2008/02/29

Outra Ana

Outra Ana, desta vez de Benavente, resolveu partir a louça. Disse ela que se fosse professora estava na primeira fila das manifestações contra a Ministra da Educação, contra o seu próprio partido. O governo reagiu.
Anda qualquer coisa de verdadeiramente obsceno no ar.
Ao olhar para os cacos que se vão espalhando um pouco por todo o lado, ao observar as acções e o comportamento do governo e das oposições (ontem na AR, por exemplo, foi um autêntico festival!), ao verificar o que vai fazendo mover a política e os políticos, ao ouvir as reacções dos poderosos quando são colocados na iminência de ter de prestar contas, ao sentir a auto-complacência da imprensa, mas, sobretudo, quando vamos nós fechar as contas no término de mais um dia, ficamos com uma fortíssima sensação de enfartamento.
Um sensação que não é afinal tão difusa como pretende o relatório da SEDES.
Num primeira tempo, constatamos que com simples Rennies a coisa, como é óbvio, já lá não vai. Vem então a convicção que teremos de passar rapidamente a uma terapêutica mais agressiva...

2008/02/24

Ana e o cilindro

Há entrevistas assim. A de Ana Gomes à RR, que ontem passou na RTP2 e hoje pode ser lida no "Público", é uma delas. Das entrevistas e das entrevistadas. Marcantes. Resta saber o que acontecerá agora.
Diz Ana, entre outras coisas, que há muito mais dados sobre os voos de prisioneiros da CIA (para Guantanamo) para serem tornados públicos e que este é um processo imparável, como as desculpas do governo inglês de Gordon Brown já o provaram. Não compreende, por isso, que o governo português actual (defensor dos direitos humanos, como ela gosta de frisar) não queira e até impeça um inquérito aberto e profundo sobre tão delicada matéria. Porque é disso que se trata. Uma matéria delicada para Portugal, cujas relações com os EUA o governo do PS não se atreve a pôr em causa.
Mas Ana diz mais: que o acordo da utilização da base das Lajes nos Açores, apesar de existir desde os anos cinquenta, nunca foi ratificado pelos americanos. Os sucessivos governos portugueses (de Salazar a Sócrates) sempre assinaram, mas os EUA não assinam. Limitam-se a utilizar a base (que é nossa). Extraordinário.
Sobre as suas opiniões, e como são vistas dentro do partido a que pertence, não podia ter sido mais esclarecedora: "Começaram por tentar comprar-me dizendo: 'Vê lá se não queres ir para a próxima lista (do PE)'. Depois, era a intimidação, as acusações de deslealdade. Agora estamos noutra, a que quase chamaria de cilindragem. A menos que me passem com um carro por cima, eu não paro". Uma mulher de coragem, a Ana.
Só que, depois, "borra a pintura toda", ao dizer: "Tenho dito que o primeiro-ministro tem sido mal informado e mal aconselhado nesta matéria". Oh Ana, mal aconselhado nesta matéria? O Sócrates? O condutor do cilindro?
E eu que estava a gostar tanto da entrevista...