2015/11/17

Da Hipocrisia

Foto Mint Press News


Sigo, como a maior parte das pessoas, as notícias sobre os atentados de Paris que, ao minuto, passam nos principais canais televisivos. As análises dos "experts" (poucos) e dos tudólogos (muitos) sucedem-se em catadupa. Passada a estupefacção e revolta iniciais, tentamos compreender as razões deste acto de terror gratuito, mais um, entre muitos, que se sucedem em todo o Mundo: Nova-York, Bali, Istambul, Madrid, Londres, Bombaim, Paris, Nigéria, Beirute, Bruxelas...
Aparentemente, todos estes actos, seguem um padrão semelhante, há muito tipificado pelos  estudiosos da matéria: puro terror, praticado por fundamentalistas psicopatas, sem qualquer objectivo relevante, que não seja provocar o medo e a insegurança. Através desta estratégia demente, crêem os seus autores poder destabilizar as sociedades democráticas, onde vivem e trabalham a maior parte das comunidades muçulmanas, esperando dessa forma um aumento da repressão por parte das autoridades desses países e a consequente revolta dessas mesmas comunidades, estigmatizadas devido aos actos dos fundamentalistas islâmicos. Porque, estes, não receiam a morte (praticam a auto-imolação), tornam-se mais perigosos e, por consequência, mais imprevisíveis. No fundo, é esse o verdadeiro terror, o medo do desconhecido. Relata-me uma amiga, a viver em Paris, que ontem, no metro, o silêncio era sepulcral. Os passageiros pareciam em estado de choque, olhando-se desconfiados e temerosos do que não podem controlar. Se esse for o estado de alma dos parisienses (e de outros cidadãos do Mundo) no futuro, podemos dizer que o terror ganhou. Voltarão os apelos aos líderes fortes e ao reforço das medidas autoritárias, sempre sugestivos em tempos de incerteza e insegurança, como aqueles que vivemos.
Perante tal cenário, não posso deixar de congratular-me com as medidas anunciadas pelo presidente Hollande, com a "pompa e a circunstância" que Versailles exige. Como deixar de aplaudir? Também os bombardeamentos executados pelos bombardeiros franceses na Síria, contra o quartel-geral do ISIS, me parece de louvar. Nem podia ser de outro modo. No meio de toda esta retórica, uma dúvida sistemática me assalta: mas, então, foi preciso um atentado destas proporções, para a França "descobrir" onde estava o "comando" do Estado Islâmico e bombardeá-lo? Porque não o fizeram antes? Porque esperaram para fazê-lo, agora que todos os argumentos jogavam a seu favor e a maior parte dos países europeus não hesitariam em apoiá-los?
Recordo os atentados contra o "Charlie-Hebdo", nesta mesma Paris, em Janeiro deste ano e a manifestação de líderes políticos de todo o Mundo, que marcharam de braço dado contra a barbárie. Muitos deles, ainda no poder, dirigem governos que continuam a vender armas a grupos terroristas que matam os cidadãos dos seus próprios países. A começar pela França que, ao apoiar os grupos "rebeldes" que combatem o regime de Assad, "alimenta" indirectamente grupos como o ISIS, responsável pelos atentados de Paris. Da mesma forma que a França, também os EUA, a China, a Russia, a  Inglaterra e a  Alemanha, vendem armas às ditaduras árabes (que apoiam os grupos terroristas) em troca de petróleo.
Sobre a hipocrisia destes políticos, e da política que praticam, estamos conversados.