2016/06/21

Taxi Driver (8)



Então, para onde vamos?
- Para a Buraca, pelo Monsanto...
Vamos tentar, mas olhe que isto, hoje, está tudo "entupido".
- Às sexta-feiras, é sempre assim...
Vamos tentar. Talvez pelas Amoreiras.
- Então?
Não me parece. Vamos até lá cima e viramos para Campolide. Está de acordo?
- Parece-me bem...
Eu dantes, vivia em Campo de Ourique, mas agora mudei-me para a Amadora. É melhor e mais calmo. Já lá mora há muito tempo?
- Há uns anitos, sim...
Conhece o "Panças"? Vou lá comer muitas vezes.
- Nunca lá fui.
Vive ali ao pé e nunca lá foi?  Não sabe o que perde. O cozido aos domingos, é espectacular. Eu como sempre o mesmo: "piano". Por 14euros, uma dose, que dá para três...
- Sim, por alguma razão tem sempre filas à porta...
Eu gosto mais de comer em casa. Como o que quero e posso repetir...Agora vou para casa jantar. Só trabalho à noite, para evitar o trânsito.
- Faz muito bem. Mas, se calhar tem menos clientes, ou não?
Sim, mas ganho mais. Já tenho clientes e hóteis certos. 
- Isso rende mais?
Claro. Os turistas, principalmente os russos e os angolanos, querem é borga e "strip-tease"...
- Gastam muito?
Se gastam muito? Fortunas! Olhe uma vez levei um suiço que queria duas prostitutas no quarto. Deu 800euros às duas! As brasileiras estão ricas. Conheço uma que já comprou uma herdade no Brasil e diz que, daqui a um ano, volta para lá, porque já não precisa de fazer esta vida...
- E você? Gosta do que faz?
Não é mau, por uns tempos. Mas, eu não quero fazer isto toda a vida. Já fui rico e agora tenho de cuidar da família.
- Donde é?
De Angola. O meu pai é branco e foi para África nos anos sessenta. Era militar. Em 1974, tivemos de sair de lá e viemos para Portugal. Graças a ele, ainda puderam vir mais famílias. Éramos ricos, tinhamos fazendas, muitos empregados e cinco carros...
- Estou a perceber. Agora é um imigrante. Eu também estive emigrado...
Ah, sim? Onde?
- Na Holanda. Muitos anos.
Também lá trabalhei. Em Roterdão. Uma vez, saí daqui às 7h da manhã, para chegar lá antes das sete da manhã do dia seguinte. Tinha um encontro com uma namorada. Eu sabia que a discoteca estava aberta até às 7h e, quando lá cheguei, ela ainda estava à minha espera...Estive um ano na Holanda. Não gostei. As pessoas são muito distantes, está sempre frio e a comida era má. Só me dava com cabo-verdeanos. Comia sempre em casa de africanos. Podemos não ter dinheiro, mas damos sempre abrigo a estranhos. Na Europa, já não é assim. Nem em Portugal. Se não tiver dinheiro, não tem amigos...
- É verdade, as pessoas são mais individualistas. Mas, também tem a ver com o apoio que o estado dá aos cidadãos. E como é em Angola?
Em Angola, é tudo da família dos Santos. Quando ele morrer, a filha herda tudo...
- Eu sei, já é a mulher mais rica de África...
Pois é. E está a comprar Portugal inteiro. Qualquer dia manda no país...
- É pena não ser mais generosa com o povo angolano. Um país tão rico, dava para todos...
Temos tudo, mas a riqueza está nas mãos de meia-dúzia de famílias. E olhe que há muito dinheiro. Há dias andei uma noite inteira com um angolano. Fomos jantar, depois levei-o a um clube de alterne, pagou champagne àquelas gajas todas, fomos a um "strip-tease" e acabou tudo num hotel. Gastou para aí uns 8000euros numa noite! Disse-me que, se eu quizesse, podia ficar com uma das prostitutas...
- Devia ganhar bem, o homem...
É avaliador de diamantes e vem à Europa todos os meses. Depois, quando está em Lisboa, e quer sair à noite, telefona-me do hotel...
- Isso é que é uma vida...Bom, estamos a chegar. Isto, hoje, levou mais tempo que o costume...
Desculpe lá, mas o trânsito não ajudava. São 16euros.
- Então, até à próxima.
Até à próxima. E, já sabe, não se esqueça de ir ao "Panças"...




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