2017/05/08

França: a vitória do liberalismo e a derrota do fascismo


Sem surpresa, Emmanuel Macron, o candidato liberal pró-europeu, ganhou à candidata xenófoba e nacionalista, Marine Le Pen. Os números não enganam (66,1% contra 33,9%) ainda que todas as sondagens apontassem nessa direcção, muito antes da segunda volta. Ou seja, os franceses votantes (75%) nunca tiveram muitas dúvidas nas suas escolhas.
Ao contrário de muitas opiniões democratas, que receavam uma repetição do fenómeno Trump na Europa (com nefastas consequências para o projecto europeu), teriam sido precisamente as "gaffes" de Trump que serviram de vacina nestas eleições. Outra questão, que não deve ser escamoteada, é a consciência política do francês médio, quando comparada com a politização na sociedade americana e, finalmente, o modelo das eleições francesas a "duas voltas", o que permite um melhor sistema de "pesos e contrapesos" nas escolhas políticas. Nada de novo na frente ocidental, desta vez.
A meio de um ciclo de escolhas, que podem ser determinantes para o futuro da Europa e do Mundo Ocidental no seu todo, o balanço é, para já, o seguinte:
Duas eleições negativas (no sentido regressivo do termo) com o "Brexit" britânico e a escolha do imprevisível Trump; e duas eleições, onde ganhou o "mal menor" (na Holanda e em França) com escolhas sempre discutíveis, mas que, no curto prazo, podem assegurar maior democracia e afastar os representantes do fascismo (Wilders e Marine Le Pen) do poder.
Já da Polónia e da Hungria, onde as políticas autoritárias e xenófobas ganham terreno, continuam a  não vir boas notícias; enquanto da Austria, pese o aumento da influência da extrema-direita, tivemos a boa notícia da vitória do candidato presidencial, um veterano democrata e ecologista. Algo é algo.
Restam dois países-chave nesta equação, a Alemanha (que vai a votos no Outono) e a Itália, que pode ir a votos, caso o impasse político, originado pela demissão do primeiro-ministro depois de um referendo falhado, não seja resolvido a contento.
Resumindo e concluíndo: a vitória de Macron pode ter tirado um peso da consciência dos franceses e europeus que receavam um regresso às ideias nacionalistas e xenófobas mais retógradas (Marine é uma fascista assumida, como o debate com Macron confirmou), mas o "ovo da serpente" foi chocado e existe. Dentro de cinco semanas, terão lugar as eleições legislativas francesas e, depois da implosão dos partidos do centro (socialistas e republicanos), restam apenas a Frente Nacional (o maior partido em votos) os "insubmissos" de Mélechon  e os apoiantes do "En Marche!" de Macron. É pouco, como forças partidárias organizadas. Resta esperar que a esquerda francesa tenha aprendido com o susto e saiba extrair daqui as lições para o próximo acto eleitoral. De Macron, e da eventual "co-habitação" que venha a surgir após as eleições de Junho, ainda é cedo para extrair conclusões. Para já é o que temos. Podia ter sido pior.