2015/10/02

Dez dias noutra cidade (4)


Um dos museus mais emblemáticos de Amsterdão, é o Scheepvaartmuseum (Museu da Marinha). Situado na zona portuária, o Museu esteve, durante os últimos anos, encerrado ao público para obras de modernização. Recentemente reaberto, é visitado por milhares de locais e turistas que ali se deslocam em peregrinação diária. Hoje, o Museu, ainda que dentro do mesmo edifício, ganhou em espaço e informação, graças às novas tecnologias utilizadas e à informação, à distância de um clique, permitida pela multi-média.
A praça central interior, foi libertada dos seus artifícios e é agora um amplo páteo coberto por um telhado envidraçado, que ilumina com luz natural todo o espaço. Depois, as exposições permanentes foram deslocadas para as alas do edifício, dividindo-se agora em três grandes áreas: a ala Oeste, dedicada às histórias (A vida a bordo, A vida da baleia, etc.);  a ala Norte, dedicada às experiências (O porto de Amsterdão, A viagem marítima e a visita aos navios VOC e Christian Brunings, réplicas de veleiros holandeses famosos): e a ala Este (dedicada às pinturas marítimas, aos ornamentos dos navios, aos instrumentos de navegação, aos modelos de iates, aos albuns de fotografias e às porcelanas e pratas usadas a bordo). O Museu tem ainda uma loja de "souvenirs" temáticos e uma biblioteca e cafetaria anexa. Um bom modelo de gestão integrada que vale uma visita e onde é possível apreender a odisseia marítima neerlandesa.
Uma nova "trend" na cidade, que parece ganhar diariamente adeptos, são as pequenas fábricas de cervejas artesanais, que surgem um pouco por toda a cidade. De acordo com uma investigação levada a cabo pela "Nederlandse Brouwers" (Associação das oito maiores cervejeiras da Holanda), a média semanal, de copos de cerveja bebidos,  está a diminuir no país. E, pelos vistos, a uma velocidade acelerada: se, em 2011, a média de copos de cerveja por pessoa era de 7,2 por semana; em 2012, era de 6,4 e em 2013, apenas 5,9 (um copo por dia).
A razão deste decréscimo tem a ver, essencialmente, com o crescimento explosivo do número de cervejeiras alternativas. Esqueçam as marcas conhecidas, a Heineken, a Grolsch ou a Amstel. Hoje não há bar, ou supermercado, que não tenha uma prateleira de cervejas especiais (leia-se biológicas) que, apesar do preço mais alto, são disputadas em todas as festas e reuniões. Também nos restaurantes, já é possível pedir uma cerveja artesanal, fenómeno relativamente recente na cidade.  Pedir uma I.P.A. (India Pale Ale), uma Ciel Blue, uma Mannenliefde, uma Chouffe ou uma Witte, tornou-se quase tão banal como pedir uma "pils" (cerveja à pressão), hoje cada vez mais banal e desconsiderada por conter conservantes, algo a que o consumidor mais crítico (e endinheirado) não é alheio. Mas, a verdade é que uma vez provada, é impossível resistir a uma boa cerveja. Lá fizémos o nosso périplo e não estamos arrependidos. Para o visitante, e estreante, nestas andanças, recomendamos a Brouwerij't IJ, a mais famosa e mais antiga da cidade, não muito distante da Estação Central de caminhos de ferro. Uma verdadeira catedral, reconhecível pelo moinho antigo onde está instalada,  que dispõe de uma esplanada de largas mesas e bancos corridos, onde podem ser degustadas as marcas produzidas no local. Outras (pequenas) cervejeiras, são: a Butcher's Tears, a Oedipus, a Pampus, De Vriendschap, De 7 Deugen, De Prael, a Bekeerde Suster, a Troost, 2 Chefs Brewing, a Kraanspor Brewing, a Bierfabriek e a Brouwerij Zeeburg.
Confuso? Nada como entrar, aleatoriamente, numa e pedir ao barman de serviço, a sua opinião sobre as marcas à venda. Verificará que, na maior parte dos casos, receberá uma informação cuidada e conhecedora do produto que escolher. Depois...bom, depois é só beber...   
Uma nota final sobre a política local: durante o tempo em que permanecemos na cidade, o assunto dominante, nos media holandeses, eram os "refugiados". Lá, como cá, uma matéria sensível, com um governo cauteloso, ainda que disposto a acolher uma quota de refugiados no quadro europeu e com as organizações humanitárias, já em campo, preparando os centros de acolhimento por todo o país. De acordo com o planeamento central, os refugiados serão distribuidos maioritariamente por diversas localidades na província. Localmente, as populações entrevistadas, dividem-se entre os que acham bem receber refugiados das guerras e os que se opõem, veementemente, contra estrangeiros de outra cultura (leia-se muçulmanos) potenciais "causadores" de distúrbios...No parlamento, e à excepção do ismalofóbico e xenófobo Geert Wilders, líder parlamentar do partido PVV (extrema-direita), o consenso, ainda que prudente, é a tónica dominante. Entretanto, na terceira terça-feira de Setembro,  como manda a tradição, o rei, sempre "generoso" e "magnânimo", anunciava no discurso de trono (Orçamento de Estado para 2016) a "devolução" de 5 mil milhões de euros aos contribuintes holandeses. É verdade que o desemprego (600.000 pessoas) continua a preocupar sua alteza, mas dias não são dias...Uma "benesse",  a anunciar o "fim" da austeridade de anos recentes...Onde é que eu já ouvi isto?

            

2 comentários:

Carlos A. Augusto disse...

Muito boa série. Quando regressar à cidade onde nos conhecemos há já uns aninhos, levo novas e excelentes sugestões de visita (destes e de outros posts anteriores) que espero poder aproveitar. Obrigado camarada!

Rui Mota disse...

Diz-me quando, para ser o teu guia.