2015/10/01

Dez dias noutra cidade (3)


Situado no Keizersgracht (Canal do Imperador) no casco histórico da cidade, o FOAM - Fotografiemuseum, é uma das galerias mais prestigiadas de Amsterdão. Num país de fotógrafos, visitar as exposições em exibição temporária, é um "must" para todos os amantes da arte.
Lá fomos, num dia chuvoso, ideal para fugir ao frenesim de uma cidade literalmente invadida por turistas que sempre procuram os museus de pintura. 
A galeria ocupa um prédio senhorial de quatro andares, onde podem ser vistas quatro exposições em simultâneo. Na impossibilidade de ver todas, devido ao adiantado da hora, concentrámo-nos nas mais importantes: "Magnum Contact Sheets" (1930-2010) e "Bible and Dildo" da japonesa Momo Okabe.
Se a primeira constitui um excelente repositório de 60 fotografias icónicas (de Che Guevara a Malcom X, passando por M. Luther-King e John Kennedy) da afamada agência fotográfica, onde pontuaram nomes como Robert Capra, H. Cartier-Bresson, David Seymour, Martin Parr e tantos outros; a segunda constituiu uma revelação (Okabe tem 34 anos e ganhou este ano o prémio especial da galeria Foam) e é um verdadeiro "murro no estômago", devido ao tema (transexualidade e dependentes de droga) e à crueza das fotos (muitas delas tiradas numa clinica médica, algures na Tailândia).  São fotos enormes e a cores, sobre marginais da sociedade japonesa, muitos deles amigos e namorados da fotógrafa, que os acompanha em momentos intimos da sua existência.
Outro dos edifícios icónicos a visitar, é o "Eye", que alberga a moderna Cinemateca Nacional. Situado na margem Norte da cidade, o "Eye" é facilmente identificado pelas suas formas arrojadas e cor branca, a lembrar o avião Concorde.
Para além dos filmes (clássicos e em estreia) que passam em sessões contínuas nas suas 8 salas, a Cinemateca possui ainda um espaço multi-média dedicado à história do cinema, uma loja de "souvenirs" de arregalar o olho, um restaurante e um café, com vista para o "skyline" da cidade. No espaço (enorme) dedicado às exposições temporárias, uma magnífica Mostra sobre Michelangelo Antonioni, que pode ser visitada até 17 de Janeiro de 2016. Oportunidade única para visionar excertos de todos os seus filmes em écrans gigantes. Desde "O Grito", até a "Profissão Repórter",  passando pela trilogia "A Aventura", "A Noite" e o "Eclipse", "O Deserto Vermelho", "Blow-Up" e "Zabriskie Point", para além dos documentários iniciais, dos anos '50, sobre o vale do Pó, ou os seus últimos filmes ("Identificação de uma Senhora" e "O Mistério de Oberwald") em secções separadas, a exposição é a maior de sempre dedicada ao mestre do cinema moderno italiano e merece, por si só, uma visita à cidade. Para além dos filmes de Antonioni, que passam em versões integrais nas salas do "Eye", a exposição está ricamente documentada com inúmeros materiais da mão de Antonioni, entre os quais alguns dos "guiões" dos seus filmes. O catálogo da exposição é outra obra de arte, com uma impressão impecável, a preto e branco, que custa apenas 20euros. Que mais poderia ambicionar um cinéfilo?     

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