2017/08/03

Sinais Preocupantes

foto Raul Morgado
Algo está podre no reino da Dinamarca e os meses da "Silly Season" não explicam tudo.
Veja-se o caso dos fogos florestais: há décadas (pelo menos desde os anos sessenta do século passado) que a desertificação do interior português é um facto insofismável. O fenómeno tem vindo a aumentar exponencialmente e foi assinalado em dezenas de estudos e relatórios de "experts" das mais diferentes áreas: administração do território, engenheiros do ambiente, agrónomos, sivicultores, géografos, autarcas, economistas...
A desertificação é um dos problemas que está na origem deste flagelo cíclico, mas não é a única causa. Com o desaparecimento das populações (causado pela emigração em massa dos campos para o litoral e para o estrangeiro) nas décadas de sessenta e setenta, os campos deixaram de ser cultivados e o número de cabeças de gado (pastoreio) diminuiu igualmente. Com as terras abandonadas e sem agricultura/pastoreio, que as mantivesse produtivas, deixou de haver investimento nas zonas rurais, até porque as novas gerações (mais bem preparadas e a viverem em zonas urbanas) não voltaram para as suas localidades de origem, muito menos para os trabalhos agrícolas.
Os que mantêm casas, ou construíram de raiz novas casas, vivem muitas vezes no estrangeiro e só voltam em férias. Os que restam, estão cada vez mais velhos para poderem tratar das parcelas que ainda possuem.
Com a adesão de Portugal à (então) CEE, os terrenos agrícolas (até aí maioritariamente constituidos por uma agricultura de subsistência) foram abandonados (a troco de compensações monetárias) ou reconvertidos em culturas intensivas, que exigiram outro tipo de investimento e productividade. Ficaram as propriedades mais produtivas e diminuiu ainda mais a população agrícola. Sem outros meios de sobrevivência, muitos dos pequenos agricultores dedicaram-se à plantação de eucaliptos, por ser mais rentável e de fácil manutenção.
Acresce, que muitas dessas terras, para além dos eucaliptos, não possuem mais nada e o mato, em seu redor, cresce sem ser tratado. Não existem carreiros entre as árvores e, quando existem, estão muitas vezes cobertos de arvoredo, dado que ninguém trata deles. Porque são privados (97% do total florestado) o estado não pode obrigar os donos a fazê-lo, pois não possui um cadastro de terras actualizado. De resto, não existe cadastro de terras a Norte do Tejo!
Junte-se a isto tudo, a proverbial "falta de meios" humanos e materiais, de que todos os responsáveis se queixam, e começamos a ter uma ideia da situação a que chegámos.
Obviamente, que o calor e as médias de temperatura (a aumentar gradualmente) contribuem para este desastre anunciado. Aqui, a mão humana vale de pouco. Ou melhor, pode valer muito, se houver um consenso internacional que a isso obrigue.
Resta, contudo, uma questão central: se sabemos isto tudo, e os diagnósticos estão feitos, porque é que os gestores da coisa pública (governo, partidos, especialistas) não conseguem chegar a um consenso minímo para atacar este problema estrutural, que afecta não só uma das nossas maiores fontes de riqueza (a floresta), mas todo o país, a começar pelos seus cidadãos?
Outra questão, é a dos famigerados roubos de armas (em Tancos e não só) que regularmente têm lugar e sobre os quais, para além das medidas mais óbvias, pouco ou nada se sabe e, quando se sabe algo, as respostas são tão evasivas e ridículas (veja-se o caso do responsável do SIS que soube do roubo pela comunicação social!) que não sabemos se rir se chorar.
Finalmente, que este "post" já vai longo: ontem despenhou-se uma avioneta na praia de S. João da Caparica quando tentava aterrar na areia (!?). Morreram duas pessoas (entre as quais uma criança de oito anos) que estavam na praia. Podiam ter morrido dezenas. Nos minutos que antecederam o acidente, o piloto comunicou com a torre de comando (Tires) anunciando a pane, enquanto pedia autorização para aterrar...na praia! Ia a cerca de 300 pés (500 metros) que é, de acordo com os "experts", a altura média daquele "corredor" de voo, para não colidir com os aviões de carreira que voam mais alto...Mas passam todos os dias, por ali, dezenas de avionetas. Há anos! Por cima de uma praia, para mais cheia (às 4 horas da tarde) em pleno mês de Agosto. Mas, então, o avião não podia voar por cima do mar, ou o "corredor" é assim tão estreito que as avionetas de treino só podem passar por cima das praias? E o piloto, não podia ter tentado a amaragem no oceano? É a opinião de muitos "experts", de resto. Podia morrer? Claro que podia. E, então? Já nem comento o texto da "pivot" da SICn que, no fim da notícia, dizia que "a avioneta estava intacta e só tinha uma asa partida" (!?). Só tinha uma asa partida? Mas esta gente ensandeceu?
Nem tudo se pode evitar, certamente. Mas, não podemos prever estas e outras coisas, bem mais graves, e estabelecer regras mínimas que reduzam a possibilidade de existirem tais acidentes? Ou isto é tudo "inevitável"? Ou somos todos irresponsáveis, ainda que uns mais que outros, como é óbvio? Não quero acreditar que sejamos assim tão maus.     

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