2015/09/28

Dez dias noutra cidade


Amsterdão é, por estes dias, uma espécie de Disneyland do Norte da Europa. Dezenas de milhares de turistas de armas e bagagens (leia-se smartphones e trolleys) em punho, na procura do lugar mítico para o último selfie. Nada a que não estejamos habituados em Lisboa, em ritmo acelerado de gentrificação europeia. Se em Julho e Agosto já era mau, Setembro não é melhor e, para pior, já basta assim...
Porque, para além das férias, outros programas culturais se anunciavam em Setembro, lá fomos, na esperança de (re)descobrir a Amsterdão desconhecida que habita em todos nós e tentar conciliar a aventura com cultura...
Desta vez, o evento prometia: "De ouvido e coração", um concerto dedicado à obra de José Afonso, comentado e interpretado por Amilcar Vasques Dias (piano), Luís Pacheco Cunha (violino) e a "cantaora" Esther Merino. Um projecto com quatro anos de "estrada", que temos vindo a seguir e a admirar em lugares tão díspares como Lisboa (3 vezes), Setúbal, Évora, Badajoz e, agora, Amsterdão.
Nenhum dos concertos foi igual (nisso residirá a riqueza do projecto) e as modificações nele introduzidas apenas realçam a diversidade da música do Zeca. Desta vez, Esther cantou 3 canções (uma nana de Lorca e "Canção de Embalar" e "Cantar Alentejano" de Afonso) e Cunha teve "direito" a um "medley", onde brilhou em "Canto da Primavera", "Cantiga do Monte" e "A Formiga no Carreiro". Para o Amilcar, o resto do programa, sempre acompanhado das curtas e pedagógicas intervenções (desta vez em holandês!) a que nos habituou. O concerto terminaria com "Grândola", um encore apropriado, cantado "à capela" por Fernando Lameirinhas, artista português residente na Holanda.
Duas horas, de puro gozo e deleite, intervaladas por uma desnecessária "koffie pauze", aproveitada para rever caras amigas. Tudo isto numa velha igreja de madeira renovada (Amstelkerk) onde, num passado não muito longínquo, os (então) refugiados portugueses, apoiados por organizações holandesas de solidariedade, denunciavam a guerra colonial levada a cabo pelo governo fascista de Salazar e Caetano.
Só faltou o Zeca. Como ele gostaria de ter ali estado, a ouvir a sua música recriada e tocada por três artistas de excepção. Mas, a música é eterna e universal. O CD do concerto está já anunciado e, no ar, a promessa de uma nova digressão, desta vez alargada  a outras capitais europeias. A organização estará, de novo, a cargo da Q.Art (eventos) coordenada pela nossa compatriota Teresa Pinto.
Melhor início de férias, era impossível. A chuva, que caía após o concerto, não esfriou o ânimo para os próximos dias... 


  

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