2015/07/04

O referendo Grego



"Os Sete Magníficos" é um western que vi assim que estreou em Portugal e fui revendo ao longo dos anos. Revi-o ontem. É um daqueles filmes de culto, bons de um lado, maus do outro, sem tretas. Os bons ganham!
Um remake de "Os Sete Samurais" de Kurosawa, "Os Sete Magníficos" conta a história de uma pequena aldeia mexicana de fronteira. A aldeia é vítima de um grupo de bandidos liderados por Calvera (Eli Wallach) que a mantém dominada pelo medo, rouba as colheitas e outros bens, perante a aparente passividade dos seus habitantes, cuja capacidade de reacção se encontra totalmente paralisada pelo regime de terror criado pelos bandidos.
Os aldeões reúnem-se e decidem reagir. Um grupo é encarregado de partir para uma cidade próxima, já em território americano, para contratar homens e comprar armas que os ajudem a combater o bando de Calvera.
Um grupo de pistoleiros é finalmente contratado. Para além da sua intervenção directa, os pistoleiros estão também encarregados de treinar os aldeões no manejo de armas e de criar uma estratégia de defesa. Um primeiro ataque do bando de Calvera é rechaçado, mas num segundo ataque os pistoleiros são apanhados de surpresa, desarmados e obrigados a abandonar a aldeia. Finalmente, os magníficos voltam à aldeia, e num golpe de mão conseguem aniquilar o bando e matar o próprio Calvera. The end.
Por que razão vos conto isto?
Três cenas que me escaparam anteriormente.
Cena número um. Na reunião em que é tomada a decisão de reagir contra Calvera e contratar ajuda, uma minoria manifesta-se contra essa decisão porque, argumenta, o Calvera rouba mas deixa-lhes sempre o suficiente para eles não passarem fome.
Cena número dois. Na noite anterior à derrota dos magníficos, a aldeia tinha-se reunido e alguns aldeões questionaram os motivos pelos quais os pistoleiros acederam a participar nesta causa.  Estes explicam que a luta é da aldeia, que assumiram a causa mas só podem ajudar. Se os aldeões não querem combater ou não querem a sua ajuda, eles vão-se embora. A tensão é grande e a aldeia divide-se entre os que querem participar e os que duvidam da vantagem da luta. Quando o grupo é derrotado e obrigado a deixar a aldeia, Calvera, novamente senhor da situação após ter reinstalado o seu regime de terror, dirige-se ao líder dos magníficos, Chris (Yul Brynner), e diz-lhe "Os vossos amigos (aldeões) já não gostam de vocês. Vocês obrigam-nos a tomar muitas decisões, comigo eles só têm de decidir uma coisa: fazer o que eu mando!"
Cena número três. Depois do triunfo no tal golpe de mão final, Calvera é atingido por Chris. Moribundo, pergunta-lhe "Vocês voltaram. Para um lugar destes. Porquê? Um tipo como tu, porquê?"
Quem conseguir ver nisto uma metáfora com o que está em jogo para todos nós, amanhã no referendo grego, acertou em cheio!

1 comentário:

Rui Mota disse...

A metáfora foi bem escolhida. Claro que, do ponto de vista cinematográfico, o Kurosawa é melhor. Mas, isso não interessa nada. O que interessa é que os gregos deram uma lição de democracia (noblesse oblige) que nos levará a repensar tudo, a partir de agora. Não é coisa pouca.