2013/05/29

Não há PIB que nos salve...

Abro a televisão e deparo-me com Victor Gaspar, numa comissão parlamentar que dá pelo sugestivo nome de “Comissão eventual para o acompanhamento das medidas do programa de assistência financeira a Portugal”. Um título que é todo um programa...
Ouço a intervenção do ministro que, no tom monocórdio a que nos habituou, vai debitando números e pareceres do governo, para sustentar a sua visão do Mundo e uma realidade que, aparentemente, só na sua cabeça continua a existir.
Por coincidência, a estação televisiva onde vejo a emissão passa, em simultâneo num roda-pé, as conclusões mais significativas do último relatório da OCDE relativas ao nosso pais. E o que diz o relatório deste organismo internacional, que tem a confiança do governo?
Que a dívida pública vai ser de 130% do PIB (superior às previsões do governo); que a recessão vai ser de 2,7% (superior às previsões do governo); que o défice vai ser de 5,6% (superior às previsões do governo); que o crescimento vai ser de -0,6% (inferior às previsões do governo) e que o desemprego vai ultrapassar os 19% (superior ás previsões do governo). Ou seja, falharam todas as previsões deste executivo!
Perante tal disparidade de conclusões, pergunto-me o que pensarão os especialistas da matéria, face a uma realidade que não se compadece com análises macroeconómicas, independentemente do que delas possamos pensar, uma vez que estas são diariamente desmentidas pelo quotidiano que nos rodeia.
E das duas uma: ou andamos todos com o passo trocado e Gaspar é a única pessoa no pais a marchar correctamente: ou o nosso ministro das finanças perdeu de vez o (pouco) contacto com a realidade, como vem sendo sistematicamente denunciado à esquerda e à direita, inclusive por insuspeitos economistas internacionais, como foi o caso do Nobel Paul Krugman, ainda esta semana no NYT.
O país está exangue, as pessoas desesperadas e, pior do que tudo isto, não há uma réstia de esperança nesta estratégia suicida que nos conduz para o abismo.
Como tenho vindo a escrever neste blogue, não me parece que Gaspar seja um palhaço.
Gaspar é apenas o peão de uma estratégia internacional desenhada em Berlim, que tem o apoio do BCE, da Comissão Europeia e do FMI, com o objectivo último de desregular as relações laborais em Portugal e, dessa forma, reduzir as “benesses” de um estado social considerado muito generoso e impeditivo de podermos fornecer mão-de-obra mais barata para competir com os países emergentes.
Acontece que, nem a desvalorização do preço do factor trabalho será alguma vez suficiente para poder competir com os países asiáticos, nem a economia será competitiva enquanto o consumo não for estimulado. Logo, enquanto a economia não crescer significativamente, coisa que não está a acontecer, nem em Portugal, nem em nenhum pais da UE, à excepção da Alemanha, onde esse crescimento é de apenas 0,1%., muito aquém dos míticos 4% do século passado...
Como se este quadro não fosse, já por si, suficientemente negro, fomos nos últimos dias confrontados com o “debacle” do clube que, supostamente, mais contribui para o PIB nacional. O Benfica é, por estes dias, a metáfora perfeita do país. Quem o declarou foi esse insuspeito “lampião” que dá pelo nome de António Mexia, o executivo mais bem pago da EDP, a empresa que mais ganha com o fornecimento da luz que nos ilumina.