2013/02/15

Esta gente não se aguenta!

É oficial: a politica seguida pelo governo falhou.
 Os números não mentem e, contra números, falham todos os argumentos. O número de desempregados atingiu a fasquia “record” de 920.000 cidadãos inscritos nos centros de desemprego, o que corresponde a 16,9% da população produtiva do pais (ou seja, 1 em cada 5 portugueses está, neste momento, desempregado). Destes, 43% já não recebem qualquer tipo de subsídio ou apoio. Entre os desempregados, 40% são jovens, abaixo dos 34 anos. Se contabilizarmos os desempregados não-inscritos, o total rondará 1,4 milhões, uma cifra nunca atingida em Portugal desde que há memória estatística.
A montante (et pour cause) a queda do crescimento económico é agora de 3,2% do produto, em comparação com o período homólogo, enquanto o crescimento, propriamente dito, não sobe acima dos 0,2% do PIB. Porque uma má notícia nunca vem só, as exportações (essa ilusão macro-económica dos economistas que nos governam) perdeu o balanço que sustentava algum optimismo e, como as economias do Euro começaram a abrandar, compram agora menos às periferias e afectam directamente a nossa balança de pagamentos. “Mutatis-mutandis”, dado que a economia não cresce, não são criados empregos e, sem empregos, não há poder de compra para sustentar a economia, nem dinheiro para pagar os subsídios e apoios sociais de todo o tipo, enquanto a dívida soberana continua a aumentar e a ser paga aos credores.
A jusante, as sequelas começam a ser visíveis a olho nu e já não são necessárias estatísticas para nos convencerem do fosso em que caímos:
As prestações das casas deixaram de ser pagas aos milhares (7.800 no último ano) e, com a nova lei de arrendamentos, este número vai certamente aumentar. No seu relatório anual, publicado no “Público” de hoje, a Caritas revela que 28,6% das crianças portuguesas (mais de 1/4 da população infantil!) estava em risco de pobreza ou exclusão social, número que, provavelmente já aumentou desde então.
As filas, nos centros sociais e nos bancos alimentares, aumentam diariamente e as corridas às reformas dispararam em todos os sectores. Os mais aptos e qualificados procuram saída através da emigração e o desespero instala-se nas famílias sem qualquer perspectiva de futuro. Começa a ser preocupante o número de homicídios e suicídios na sociedade portuguesa, que não podem nem devem ser desvalorizados ou desligados da realidade social actual.
Perante esta verdadeira calamidade social, que faz o governo? Defende a sua politica prometendo-nos um dia melhor (quando?) talvez lá para 2014 ou 2015, se as condições se inverterem, com o argumento que temos primeiro de pagar aos credores (a juros que estes determinam) para dessa forma provarmos ser bem comportados e merecermos a sua condescendência.
Obviamente que ninguém acredita neste “promissor futuro” e, mesmo admitindo que daqui a um ano ou dois as perspectivas mudavam, só um desmiolado acredita que depois de três anos de uma politica de terra queimada, alguma coisa vai subsistir na actual economia. A verdade é que nada vai ser como dantes e todas as conquistas (ordenados, meses-extra, apoios sociais, educação, serviço nacional de saúde, etc.) vão acabar.
E porque a economia vai ser destruída, o governo que se seguir (seja ele do PS, ou outro), não terá outra alternativa a não ser manter a situação neste nível de indigência a que os actuais governantes nos conduziram. É este o dilema. Quanto mais tempo aguentarmos Passos Coelho e a Troika, pior será o nosso futuro.