2014/01/01

Num ano para esquecer, filmes para recordar


Num ano que não deixou grandes recordações, as melhores foram cinematográficas.
Pese embora o decréscimo global do número de espectadores, que estará na origem do encerramento de duas salas de referência como o King e o Londres, para além da crise na Cinemateca (que continua ameaçada na sua existência por falta de financiamento estatal), a verdade é que este foi um ano "vintage" no que ao cinema diz respeito. Dos muitos filmes vistos e visionados, alguns foram mais marcantes que outros. Eis aqui a minha lista, necessariamente sucinta e não necessariamente por ordem de preferência:
"Viagem a Tóquio" de Yasujiro Ozu
"O Gosto do Saké" de Yasujiro Ozu
"China - Um toque de pecado" de Jia Zhang-Ke
"Norte, The End of History" de Lav Diaz
"Django Libertado" de Quentin Tarantino
"O Mentor" de Paul Thomas Anderson
"Vénus de Vison" de Roman Polansky
"Não" de Pablo Larrain
"Barbara" de Christian Petzold
"Hannah Arendt" de Margarethe von Trotta
Juntem-se a estas estreias absolutas, as reposições de clássicos como "Lawrence of Arabia", "Psico", "2001, Odisseia do Espaço", "O último ano em Marienbad", "Casablanca",  "Hiroxima, mon amour", as colectâneas em DVD de Béla Tarr e Aleksandr Sokurov (provavelmente os maiores cineastas europeus vivos), a reedição de "Shoah" de Claude Lanzmann e a recente "A História do Cinema: uma odisseia" de  Mark Cousins, e teremos uma idéia do que foi o grande cinema em 2013. Muitos destes filmes ainda "andam" por aí e, não vê-los, seria imperdível.

2013/12/31

Um ano para esquecer

Não foi um bom ano, este que agora termina.
A "crise" não é com certeza uma figura de estilo e instalou-se definitivamente na sociedade portuguesa. Basta atentar nos índices de desemprego, nas falências de empresas, na perda de poder de compra da maioria dos cidadãos, no aumento dos programas caritativos, nos níveis da emigração ou na dívida pública galopante, para não termos quaisquer ilusões relativamente ao que nos espera.
Pesem os tímidos sinais de recuperação (exportações e fim da recessão técnica), argumentos que o governo tenta explorar demagogicamente, é por demais evidente o empobrecimento generalizado da população, confrontada com o maior ataque aos direitos adquiridos desde o 25 de Abril.
A inconstitucionalidade destas medidas é, de resto, de tal forma evidente, que os chumbos do Tribunal Constitucional passaram a ser a regra em lugar da excepção.
E, no entanto, nada parece demover o governo neste caminho para o desastre anunciado. A estratégia delineada em 2011 continua a ser aplicada, segundo o princípio "estado mínimo, mercado máximo", que não deixará pedra sobre pedra quando a Troika abandonar o país ou, lá mais para a frente, quando a coligação governamental for, eventualmente, derrotada nas urnas.
Mas, mesmo que isso se verifique, qual será o cenário pós-eleitoral?
Nada nos garante que, nessa altura, o partido vencedor (seja ele qual for), possa sequer aplicar uma política radicalmente diferente daquela que tem vindo a ser utilizada. A razão é simples: o país estará, então, de tal forma exangue e a economia de tal forma destruída, que levará anos (uma década, segundo Stiglitz, prémio nobel da economia) a recuperar...
Um cenário à imagem da superfície lunar, onde a paisagem é constituida por rochas onde nada cresce. Será esse o nosso destino colectivo, se nada fizermos para o evitar. Será portanto, esta, a nossa maior e mais importante tarefa em 2014: evitar o desastre anunciado.
Bom ano!