma. A irredutabilidade de países credores, como a Alemanha, perante uma situação cujas causas devem ser procuradas na arquitectura de uma moeda única que não prevê situações de insolvabilidade financeira de países intervencionados, faz temer o pior e o pior poderá ser o fim do Euro e, quiçás, do próprio projecto europeu tal como o conhecemos.
Esse perigo ficou patente na reacção inglesa, que se recusa a apoiar o plano de emergência para acudir à Grécia e nas diversas manifestações, um pouco por toda a Europa, onde os partidos e movimentos nacionalistas (vide França, Finlândia e Hungria) não escondem o seu ódio aos ditames dos eurocratas de Bruxelas.
Sim, a operação de "resgate", parece estar a correr bem. Mas, não passa de um paliativo. Os problemas voltarão e nada nos faz acreditar que o paciente já não esteja, de facto, morto.          

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