2019/07/20

Taxi Driver (19)


Para a Buraca, se faz favor...
- Para a Buraca?
Sim, para a Buraca.
- Qual o caminho que quer tomar?
Costumo ir pela Avenida do Uruguay, Gomes Pereira, Estação de Benfica, Rua da Venezuela e depois, lá em cima, no Círculo de Leitores, à esquerda...
- Tem mesmo a certeza que quer ir por aí?
Tenho.
- Não sei se podemos passar na Gomes Pereira. Está tudo em obras. Mas pode ser que já tenham terminado.
Pois, também não sei. Não passo lá há mais de 15 dias. Mas, vamos tentar e logo se vê...
- É que, depois, temos de dar uma grande volta...
Logo se vê, há muitas alternativas.
- Andamos às voltas e o táxi a contar...
Não se preocupe, eu sei o caminho.
- Assim, andamos às voltas e não apanhamos fregueses...
Qual o problema? O senhor está a facturar e eu a pagar, certo?
- Há colegas meus que andam às voltas, só para ganhar mais uns tostões...
Eu sei, mas não se preocupe. Também há motoristas sérios.
- Mas, é que depois andamos para aqui às voltas...
Ó homem, se a Gomes Pereira estiver fechada, vamos por outra rua...
- O senhor é que sabe...mas, vamos dar uma volta muito grande.
Não faz mal. Não tenho pressa.
- Está a ver? (pára o carro, ao ver o trânsito cortado na Gomes Pereira, em obras).
Não há problema, vira à esquerda para a estrada de Benfica, passa em frente ao Fonte Nova e vamos pela 2ª circular. É sempre a direito e não há semáforos...
- Se quer assim, mas é uma grande volta...
Não esteja preocupado. Vamos lá chegar. Todos os caminhos vão dar a Roma...
- Os táxis fizeram-se para andar e apanhar fregueses, não para andar às voltas...
Mas, o senhor está a andar, o taximetro está a contar e eu a pagar. Qual o problema?
- Esta coisa de andar ás voltas...eu conheço taxistas que andam às voltas só para enganar os turistas...
Claro, mas nem todos os taxistas são aldrabões. O senhor, por exemplo, é uma pessoa séria.
- Sim, mas a verdade é que indo por aqui damos uma volta maior.
Sim, são mais 500 metros, se tanto. Não é importante.
- E agora? (pára em frente à estação de Benfica, na faixa errada).
Agora, tem de passar para a faixa da esquerda, senão é obrigado a voltar para trás e isso, sim, é uma volta desnecessária.
- Aqui não posso mudar de faixa. Tem traço contínuo. Se a polícia me vê...
Penso que, se fizer sinal, o carro de trás espera. Estamos num semáforo.
- Nunca fiando (sai do carro e analisa a situação).
Então?
- Não quero arriscar. Imagine que a polícia me vê! Era logo multado.
Bom, nesse caso terá de dar a volta. Agora, é que começamos a andar às voltas...
- Não esteja preocupado. Desligo já o táximetro. Não paga mais nada.
Acho bem
- Vejo que o senhor sabe. É uma pessoa séria.
O senhor também. Eu já lhe tinha dito isso. Assim, ninguém fica prejudicado. Está a ver?
- Bem, a verdade é que demos uma volta muito maior e os táxis fizeram-se para apanhar fregueses.
Sim, o que seria dos taxistas sem clientes. Mas, nestas coisa, nada como a transparência, sabe. A honestidade, paga sempre. Eu só volto às lojas que me tratam bem.
- E agora?
Agora, é sempre em frente, até ao sinal de trãnsito. Pode parar aí.
- Obrigado. Desculpe a maçada, mas eu não queria que desse uma volta maior...
Está desculpado.