2017/03/16

Holanda: da vitória dos liberais à derrota dos populistas


Na Holanda, o partido VVD (direita liberal) venceu as eleições, perdendo deputados (tem agora 31); enquanto o partido PVV (extrema-direita populista) perdeu, ganhando deputados (tem agora 19).
À esquerda, o grande perdedor foi o PvDA (trabalhista), com apenas 9 deputados eleitos; enquanto o partido Groenlinks (Verdes) viu quatriplicar os seus representantes (de 4 para 16) podendo ser considerado o grande vencedor da noite.
Bons resultados, foram igualmente obtidos pelo CDA (democrata-cristão) que tem agora 19 deputados e pelo D'66 (centristas liberais) que obteve 19 lugares. Ambos poderão fazer parte do próximo governo, que necessita de um apoio mínimo de 76 deputados no Parlamento.
Tudo aponta para um longo período de formação governamental, uma vez que, tradicionalmente, não há maiorias absolutas na Holanda e o partido vencedor necessitar agora de 4 ou mais partidos para obter a maioria necessária.
Resumindo: a Holanda irá provavelmente conhecer um governo mais à direita, já que coligação entre os liberais (VVD) e os sociais-democratas (PvDA) deixará de funcionar, devido à estrondosa derrota dos sociais-democratas (perderam 29 lugares). Quanto às hipóteses de Wilders vir a governar, nunca se pôs, uma vez que o "cordão sanitário" criado contra o seu partido, impedia à partida qualquer acordo.
Resta acrescentar que a vitória dos liberais (e da direita em geral) é também uma consequência da recuperação de alguns temas da direita xenófoba e islamofóbica do PVV, como a luta contra a criminalidade atribuida à comunidade muçulmana e aos últimos acontecimentos de Roterdão, quando o primeiro-ministro foi lesto a proibir um comício turco, o que lhe valeu ganhar uma popularidade que estava a perder nas sondagens. A derrocada do PvDA era esperada e deve ser lida como uma penalização dos seus eleitores pelas políticas de austeridade levadas a cabo pelo governo cessante (do qual fazia parte), nomeadamente nos sectores da saúde, no apoio aos idosos, na educação e no emprego jovem. Também aqui, a colagem dos sociais-democratas às políticas neoliberais da direita, não deu frutos e por isso quase desapareceram (efeito Pasok).
Para alguns imigrantes na Holanda (entre os quais um conhecido escritor) que votaram em Wilders por acreditarem estar a votar contra o sistema, uma má notícia: ainda não foi desta que o fascismo passou.        

