2016/01/15

Taxi Driver (4)

Para onde?
- Para a Buraca...
Vamos lá ver se arranjamos um trajecto rápido...
- O melhor é ir por Monsanto.
Já estou a ver que sabe o caminho. Isto à sexta-feira é mais difícil. Muito trânsito, ruas cheias de buracos...olhe, mais um!
- Os buracos tapam-se, o trânsito é mais difícil.
Não custava nada. Eu tenho lá um cilindro em casa e uma misturadora para o alcatrão. Vou escrever ao Presidente da Câmara e propôr-lhe o negócio...ele alugava-me a maquineta  e eu andava aí a tapar buracos...
- Ao Medina?
Esse...
- Boa. Cada vez que passava por um buraco...pimba!
Pimba! Essa é muito boa...acha que ele aceitava?
- Sei lá, alguns políticos aceitam tudo e o seu contrário...
Pois é...mas, agora, como não há eleições, não precisam de tapar os buracos...
- Agora, estão mais preocupados com a 2ª circular e as árvores que lá vão plantar. Dizem que é para melhorar o meio-ambiente.
Não acredite nisso. São boatos para distrair o pessoal. As pessoas andam cheias de "stress" e é preciso distraí-las com alguma coisa. Se quisessem melhorar o ambiente, proíbiam os carros no centro.
- Ou isso, ou taxá-los como em Londres...
Andamos a dizer isso há anos. Taxavam os carros e criavam corredores para os táxis e para os autocarros. Quem quisesse, deixava os carros fora das cidades e vinha de autocarro.
- Pois, mas os interesses dos automobilistas falam mais alto e, taxar os automóveis, faz perder votos...
Claro, essa é que é essa! Andamos aqui que nem cordeirinhos...os gajos querem é que a malta se porte bem. Que nem cordeirinhos...Isto já é um "big brother". Estamos como no "1984", amigo...
- O livro?
Sim, do George...o Orwell. Leu? E os "Diários" dele (onde escreve sobre os ovos que contava todos os dias na quinta?). As galinhas eram os soldados dele, percebe? Vem daí a ideia da quinta e dos porcos...
- Estou a ver. Os "Diários" (!?), não li. Foi um escritor premonitório. Já estamos em 1984, de facto. Ele e o Huxley...
O do "Admirável Mundo Novo"?
- Sim, esse mesmo. Ainda escreveu uma sequela (Regresso ao Admirável Mundo Novo), mas não era tão boa. O Orwell e o Huxley são dois clássicos. Estão entre os meus favoritos.
Esse segundo livro, não conheço, mas já vi que é cá dos meus...
- Pois, mas isso foi nos anos 30 e 40, do século passado. Agora, com a internet, já andamos todos controlados.
Ah, pois é. O meu patrão sabe sempre (se quiser, claro) onde está este táxi. Estou sempre debaixo de olho...
- Claro, é como os Iphones, estão encriptados e têm um chip que assinala a sua localização.
Todos têm. Os Iphones e os outros telemóveis. Foi assim que eles apanharam os terroristas...
- Claro, agora é mais fácil, vai tudo para a NSA.
Na América, não é? Vi há tempos um filme sobre isso. Aquilo é que é uma bizarma, han? São milhões e milhões de dados, que são todos vistos à lupa...
- Todos, não direi, mas podem sempre fazer uma pesquisa mais direccionada, através de palavras-chave, ou de pessoas suspeitas...
Não foi assim que apanharam o Bin-Laden?
- Bom, que eu saiba, ele não usava telemóvel...mas, de facto, a versão oficial conta que foi através do telemóvel do seu "pombo-correio", quando este foi interceptado no Paquistão.  Depois, foi só seguir o "pombo-correio"... 
Está a ver?
- Até há um filme sobre isso. Se está interessado na história...
Ah, sim? Como se chama?
- "00.30: hora negra", baseado num livro do Peter Berger, que entrevistou o Laden para a televisão.
Entrevistou-o? Antes ou depois "daquilo"?...
- Penso que antes. Deve ter sido em finais dos anos noventa.
Isso é que eu acho uma estupidez. Esses gajos são uns estúpidos...é como o narcotraficante mexicano que foi apanhado.
- O "El Chapo"?
Esse. São todos uns vaidosos. Querem mostrar-se e dar entrevistas e, depois, pumba!
- Pois, parece que foi através de uma entrevista que lhe fez o Sean Penn, um artista americano...
Esses gajos não prestam. O Craig é que é bom.
- O Craig?...
Sim, o Bond. Transportei-o aqui, neste táxi, aí onde o senhor vai sentado. Estava alojado num hotel em Alcântara e eu fui chamado ao hotel. Quando o vi, conheci-o logo: James Bond!
- É um Bond simpático...
Diz o senhor...
- Nos filmes, pelo menos. Não o conheço pessoalmente...
Ah, pois, se o conhecesse...
- Bom, chegámos.
São 7.50euros. Tive muito prazer em falar consigo. Como se chama?
- Rui...
O meu nome é João. Tome lá o meu cartão, quando precisar de um táxi, já sabe...

Sem comentários: