2016/04/05

O filme

Cometeram um erro aqueles que votaram no professor Marcelo. As razões começam a tornar-se claras.
Num primeiro momento o actual PR surpreendeu-me, surpreendeu-nos, com um discurso apaziguador, bonacheirão e com uma postura mais descontraída que a do seu antecessor. Ilusão!
Para provar que não há motivos para surpresas ouçam-se as suas declarações de hoje, a propósito dos chamados Panama Papers. Falou em "fragilidades das democracias" e referiu que as revelações que estão a causar tanta agitação constituem "más notícias" para os defensores da liberdade.
É estranho porque, na minha opinião, ele deu um contributo decisivo, durante anos e de várias formas, para fragilizar a democracia portuguesa. Não conheço os dotes pedagógicos do professor.  Na minha própria prática pedagógica procuro seguir o princípio de que é meu dever fornecer aos alunos pistas para que possam pensar por si. Está assim proscrito do meu arsenal pedagógico a injeção gratuita de matéria e, sobretudo, a transmissão de ideias pré-fabricadas, com a consequente formatação ou condicionamento de uma capacidade autónoma de resposta.
Pelo pouco que percebi da intervenção pública do actual Presidente da República, foi o que ele fez durante anos, sem quartel. Isso sim, essa formatação do pensamento é que fragiliza a democracia. Cidadãos que não sabem pensar e que se apoiaram na homilia dominical para formar o seu comportamento cívico e político não podem construir uma democracia forte. Foi a prática do actual Presidente da República durante décadas. O seu contributo para fragilizar a democracia que temos foi, assim, decisivo.
Enalteceu o papel da imprensa na denúncia destes casos, mas creio que não será complicado demonstrar que a imprensa, no seu conjunto, é um dos agentes que mais desgraçadamente contribui para fragilizar a democracia. Citem-me um órgão de informação que mereça algum crédito! Marcelo sabe-o, de resto, bem.
Uma democracia fragilizada enfraquece a liberdade. Liberdade enfraquecida é má notícia para a democracia.
O projecionista enganou-se e colocou a bobine no projector ao contrário. E Marcelo veio contar mal o filme...

1 comentário:

Rui Mota disse...

Era expectável. A política de "afectos", servirá para enganar as "donas de casa" e as "tias" de Cascais, mas não passa disso mesmo: afectos.
Há sinais que não enganam: a 1ª visita de estado ao Papa, a quem beijou a mão (!?). Como se um chefe de estado tenha de beijar a mão a outro chefe de estado (Vaticano)! Ridículo, tanto mais que Portugal é uma República laica. Depois, o convite endereçado a Draghi para estar presente no 1º Conselho de Estado e falar da situação económica na Europa (!?). Desde quando houve presidentes do Banco Europeu, no Conselho de Estado? De uma subserviência sem vergonha.
O Costa (António) que "se ponha a pau" que, na primeira oprtunidade, o Marcelo dissolve o parlamento e tira-lhe o tapete...