2017/03/12

Eleições holandesas: teste ao populismo



No ano de todas as eleições, a Europa terá o seu primeiro grande teste de 2017 na Holanda, onde, no dia 15 de Março, haverá eleições legislativas.  
Depois dos resultados, algo surpreendentes, do "Brexit" e da vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas, as atenções viram-se agora para a Europa que conhecerá, este ano, três actos eleitorais considerados determinantes para o futuro europeu: na Holanda, em França e na Alemanha, todos países fundadores da União.   
No fundo, trata-se de saber se os resultados do Reino Unido e dos EUA, ainda que por razões diferentes, confirmam (ou não) uma tendência internacional que muitos apelidam de populismo, neste caso de direita.
Pesem as especificidades de cada país e os temas dominantes das respectivas campanhas eleitorais, existem traços comuns possíveis de identificar: desde logo, o apelo ao proteccionismo económico em resposta à liberalização dos mercados (que conduziu ao aumento das desigualdades, fruto de desinvestimento nas sociedades ocidentais e da deslocação do capital para países de mão-de-obra barata) com o consequente aumento do desemprego interno (é o caso dos EUA); depois, o apelo ao nacionalismo, como resposta ao crescente centralismo e burocracia do "diktat" de Bruxelas, em cujos métodos grande parte dos países membros não se revêem (são os casos do UK, França e da Holanda); finalmente, o medo do terrorismo islâmico, potenciado pelas recentes vagas de refugiados de países muçulmanos em guerra (como é o caso na UK, França, Holanda e Alemanha).
Não é, pois, de admirar, que em todos estes países, tenham surgido políticos de verbo fácil e discurso demagógico que "cavalgam a onda" da insatisfação (e ignorância) de uma parte significativa das populações, desiludidas por anos de promessas e há muito desconfiadas das "elites" que os governam, a quem acusam de as terem descartado.
Em tempos de incerteza social e competividade no mercado de trabalho (ao qual, muitos destes deserdados da riqueza nacional já não voltam, por serem preteridos por estrangeiros e pela globalização actual) fácil é arranjar "bodes expiatórios", agora que os refugiados chegados à Europa recebem auxílio e são mais um factor da pressão social existente. Juntem-se os atentados dos últimos anos em França, na Bélgica e na Alemanha, todos eles perpretados por residentes nesses países (ainda que com nacionalidade europeia) e temos assim reunidos os elementos para uma "tempestade perfeita". Líderes como Farage no Reino Unido, Le Pen em França ou Wilders na Holanda, são apenas três exemplos desta corrente nacionalista e proteccionista, anti-União e islamofóbica, que ganhou espaço na arena política. Todos eles usam os estrangeiros como moeda de troca, acusando os seus governos de os acolher e proteger, em detrimento dos nacionais, assim como todos eles agitam o espantalho do terrorismo islâmico, como prova última dos perigos inerentes à entrada de mais muçulmanos no espaço europeu.
O discurso xenófobo não se limita, de resto, aos países citados, mas a outros países membros da União Europeia, como a Hungria e a Polónia, onde governos de direita já alteraram as constituições e construiram muros para evitar a entrada de refugiados, numa clara subversão dos valores democráticos e humanistas que deviam prevalecer na Europa. Resta acrescentar, que o actual fenómeno nacionalista e populista na Europa, também foi sendo alimentado por politicas erráticas e pressupostos falsos, dos quais não podem ser excluídos os partidos e governos sociais-democratas que, nas últimas duas décadas, vêem pactuando com as políticas de compromisso que contribuiram para a despolitização e exclusão crescente de grande parte das populações nestes países.
A três dias das eleições holandesas, as possibilidades do partido PVV (extrema-direita, islamofóbica) ser o partido mais votado, são praticamente as mesmas do VVD (liberais de direita, actualmente no governo) que, até este fim-de-semana, tinha uma ligeira vantagem nas intenções de voto. Os grandes penalizados, serão os partidos da esquerda, o PvDA (Partido Trabalhista) e o SP (Socialistas), assim como o D'66 (centristas). O CDA (Democrata-Cristão), ainda que bem posicionado, deve ficar fora do pódio vencedor. Resta acrescentar, que o PvDA e o CDA, partidos que historicamente têm feito parte da governação, foram os "construtores" do Estado Social na Holanda, hoje parcialmente desmantelado pela austeridade e pelos cortes orçamentais dos últimos anos, o que pode explicar muito da insatisfação na sociedade holandesa. Neste contexto, o partido GROENLINKS (Esquerda Verde) uma coligação formada nos anos '90 pelo Partido Comunista, pelo Partido Pacifista e pelo Partido Reformador, a subir exponencialmente nas sondagens, pode tornar-se um dos partidos mais votados nestas eleições, com grande probabilidade de entrar no próximo governo. Uma coisa, parece certa: independentemente de ser (ou não) o mais votado, o partido de Wilders - que este fim-de-semana pode ter ganho novo alento devido aos incidentes entre a comunidade turca e a polícia holandesa de Roterdão - não deverá entrar para o governo. Os restantes partidos já declararam não querer governar com este partido xenófobo e islamofóbico. Dada a composição do actual parlamento (150 lugares) que pode vir a eleger 14 bancadas partidárias, é de esperar um longo período de formação governamental, cujo gabinete poderá ser composto por 4 ou mais partidos.
Na próxima quarta-feira, saberemos mais.