2008/06/27

Frankenstein em Harare

Morgan Gabriel Mugabe (1924) governa o Zimbabwe desde 1980. Tornou-se famoso na década de '60, depois da nomeação como secretário-geral do Zimbabwe African National Union (ZANU). Nos anos sessenta e setenta, Mugabe esteve preso na (então) Rodésia, governada por Ian Smith. Deixou o país em 1976, para juntar-se à luta de libertação do Zimbabwe que operava a partir de Moçambique. Com o fim da guerra, em 1979, Mugabe regressou ao Zimbabwe, onde foi considerado herói africano. Ganhou as primeiras eleições livres de 1980, no meio de inúmeras intimidações feitas pelas tropas que o apoiavam. Apesar dos seus apelos iniciais, para respeitarem a minoria branca, as relações com o Reino Unido nunca foram pacíficas.
Os primeiros anos de mandato foram marcados por violentos combates contra a tribo Ndebele, a segunda maior etnia zimbabuana, liderada por Joshua Nkomo, seu aliado na luta contra o colonialismo britânico. Afastado Nkomo (entretanto falecido) passou a governar o país sem oposição.
Desde 1988 que as políticas de Mugabe vêm sendo denunciadas, no Ocidente e no seu país, como sendo racistas.
Mugabe expropriou e expulsou milhares de agricultores brancos das suas terras, que foram entregues a antigos combatentes da ZANU. A produção de cereais, algodão e tabaco, que fizeram do Zimbabwe o "Celeiro de África", caíu abruptamente, provocando um exôdo rural sem precedentes e obrigando o país a importar a sua alimentação. Para fazer face à diminuição de divisas, Mugabe mandou cunhar trilliões de dólares zimbabuanos, provocando uma inflação sem procedentes que, praticamente destruiu todo o tecido económico. Milhares de zimbabuanos viram-se obrigados a emigrar para a África do Sul e Moçambique. Foi ainda acusado de perseguir, torturar e matar os seus oponentes políticos, nomeadamente do MDC que, contra ele, se apresentaram a eleições.
A todas as críticas, Mugabe responde que "se trata de um complot branco neo-colonialista" e que "os problemas do Zimbabwe, são uma herança do imperialismo".
No passado 3 de Abril, a Comissão Eleitoral do Zimbabwe anunciou a vitória do MDC para as eleições da Assembleia Nacional, por 47,9% contra 43% do ZANU. Porque nenhum dos partidos obteve a maioria simples, é necessário haver uma segunda volta. Mugabe atrasou a divulgação dos resultados e recomeçou a repressão contra os seus opositores. A segunda volta foi anunciada para hoje, mas perante o clima de terror instaurado, o principal líder da oposição, Morgan Tsvangirai, recusou participar naquilo que considera uma "farsa eleitoral" e refugiou-se na embaixada da Holanda.
As imagens, divulgadas pelas televisões internacionais, mostram um povo aterrorizado por um déspota tresloucado que há décadas governa o país com mão de ferro. À falta de melhor epíteto, Desmond Tutu (Nobel da Paz) chamou-lhe, esta semana, o "Frankenstein africano". O monstro de Mary Shelley tem um seguidor à altura.