2016/04/01

O Fardo do Homem Branco


O voto de condenação do julgamento dos jovens angolanos, apresentado pelo BE e pelo PS na Assembleia da República, chumbou devido à votação maioritária do PSD, CDS e PCP.  Nada que nos deva espantar.
Se a posição dos partidos de direita, pode fazer algum sentido, atendendo aos negócios angolanos em Portugal (há quem lhe chame "realpolitik"), o voto do PCP é de todo oportunista, ao recusar a condenação do regime cleptocrata e corrupto que governa Angola.
Os deputados do PCP fazem lembrar o soldado japonês (Hiroo Onoda), encontrado nas Filipinas em 1974, que não sabia que a guerra tinha terminado. Enviado para a ilha de Lubang, em 1944, com a missão de defender as bases japonesas no arquipélago, e resistir o tempo que fosse necessário, refugiou-se na selva com uma vintena de militares, que recusaram entregar-se em 1945 e  desconheciam Hiroshima e Nagasaki. Posteriormente, alguns dos membros deste grupo morreram,  ou entregaram-se às forças filipinas e regressaram ao Japão. Só Onoda ficou.
Em 1974, um jovem estudante japonês encontrou-o na selva filipina e comunicou o facto ao antigo superior militar de Onoda, o major Yoshimi Taniguchi, entretanto reformado. Este dispôs-se ir às Filipinas e ordenar, formalmente, a Onoda para depôr as armas e regressar ao Japão, única forma de este aceitar a "rendição".
Aparentemente, o PCP ainda não percebeu que a "guerra fria" acabou em 1989 e que o MPLA de Eduardo dos Santos, já não é o mesmo de Agostinho Neto (pró-soviético), que lutou contra o colonialismo português e foi apoiado pelos comunistas portugueses.
A justificação para tal acto, foi mais uma vez, o estafado argumento da "não-ingerência nos assuntos internos de uma nação amiga e independente" que, como sabemos, serve para justificar tudo e o seu contrário, inclusive o cinismo.
Outra interpretação possível, é o complexo de culpa de um país colonialista em relação ao país colonizado, mais conhecido no jargão antropológico por "white's man burden", o fardo do homem branco.