2015/07/06

The day after

Um dia após serem conhecidos os resultados do referendo grego, a especulação sobre o futuro do país continua a ser a questão dominante. Não é caso para menos, agora que o país fundador da democracia ousou votar maioritariamente contra as medidas de austeridade propostas pelos credores internacionais. Ao contrário do que (maliciosamente) sugerem alguns fazedores de opinião, a Grécia (os gregos) não votou contra a Europa, ou contra o Euro, mas contra o programa de austeridade que há cinco anos vem sendo imposto, sem qualquer resultado positivo. Mais, a situação na Grécia é, agora, muito pior que em 2010, com indicadores que não mentem, quanto ao drama humano e social que o país enfrenta: uma dívida pública equivalente a 166% do PIB, uma quebra de 25% do Produto Interno Bruto, 27% de desemprego estrutural nos adultos, 60% de desemprego jovem e emigração em massa para fugir à miséria. Paralelamente, e como resultado de tudo isto, um aumento exponencial da pobreza no país, devido aos cortes nos apoios sociais e subsídios de desemprego, que deixaram milhões de gregos sem qualquer seguro de saúde. Uma catástrofe humanitária de proporções desconhecidas na União Europeia, que levou o presidente do Parlamento Europeu a apelar a um programa especial de apoio urgente à população mais carente e, à presidente do FMI, a reconhecer o falhanço do programa de austeridade imposto pela Troika. Perante este cenário catastrófico, não devem ser considerados surpreendentes os resultados de ontem. Colocados entre a espada e a parede, os gregos escolheram a espada, preferindo combater pela sua dignidade e dando ao governo de Syriza, democraticamente eleito, a legitimidade que este necessitava para (re)negociar em Bruxelas uma nova proposta, que tenha em conta a situação-limite a que está sujeita a Grécia.
Independentemente de ter ganho o "não", a situação social e económica grega não melhorará substancialmente. Este é um dado adquirido, que os eleitores devem ter ponderado na hora da votação. Apesar de tudo, ousaram desafiar o poder financeiro, dando uma lição de coragem e democracia ao Mundo. Nada ficará como dantes, nesta Europa decadente submetida ao diktat alemão. À Grécia, o devemos. Não é coisa pouca.