2016/06/22

Encruzilhada Europeia


Na semana de todas as decisões, continuam a faltar soluções à Europa.
As medidas financeiras, anunciadas por Draghi, mostram-se insuficientes para relançar uma economia em crise desde 2009; a crise dos refugiados não desapareceu e foi oportunisticamente "entregue" à Turquia, sem que exista qualquer estratégia subjacente; os movimentos nacionalistas não páram de crescer, continuando a alimentar a xenofobia e o ódio contra as populações imigrantes, eternos "bodes expiatórios" das crises sociais; as dívidas soberanas continuam a estrangular e a impedir a recuperação das economias mais frágeis, como a de Portugal e a da Grécia, enquanto os movimentos independentistas e anti-partidos continuam a ganhar adeptos em Espanha e em Itália. Em França, os conflitos laborais tomaram conta do país, entretanto a braços com ameaças terroristas e com a organização do europeu de futebol, onde os acidentes com "hooligans" voltaram a ser notícia.
Veja-se o caso do Reino Unido, onde em vésperas do referendo, ainda não é certo se os britânicos ficam ou saem da União Europeia. Caso o "Brexit" ganhe, em que condições o farão? Abandonam todos os tratados, ou só alguns? E a Escócia? Manter-se-á no Reino Unido, ou convocará um novo referendo, com vista a tornar-se independente e, dessa forma, poder manter-se na UE?
Se o Reino Unido permanecer na UE, quais as contrapartidas exigidas por Cameron? Exigirá a limitação da entrada de refugiados e emigrantes, cedendo às exigências dos movimentos nacionalistas e independentistas ingleses? Que estatuto passarão a ter os imigrantes da UE, que residem no Reino Unido? Quais as consequências para as centenas de milhares reformados ingleses, que vivem noutros países da União e mantêm regalias adquiridas no seu país de origem?
Questões maiores, que preocupam os directamente interessados e às quais o referendo não dá resposta, pois os votantes não sabem sequer quais as consequências da sua votação.
Em Espanha, a convocação de novas eleições não contribuiu para a clarificação política e tudo indica que a previsível vitória do Partido Popular, não trará uma maioria absoluta necessária para governar. Registe-se a subida da coligação Unidos-Podemos que ultrapassará o PSOE, mas que não será suficiente para formar governo. Como ninguém quer governar com Rajoy, o impasse parece ser total. No meio de tudo isto, os sentimentos nacionalistas da Catalunha não abrandaram e a contestação a Madrid é mais forte que nunca, pondo em perigo a unidade do país.
Resta Portugal. No fim deste mês, o Eurogrupo reunirá de novo para apreciar a questão do "déficit" (ainda acima dos 3%) e quais as eventuais sanções a aplicar, caso o governo recuse aplicar novas medidas de austeridade. As perspectivas são moderadamente optimistas, com o governo a subestimar as críticas e o perigo de sanções, e os eurocratas a manterem a ameaça, por incumprimento das medidas exigidas. No limite, Portugal pode perder apoios financeiros, que limitarão os investimentos numa economia que não cresce. Sem crescimento económico, não há riqueza e, sem riqueza, não há investimento, distribuição e pagamento da dívida...
A coisa não está fácil e nem o Ronaldo nos safa. Não só não marca golos, como atira microfones de jornalistas para dentro de água (!?). No meio desta desorientação colectiva, resta Fernando Santos, que ainda acredita em milagres e, à falta de melhor, continua a gritar: "não percam a cabeça!".

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