2017/06/29

More sheep than in Australia

Sábado de madrugada, após uma noite de fados na Mouraria.
Dirigimo-nos, eu e a minha hóspede de nacionalidade holandesa, para a Rua do Bem Formoso, também conhecida pela artéria mais multicultural de Lisboa, àquela hora já com poucas lojas de serviço abertas. A ideia era comprar uma garrafa de água, coisa aparentemente simples. Não conseguimos à primeira e tivemos de atravessar a Bem Formoso no sentido ascendente, até ao Largo do Intendente, que continuava animado. Após os "sightseeings" da praxe (no caso a instalação da Joana de Vasconcelos e a fábrica da viúva Lamego) lá conseguimos comprar a desejada garrafa a preço multicultural...Regressamos, agora através da Almirante Reis, à procura de um táxi. A minha amiga, queixa-se de uma dor na perna, entretanto desmesuradamente inchada e optamos por procurar uma farmácia para medir a tensão. Tudo fechado. De farmácias abertas, nem sinal.
Já na praça Martim Moniz, o almejado táxi. Entramos e enquanto relato ao taxista a dificuldade de encontrar uma farmácia aberta, este diz-nos que àquela hora só na farmácia em S. Mamede, a única que está aberta 24horas por dia. Para lá nos dirigimos. A porta estava fechada, mas o letreiro dizia "aberta". Após umas campainhadas, apareceu o farmacêutico. Fala através do intercomunicador e recusa-se a abrir a porta (!?). Teremos de ir a outra farmácia, diz-nos. Há uma à entrada do largo do Rato. Também aberta 24horas sobre 24horas.
Dirigimo-nos ao Rato. De facto, a farmácia exibia o letreiro "aberta", mas estava fechada. Mesma cena. O farmacêutico recusa-se a abrir a porta, invocando medidas de "segurança", enquanto aponta para uma câmara de televisão postada estrategicamente por cima da sua cabeça. Julgo estar num filme de ficção científica. Dirijo-me ao homem e explico-lhe que ele só tem de medir a tensão à minha amiga. O farmacêutico olha-me com ar aparvalhado e diz-nos não saber mexer no aparelho de medir a tensão que é novo (!?). Aconselha-nos a ir às urgências do hospital S. José, pois pode ser um problema cardiovascular...Volto ao táxi e peço ao motorista para inverter a marcha. Teríamos de ir às urgências. Passava da uma da madrugada, quando demos entrada no hospital de S. José.   
Nas urgências, o ambiente habitual de um sábado à noite: muitas gente jovem, alguns comas alcoólicos e um jovem esmurrado. Àparte isso, três ou quatro casais, aparentemente em sofrimento controlado. O jovem que nos atendeu, falava inglês e foi solicito e prático. Depois de fazer fotocópias dos documentos da minha amiga, chama-lhe a atenção para o facto do cartão de seguros internacional dela, se encontrar caducado desde 2011...Ups, ela nunca tinha reparado nisso! "No problem", sossegou-a o funcionário. Como se tratava de serviço público, ela só pagaria 18euros pela consulta e, depois, quando chegasse à Holanda, tinha de pedir um cartão novo e enviar-lhe rapidamente uma fotocópia, para ele substituir a fotocópia deste, por uma actualizada. De outra forma, teria de pagar 180euros...
Dirigimos-nos depois para o gabinete de triagem onde, após ouvirem a história clínica, lhe deram uma pulseira de cor-verde. Restava esperar...
Eram 7horas da manhã, quando saímos do hospital de São José. Nos intervalos, a minha amiga, foi vista duas vezes, a primeira por uma médica de clínica geral que lhe fez um exame sumário e, mais tarde, por um médico ciurgião cardiovascular, que sugeriu o seu envio para outra unidade hospitalar dentro do complexo do S. José, para ser sujeita a um teste intravenoso. Foi levada numa ambulância, enquanto eu fiquei à espera. Uma hora mais tarde, voltava com um relatório e uma receita passada pelo médico. Teria de mostrar o relatório ao médico de família, quando voltasse à Holanda e seguir a medicação. Aparentemente, tudo em ordem.    
Voltámos à recepção, onde o jovem que nos tinha atendido, continuava de turno. A minha amiga entrega-lhe o relatório do médico e pergunta quanto deve. O funcionário, abre o seu melhor sorriso, enquanto imprime um recibo e diz: "18euro".
"That cheap"? Pergunta admirada a minha amiga.
"Yes. More sheep than in Australia"!...
 

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